A Estação Espacial Internacional (ISS, em inglês) completou em novembro 25 anos desde que passou a ser ocupada continuamente por humanos. Desde que a humanidade passou a chamar o espaço de lar pela primeira vez, a estrutura modificou a ciência.

A ISS é um dos projetos de pesquisa mais ambiciosos do planeta. Lançada em 20 de novembro de 1998 e ocupada continuamente desde o ano 2000, a estação já custou mais de 150 bilhões de dólares, aproximadamente o PIB anual de toda a região Norte do Brasil.

A nave que conquistou o espaço

Em altos e baixos e várias mudanças na política de cooperação que permitiu que ela saísse do papel, a estação entra agora em sua fase final, com planos de ser desligada até 2030. Para especialistas ouvidos pelo Metrópoles, porém, ela já permitiu à ciência encontrar os caminhos para fazer possíveis missões de longo prazo à Lua e Marte.

“Graças à ISS, temos conhecimento e tecnologia muito mais avançados para a manutenção da vida no espaço. Com ela, conseguimos manter vários indivíduos por vários meses, quase um ano no espaço”, explica o astrofísico Thiago Gonçalves, diretor do Observatório do Valongo da UFRJ e apoiado pelo Instituto Serrapilheira.

Desde 2000, o laboratório em órbita recebeu mais de 290 pesquisadores visitantes de 26 nações, incluindo o brasileiro Marcos Pontes, que viajou à bordo de uma nave russa.

A missão atual da estação é a expedição 73. Desde as missões de 2001, quando o astronauta Robert Curbeam fez um registro de si mesmo realizando seus trabalhos, mostrar rotina no espaço também se tornou parte comum do projeto, com transmissões ao vivo frequentes.

A circulação constante de equipes, porém, foi interrompida diversas vezes por falhas tanto da manutenção do projeto quanto da exploração espacial, com repetidos casos de astronautas que ficaram presos na ISS por semanas e até meses a mais do que o planejado.

“Embora esses erros não devessem ter acontecido, eles não são algo completamente inesperado. O ambiente na ISS segue sendo de altíssimo risco e as dificuldades de manter as equipes lá ainda revelam o que temos a aprender para estações e laboratórios futuros”, indica Gonçalves.

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MetrópolesAgências espaciais ainda estudam qual o futuro da Estação Espacial Internacional1 de 5

Agências espaciais ainda estudam qual o futuro da Estação Espacial Internacional

ReproduçãoOs quatro membros da Crew-10 (de macacão azul) e os sete membros da Expedition 72 se encontram no espaço, após cápsula da SpaceX atracar na Estação Espacial2 de 5

Os quatro membros da Crew-10 (de macacão azul) e os sete membros da Expedition 72 se encontram no espaço, após cápsula da SpaceX atracar na Estação Espacial

Divulgação/NASAEsteira adaptada para corrida na Estação Espacial sendo usada pela astronauta Suni Williams, que ficou mais de 600 dias em órbita no espaço3 de 5

Esteira adaptada para corrida na Estação Espacial sendo usada pela astronauta Suni Williams, que ficou mais de 600 dias em órbita no espaço

Divulgação/ISSAstronautas chegam à estação espacial a bordo da cápsula da SpaceX em 20214 de 5

Astronautas chegam à estação espacial a bordo da cápsula da SpaceX em 2021

Reprodução/NasaImagem de astronauta caminhando fora da Estação Espacial Internacional5 de 5

Imagem de astronauta caminhando fora da Estação Espacial Internacional

Divulgação/NASA
Descobertas obtidas na ISS

Do ponto de vista científico, a ISS é um excelente ambiente já que quase não possui gravidade, o que altera os resultados de experimentos, especialmente da física, graças à ausência de forças que façam interferências.

“Lá conseguimos eliminar a interferência da atmosfera. Existem alguns experimentos de detecção de matéria escura e de observação do espaço onde você precisa eliminar alguns tipos de raios cósmicos que se espalham na nossa atmosfera e deixavam a observação quase borrada”, exemplifica Gonçalves.

A estação serve também para experimentos de medicina e biologia. Um experimento de grande impacto da ISS foi o dos irmãos dos gêmeos Scott e Mark Kelly. Basicamente, a ideia era deixar um gêmeo na Terra o outro no espaço e observar durante quase um ano os efeitos de viver em microgravidade.

Scott, o gêmeo que foi ao espaço, teve alterações em seu organismo que foram desde mudanças no comprimento dos telômeros (a porção final da cadeia de DNA), até uma redução de 7% de sua massa corporal, mesmo mantendo a nutrição controlada da estação.

“Nos surpreendeu que ele teve muita degradação óssea nos primeiros meses, mas isso depois se estabilizou e ele ganhou mais vitamina B9 no espaço que na Terra, sem que fosse suplementado na alimentação. Essas mudanças são estudadas até hoje, mas o estudo com os Kelly nos permitiu entender que a vida no espaço pode ser possível”, explicou a pesquisadora Susan Bailey, coordenadora do estudo, ao site da Nasa.

O futuro da ISS

Embora a estação como conhecemos esteja caminhando para o fim, já está no horizonte dos principais países exploradores do espaço construir uma nova, o que ainda envolve, porém, muita negociação.

É certo que ter uma estação no espaço é importante para treinamentos e até para lançamentos de missões de larga duração no espaço. Além disso, como a estrutura da ISS é modular, parte pode ser reaproveitada e expandida quando for momento de lançar foguetes a partir dela, um futuro que Thiago acredita que chegará.

“Para missões de longo prazo, a ISS é fundamental como um ponto intermediário em que as naves possam reabastecer e passar por reparos antes de seguir ao destino final, além de ser também um local para voltar emergencialmente caso os planos não corram como o esperado. Além disso, economicamente é mais barato lançar um foguete sem a resistência do ar, gasta-se menos combustível”, conclui ele.

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