Há uma regra não escrita no mundo da tecnologia doméstica: se a Dyson lança um produto novo, ele vai ser caro, vai ter um design que parece ter saído de um filme de ficção científica dos anos 1970 e, invariavelmente, vai obrigar o resto do mercado a “correr atrás do prejuízo”.

Com o novo Dyson V16 Piston Animal, a marca britânica tenta resolver uma das maiores queixas dos utilizadores de aspiradores sem fios: o depósito que enche demasiado depressa e a “nuvem de pó” que se gera quando o tentamos esvaziar.

A solução faz parte do nome do modelo: Piston (pistão). Não, não é um motor a gasolina, mas sim um mecanismo deslizante que empurra e comprime a sujidade, prometendo triplicar a capacidade real do depósito. Usei a versão mais completa, a V16 Piston Animal Submarine (que inclui a cabeça de lavagem), ao longo das últimas semanas. E se há coisas que me deixaram de queixo caído, outras fizeram-me levantar o sobrolho — especialmente quando olhamos para a etiqueta de preço de 999 euros (ou 849 euros se prescindir do sistema de lavagem).

Engenharia ou marketing?

À primeira vista, o V16 mantém o DNA visual da marca, com os seus ciclones coloridos e aspecto industrial. Mas o corpo principal é ligeiramente mais alongado. É aqui que vive a grande novidade técnica: o sistema CleanCompaktor. Ao contrário dos modelos anteriores, onde abríamos o fundo do depósito e esperávamos que a gravidade fizesse o seu trabalho (muitas vezes ajudando com os dedos para tirar aquele cotão preso), aqui existe uma alavanca física.

A ideia é simples: conforme aspiramos, podemos accionar um manípulo que empurra um disco interno, comprimindo o cotão e o pó no fundo do reservatório. A marca alega que isto permite armazenar até 30 dias de sujidade sem esvaziar.




O sistema de compactação do lixo é daquelas ideias “ovo de Colombo”. Tem duas vantagens: aumenta a capacidade e torna o processo de despejo do lixo bem mais higiénico
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Confesso que encarei este sistema com o meu habitual cepticismo. “Mais uma peça móvel para avariar”, pensei eu. Mas, na prática, a satisfação é inegável. Ao empurrar a alavanca vermelha, senti uma resistência mecânica sólida que compactou um monte de pêlos da minha cadela e pó num disco denso e pequeno.

Isto muda a experiência de utilização de duas formas. Primeiro, aspirei toda a casa três vezes antes de sequer pensar em esvaziar o depósito. Segundo, o momento do esvaziamento é muito mais higiénico. Em vez de uma nuvem de pó fino voar para a minha cara ou para o chão acabado de limpar, o que cai no lixo é um “tijolo” compacto de sujidade. Para quem sofre de alergias, esta diferença representa qualidade de vida.

Outra funcionalidade útil que os utilizadores da marca já conhecem: a luz verde que faz sobressair qualquer partícula de pó. Uma luz que chega a ser irritante, já que revela que um chão que parecia limpo a “olho nu” afinal está bem sujo. E também fez-me descobrir um sem número de riscos no pavimento.

Contudo, nem tudo são rosas na ergonomia. O sistema de encaixe dos acessórios foi redesenhado e os botões de libertação rápida parecem um pouco mais rígidos do que nos modelos V15 ou Gen5. Além disso, o peso de 3,5kg (com a bateria e a escova principal) faz-se sentir no pulso após 20 minutos de utilização contínua. Quando acabamos de aspirar, sentimos que fomos ao ginásio!




O sistema de escovas tem a vantagem de lidar muito bem com pêlos e cabelos longos, mas o formato dificulta a aspiração junto das paredes e cantos. O kit de limpeza incluído tem um módulo que se adapta bem aos cantos, mas não é prático estar a mudar o acessório
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Potência bruta

Vamos aos dados técnicos, traduzidos para português corrente. A Dyson equipou o V16 com o novo motor Hyperdymium de 900W, capaz de gerar 315 “air watts” (AW) de sucção.

Para que o leitor tenha uma base de comparação, um aspirador sem fios de gama média de uma marca concorrente costuma rondar os 150 AW, e o anterior topo de gama da Dyson (o Gen5detect) andava pelos 280 AW. Estamos a falar de uma força bruta que, teoricamente, consegue arrancar pó entranhado em carpetes espessas que outros aspiradores nem sabem que lá está.

O sistema de filtragem HEPA promete reter 99,9% das partículas até 0,1 mícrones, o que significa que o ar que sai do motor é, tecnicamente, mais limpo do que o ar da sala que estamos a respirar.

Activei o modo “Boost” para testar estes 315 AW num tapete de entrada que costuma ser o pesadelo de qualquer aspirador. A sensação é de que a escova fica quase “colada” ao chão tal é a força de sucção. E ao aspirar uma zona com um tapete de borracha fina, este tapete era “agarrado” pelo aspirador, sendo quase impossível fazer a limpeza.

O sensor piezoeléctrico (que conta as partículas de pó e ajusta a potência automaticamente no modo Auto) continua a ser uma das funcionalidades favoritas. É quase gamificar a limpeza: ouvimos o motor acelerar quando passamos numa zona mais suja e desacelerar quando está limpo. O que transmite uma sensação de eficácia, que nos pareceu se traduzir numa eficiência real.




O módulo de lavagem do chão faz um bom trabalho, mas exige algum tempo para a manutenção (lavagem da escova e mudança de água)
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No entanto, a nova escova principal, embora excelente a evitar que os cabelos se enrolem (e confirmo, nem os cabelos compridos das três mulheres da casa ficaram presos), tem um perfil frontal ligeiramente mais alto. Isto dificultou a aspiração de alguns detritos maiores (como cereais matinais) quando encostada frontalmente aos rodapés. Tive de levantar ligeiramente a escova ou atacar a sujidade de lado. É um pormenor irritante numa máquina deste preço. Outra desvantagem do formato do módulo de escova, que tem uma frente ligeiramente pontiaguda, é a dificuldade em aspirar junta da parede e nos cantos. A potência já referida compensa, em parte, esta limitação, mas é uma limitação.

O módulo Submarine lava mesmo ou só molha?

A versão de 999 euros inclui a cabeça Submarine. É importante esclarecer: o Dyson V16 não aspira água para dentro do motor principal (isso destruí-lo-ia). A cabeça Submarine é um circuito fechado: tem um depósito de água limpa, um rolo que é humedecido, esfrega o chão, e uma lâmina que retira a água suja para um depósito separado na própria cabeça.

Se está à espera de algo que limpe uma poça de lama ou um ovo partido no chão, esqueça. O depósito de água suja é pequeno e enche rápido.

Mas, para a manutenção semanal do chão flutuante ou tijoleira, é francamente impressionante. Consegui remover manchas de café secas e pegadas de sapatos com apenas uma passagem, sem deixar o chão encharcado. O facto de usar sempre água limpa (ao contrário de uma esfregona que estamos sempre a mergulhar num balde de água suja) nota-se no acabamento: o chão fica sem marcas.


A chatice? A manutenção. No fim da limpeza, temos de desmontar a cabeça, lavar o rolo e os depósitos. Um processo que demora uns bons cinco minutos. Se a ideia for poupar tempo, torna-se mais rápido recorrer a esfregona tradicional só para não ter o trabalho de limpar o Submarine a seguir. Recomendamos à Dyson o desenvolvimento de uma base para o aspirador capaz de tratar da lavagem, preferencialmente a quente, das escovas.

Autonomia e acessórios

A marca anuncia 70 minutos de autonomia. Como sempre, este valor é medido no modo “Eco” e sem escovas motorizadas.

Nas nossas medições, utilizando o modo “Auto” (que é o que a maioria das pessoas deve usar) e alternando entre piso duro e carpetes, medimos uma média de 45 a 50 minutos. Notámos que este modo ficou ainda mais eficiente após uma actualização do firmware, processo que é realizado através da aplicação disponível para smartphone.

A autonomia é suficiente para uma casa de 120 metros quadrados, mas se abusar do modo “Boost”, a bateria drena em menos de 15 minutos. Felizmente, a bateria é extraível, pelo que se tiver uma casa muito grande, pode considerar comprar uma segunda bateria (embora custe uma pequena fortuna).

Um ponto de verificação de factos crucial que o consumidor deve saber: os acessórios do V16 não são compatíveis com os modelos anteriores. A Dyson mudou o mecanismo de encaixe. Se tem um V10 ou V11 e uma caixa cheia de acessórios extra, não os poderá usar neste novo modelo sem um adaptador (que não vem incluído). É uma decisão que penaliza a fidelidade do cliente. Por outro lado, o kit de limpeza incluído na caixa já trás todos os acessórios importantes.

Veredicto

O Dyson V16 Piston Animal é, sem margem para dúvida, uma peça de engenharia extraordinária. A potência de sucção de 315 AW é quase um exagero e o sistema de compactação de pó resolve, de facto, um problema real de higiene e conveniência.

No entanto, o novo design da escova dificulta a limpeza dos cantos e junto das paredes (ou rodapés). E a incompatibilidade com acessórios antigos é frustrante.

Deve comprar? Sim, se ainda não tem um bom aspirador vertical, tem animais de estimação, sofre de alergias severas e o processo de esvaziar o pó é um tormento para si. O sistema de compactação é o melhor do mercado. Se tem muito pavimento duro, a versão Submarine substitui competentemente a esfregona para a limpeza do dia-a-dia.

Não, se já tem um Dyson V15 ou Gen5. As melhorias de potência são imperceptíveis na prática diária para a maioria das casas, e o sistema de compactação, embora funcional, não justifica o investimento de quase mil euros numa troca.

O V16 Piston posiciona-se como o Ferrari dos aspiradores: rápido, potente, cheio de tecnologia, mas talvez um pouco excessivo para ir apenas comprar pão à esquina. Se o orçamento não for problema, é a melhor experiência de limpeza sem fios que pode comprar hoje. Se o racional pesar mais, os modelos anteriores continuam a ser excelentes máquinas e estão agora a preços mais convidativos.


Tipo

Aspirador vertical sem fios (com opção de lavagem)

Tecnologia e filtragem

14 ciclones concêntricos, distema de filtragem HEPA (retém 99,9% de partículas até 0,1 mícrones), sensor Piezoeléctrico para ajuste automático de sucção

Motor 

Dyson Hyperdymium de 900W, rotação até 135.000 rpm

Potência de sucção: 315 Air Watts (AW)

Depósito

Sistema mecânico CleanCompaktor (compactação de sujidade), esvaziamento higiénico

Escovas 

Aspiração: Escova Digital Motorbar (anti-emaranhamento), Escova Fluffy Optic (com detecção de pó por luz)

Lavagem: Cabeça de rolo molhado Dyson Submarine (apenas na versão completa)

Bateria

Autonomia: Até 70 minutos (modo Eco), aprox. 45 min (modo Auto)

Carregamento: 4,5 horas, bateria de encaixe (extraível)

Conectividade

App MyDyson (monitorização de histórico de limpeza e guias de manutenção)

Dimensões e peso

1276x250x276 mm (aproximado), 3,5 kg (com escova principal)

Preço

899 euros (999 euros com módulo de lavagem Submarine)