O incêndio que deflagrou num complexo residencial em Tai Po, Hong Kong, esta quarta-feira (26) já se encontra extinto e o número de vítimas mortais continua a aumentar, atingindo as 128 esta sexta-feira (28), um valor que pode vir a subir, visto que cerca de 200 residentes do edifício continuam desaparecidos dois dias depois do “incêndio mais mortal em décadas em Hong Kong”, avança o The New York Times.

Com mais de 70 pessoas hospitalizadas, algumas em condição crítica, o secretário de segurança de Hong Kong, Chris Tang, relata ao jornal americano que a equipa de resgate retirou mais de 100 corpos do complexo residencial, mas que dentro do prédio existiam ainda restos mortais carbonizados, pelo que apenas 39 vítimas foram identificadas até ao momento.

Dentro do complexo, algumas zonas registam ainda temperaturas de cerca de 200 graus Celsius, adiantou o comissário da polícia Joe Chow, pelo que as autoridades não puderam ainda levar a cabo a devida investigação no interior do edifício. Os bombeiros continuavam a despejar água nestas áreas de modo a prevenir um reacendimento.

Os familiares reúnem-se numa comunidade próxima, onde lhes são mostradas fotografias das vítimas de modo a que possam ser identificadas, e outros aguardam ansiosamente no exterior do complexo.

O grande incêndio, o maior em Hong Kong desde 1948 (quando ainda era uma colónia britânica), ano em que 200 pessoas morreram num incêndio num armazém, teve início num prédio de 32 andares e rapidamente espalhou-se por seis torres vizinhas. Chris Tang denuncia que o fogo terá tido origem em material de construção inflamável, nomeadamente um manto utilizado para cobrir o edifício enquanto eram levados a cabo trabalhos de requalificação e espuma de poliestireno, que protegia as janelas e acabou por fazer com que sobreaquecessem, partindo os vidros e permitindo que as chamas tomassem conta do interior.

Entre as vítimas estava um bombeiro de 37 anos, Ho Wai-ho, conforme dá conta o The New York Times, um veterano de guerra que colapsou entre as chamas e terá morrido entretanto, já no hospital. “Os bombeiros tiveram de ir a cada andar e a cada unidade para apagar os fogos e conduzir as operações de segurança”, contou o secretário de segurança, que deu ainda conta da dificuldade das operações, acrescida pelos objetos que bloqueavam o caminho e pelas canas de bambu a arder que caíam ao chão.

Andy Yeung, diretor do serviço de bombeiros, respondeu ao criticismo que vinha a ser feito ao modo como foi feito o combate às chamas, apontando que os meios aéreos (helicópteros) não teriam sido eficazes uma vez que deixariam cair a água desde uma altura demasiado elevada e teriam um efeito de ventoinha que propagaria as chamas até mais longe, acrescentando que os camiões com escadote não seriam também uma alternativa viável tendo em conta o pouco espaço disponível.

Dois diretores e um consultor ligados à empresa de construção, que terão instalado os materiais, foram detidos esta quinta-feira (27), investigados por homicídio culposo e negligência grave, e 11 outros projetos de construção em prédios residenciais onde a empresa também estava a atuar estão a ser investigados.

O governo de Hong Kong, escolhido pela China apesar de continuar a ser uma comunidade semiautónoma, afirmou que cancelaria todas as “atividades públicas não essenciais” de modo a devotar o seu tempo e recursos ao auxílio das vítimas do incêndio e às suas famílias. No próximo mês, a 7 de dezembro, Hong Kong terá eleições para o Conselho legislativo, que John Lee, Chefe do Executivo, já admitiu poderem ser adiadas na sequência do incêndio.

A comunidade tem-se organizado num centro próximo às torres, onde foram dispostos mais de 100 colchões no chão, caixotes de roupa para crianças e cartazes informativos onde se explica como aceder aos fundos de emergência providenciados pelo governo. Cerca de 500 residentes estão atualmente distribuídos por nove centros de acolhimento temporário e o Governo já comunicou que atribuiria um subsídio de 10.000 dólares de Hong Kong (cerca de 1100 euros, na cotação atual) a lares afetados e um fundo separado de cerca de 4220 euros “para dar assistência aos residentes e auxiliar com o trabalho associado”, cita o jornal.

Texto escrito por André Sousa e editado por Mariana Adam