O major-general Arnaut Moreira acredita que os Estados Unidos da América (EUA) não vão desembarcar em território venezuelano para invadir o país, mas considera que esta atitude pode abrir um precedente perigos na geopolítica internacional.

Depois de Donald Trump ter anunciado uma intervenção militar terrestre na Venezuela, Arnaut Moreira, especialista em geoestratégia, diz que essa ofensiva deverá ter apenas como alvo as bases onde atuam as redes de narcotráfico.

“A leitura que eu faço é que será um ataque sobre bases terrestres ligadas aos cartéis de droga. Não necessariamente uma invasão terrestre com tropas no terreno. Isto significa que os EUA, da mesma maneira que têm do ponto de vista naval intercetado um conjunto muito significativo de barcos que aparentemente estarão ligados aos cartéis de droga, que estariam agora disponíveis para um sinal que é bastante mais assertivo”, disse Arnaut Moreira à TSF.

E complementa: “Eu não estou a ver que se trate aqui de operações terrestres no sentido clássico do termo, com um desembarque, com invasão, com ocupação territorial, mas vejo aqui isto como uma extensão daquilo que têm sido as intervenções conduzidas pela força aeronaval que passam a ter como alvos um conjunto de instalações que aparentemente que tenham sido eventualmente identificadas como estando ao serviço dos cartéis. Eu estou a falar em instalações como depósitos, pistas aéreas, aviões civis estacionados nessas pistas.”

O major general Arnaut Moreira considera que essa eventual ofensiva dos EUA abre um precedente perigoso na geopolitica mundial.

“Se os EUA se sentem no direito de bombardear a Venezuela com base nesta questão dos cartéis, isto permite muitas outras extrapolações no sistema internacional, portanto, podem estar a validar um outro tipo de intervenção a que nós normalmente não estamos acostumados. Pode de alguma maneira abrir aqui um precedente que permita interpretações de aplicação de força mais liberais sobre os territórios soberanos dos vários estados”, argumenta.

Caracas já agradeceu “todas as manifestações de solidariedade” da Rússia, país com o qual, sublinha o governo venezuelano, há uma relação “irreprimível” e “indestrutível”.

“A Rússia não tem capacidade nenhuma de intervenção de natureza militar fora daquilo que são os seus avanços de cem metros e 150 metros diários. Isto é, a Federação Russa não foi capaz de intervir em auxílio do Irão, já perdeu a Síria, está a perder influência no sul do Cáucaso, no Azerbaijão e na Arménia. Portanto, a capacidade de a Federação Russa ir em auxílio da Venezuela é muito pequena”, considera Arnaut Moreira.

O major-general acredita que eventualmente podem ter viajado militares russos para dar instrução militar na Venezuela.

“Aquilo a que assistimos – e essa é a minha interpretação pessoa, porque nós também não temos acesso a toda a intelligence que é produzida nestes casos – é que houve eventualmente um conjunto de voos feitos a partir de África e que podem ter pegado naquilo que são as forças que em alguns países de África, forças russas que estão ligadas à parte da instrução, que possam ter levado eventualmente instrutores para dar instrução militar àquilo que foi uma espécie de mobilização da população feita por Maduro”, conclui.