De acordo com uma notícia avançada pelo britânico The Telegraph, a proposta de paz de Donald Trump deverá ser entregue formalmente no Kremlin nos próximos dias. Putin há muito que pressiona para o reconhecimento legal dos territórios ucranianos que a Rússia ocupou à força. Entre eles estão a península da Crimeia, no sul do país, anexada em 2014, e a região de Donbass, no leste, que Moscovo ocupa na sua maior parte atualmente.


O plano inicial de Trump previa entre 28 pontos, a entrega da maioria dos territórios conquistados pela Rússia nos últimos anos. Foi contudo modificado para 19 pontos, mais favoráveis aos ucranianos, após protestos da União Europeia e de Kiev, que acusaram Washington de capitular perante Moscovo.


Devido sobretudo aos esforços europeus, o plano norte-americano passou a admitir um maior número de efetivos militares ucranianos e modicou a abragência dos termos de amnistia inicialmente previstos.


As questões de cedência territorial e da adesão da Ucrânia à NATO deveriam ser negociadas depois entre Washington e Kiev.


A iniciativa de Washington, que parece assumir como certa a entrega dos territórios ocupados à Rússia, poderá por isso desconcertar os ucranianos, que se preparam para continuar a negociar.


“Portões do inferno”


Esta sexta-feira, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, anunciou que terão lugar em breve reuniões entre autoridades ucranianas e americanas sobre propostas para pôr fim à guerra com a Rússia. 


Num discurso vídeo à nação, durante o qual confirmou a demissão do seu chefe de gabinete, acusado d corrução, Zelensky afirmou que altos funcionários ucranianos em representação das Forças Armadas, do Ministério das Relações Exteriores e da inteligência, participarão das conversações sobre como encerrar o conflito, que se aproxima de sua marca de quatro anos.

Reagindo à notícia avançada pelo Telegraph, Maria Drutska, uma antiga diplomata ucraniana, sublinhou os perigos da violação das legislação internacional de proteção da soberania estatal.

Numa publicação na rede X, Drutska escreveu, “se isto for verdade, se os EUA estiverem dispostos a permitir que fronteiras sejam redesenhadas à força e que os agressores sejam recompensados, então os portões do inferno estão prestes a abrir-se. Esta poderá ser a decisão mais desestabilizadora e geradora de conflito do século XXI. Um verdadeiro Black Friday.”


Para os europeus, a apresentação formal do plano a Moscovo, é um péssimo sinal. Uma fonte próxima do processo sublinhou ao Telegraph que “é cada vez mais claro que os americanos não se importam com a posição europeia”. “


“Dizem que os europeus podem fazer o que quiserem”, acrescentou.


Só Rússia e EUA

O Kremlin confirmou por seu lado que, até à chegada da delegação norte-americana a Moscovo, prevista para a próxima semana, a Rússia deverá ter mais informações sobre os pontos acordados no plano de paz proposto, informou a agência de notícias Interfax.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, acrescentou que Moscovo está a trabalhar com a premissa de que está a negociar o plano exclusivamente com os Estados Unidos.

O presidente Vladimir Putin reiterou quinta-feira as suas principais exigências para o fim da guerra na Ucrânia, afirmando que a Rússia só deporá as armas se as tropas de Kiev se retirarem do território reivindicado por Moscovo.

Para Kiev, que descartou abdicar das partes do Donbass que ainda controla, recompensar a Rússia pela sua agressão é inaceitável.

Após o discurso de Putin, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que a Rússia “despreza” os esforços “para pôr realmente fim à guerra”.