Um tribunal da Moldova condenou esta terça-feira a líder regional pró-Kremlin, Evgenia Gutul, a sete anos de prisão por canalizar dinheiro da Rússia para financiar um partido político, acusações que Gutul nega.

Evgenia Gutul, crítica do actual Governo pró-europeu da Moldova, que vai realizar eleições parlamentares em Setembro, visitou várias vezes Moscovo para se reunir com responsáveis do Kremlin, uma das últimas em Março de 2024, altura em que se encontrou com Vladimir Putin. Meses depois, participou no Fórum Económico Internacional de São Petersburgo.

O seu nome consta das listas de sanções da UE e dos EUA por suspeita de desestabilizar a Moldova e os procuradores pediam uma sentença de nove anos de prisão, acusando a responsável de canalizar fundos não declarados para a Moldova entre 2019 e 2022, enquanto desempenhava funções de secretariado, para financiar o agora proibido partido pró-Moscovo Shor, fundado por Ilan Shor, um oligarca pró-Rússia exilado e condenado por fraude. Shor foi sentenciado a 15 anos de prisão por estar ligado ao desaparecimento de mil milhões de dólares (866 mil milhões de euros) do sistema bancário da Moldova em 2014-2015.

Gutul, que foi detida no aeroporto de Chisinau na noite de 25 de Março enquanto tentava deixar o país, também era acusada de colaborar com um grupo criminoso organizado e de ajudar a organizar protestos antigovernamentais na capital do país, Chisinau, no Outono de 2022. Outro político pró-Rússia, Alexei Lungu, foi abordado pela polícia no aeroporto de Chisinau no fim de Março e informado que não poderia deixar o país por estar a ser investigado pelas autoridades. Dois outros parlamentares pró-Rússia, também acusados de corrupção, desapareceram no mesmo mês. Todos os suspeitos ou acusados eram associados do magnata Ilan Shor.

O Kremlin já reagiu à sentença, afirmando que a Moldova violou “as regras e normas da democracia” ao condenar a líder regional e apelidou a sentença de “politicamente motivada”, segundo disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

Mais de 100 pessoas reuniram-se em frente ao tribunal, em Chisinau, para apoiar a líder regional e exigir a sua libertação.

Gutul, que poderá recorrer da sentença, foi eleita governadora de Gagauzia,​ uma pequena região autónoma cujos 140 mil habitantes são, na sua maioria, turcos, em Julho de 2023, como candidata do partido Shor. Gagauzia fica no sul da Moldova e faz fronteira com a região de Odessa, na Ucrânia. Desde a independência da Moldova, em 1991, que as relações com as autoridades centrais se têm revelado difíceis, já que a maior parte dos habitantes dá preferência aos laços estreitos com a Rússia.

Ameaça de interferência russa nas eleições

No mês passado, a Presidente da Moldova, Maia Sandu, alertou que a corrupção eleitoral e o financiamento externo ilegal proveniente da Rússia constituem as maiores ameaças às eleições parlamentares marcadas para 28 de Setembro, acusações que Moscovo nega. Na mesma altura, a Comissão Eleitoral Central da Moldova recusou este mês registar o bloco Vitória, de orientação pró-russa, formado em 2024 e apoiado por Shor, actualmente foragido, alegando violação das leis de financiamento eleitoral. Shor classificou a decisão como absurda.

A votação poderá ditar a perda da maioria parlamentar pelo Partido da Acção e Solidariedade (PAS), liderado por Sandu, na assembleia do antigo Estado soviético situado entre a Ucrânia e a Roménia. “A Federação Russa quer controlar a República da Moldova a partir do Outono, e está a preparar uma interferência sem precedentes nas eleições de Setembro”, declarou Sandu, em conferência de imprensa em Chisinau.

Quatro partidos pró-russos anunciaram a formação de um bloco com o objectivo de vencer as eleições e derrubar o Governo, que se mantém comprometido com a adesão à União Europeia até 2030.

As relações entre a Rússia e a Moldova têm-se deteriorado desde que o executivo moldavo acelerou o processo de integração europeia. “O maior perigo da interferência da Rússia nos nossos assuntos internos é que representa uma ameaça directa à segurança nacional, à soberania e ao futuro europeu do nosso país”, sublinhou Sandu.

A Moldova acusou igualmente a Rússia de interferir nas eleições presidenciais e no referendo sobre a adesão à União Europeia, realizados no ano passado. Moscovo rejeitou essas alegações.

Segundo o Governo moldavo, os principais instrumentos que poderão ser utilizados pela Rússia incluem subornos a eleitores, ciberataques, campanhas de manipulação informativa e protestos pagos. “Está previsto um financiamento de aproximadamente 100 milhões de euros apenas através de criptomoedas”, afirmou Sandu, referindo-se a fundos que poderão ser utilizados para corrupção eleitoral. A Presidente não apresentou provas para sustentar estas acusações.