A matéria escura continua sendo um dos maiores enigmas do universo. Invisível, intangível e ainda não detectada diretamente, ela representa cerca de 85% de toda a matéria conhecida — mas não sabemos do que é feita. Agora, uma nova pesquisa reforça que, apesar de misteriosa, ela parece obedecer às mesmas leis gravitacionais que estruturam estrelas, planetas e galáxias. E, ao mesmo tempo, abre uma janela estreita para algo que pode mudar tudo no futuro.

O que o estudo analisou

O trabalho, publicado em 3 de novembro na revista Nature Communications, examinou matematicamente grandes conjuntos de dados sobre redshift — o deslocamento do comprimento de onda da luz visto quando galáxias se afastam do observador.
Os pesquisadores combinaram medições de três anos do Dark Energy Survey com 22 bases espectroscópicas adicionais, avaliando se o comportamento observado se encaixava nas previsões da relatividade geral e das equações de Euler, ferramentas fundamentais usadas na cosmologia.

A matéria escura cai — como nós — nos poços gravitacionais

Para entender o fenômeno, os cientistas observaram poços gravitacionais: curvaturas profundas no tecido do espaço-tempo causadas por objetos massivos. Eles analisaram como o movimento das galáxias mudava ao atravessar essas regiões, detectado pelo redshift.

“Se a matéria escura não estiver sujeita a uma quinta força, ela cairá nesses poços como a matéria comum, guiada apenas pela gravidade”, explicou Camille Bonvin, coautora do estudo.

E foi exatamente isso que os cálculos mostraram. A movimentação das galáxias condizia com a relatividade e com Euler — o que indica que a matéria escura provavelmente também segue essas leis.

Mas e se existir uma quinta força?

A física moderna reconhece quatro forças fundamentais:
  gravidade
  eletromagnetismo
  força nuclear forte
  força nuclear fraca

A matéria escura poderia responder a uma quinta força independente?
A resposta, por enquanto, é um “talvez” tímido.

A equipe afirma que os resultados não descartam completamente a existência dessa força. Se ela existir, porém, deve ser muito fraca — no máximo 7% da intensidade da gravidade — ou já teria aparecido de forma clara nos dados.

O estudo sugere que uma quinta força deixaria marcas perceptíveis na evolução de galáxias, na distribuição de densidade cósmica e nas flutuações gravitacionais.
Se confirmada, exigiria reformular parte da cosmologia moderna.

Próximos passos — e a possibilidade de uma revolução

Os cientistas esperam testar melhor essa hipótese com novos registros do Vera C. Rubin Observatory e das próximas fases do Dark Energy Survey, que trarão medições ainda mais sensíveis do cosmos profundo.

Por enquanto, o universo segue com sua ironia intacta: mesmo o componente mais enigmático e invisível da matéria parece não escapar ao puxão implacável da gravidade.
Mas basta um desvio pequeno para que tudo o que sabemos precise ser reescrito.