Quem assistiu ao filme “O Núcleo – Missão ao Centro da Terra” deve lembrar da cena em que dezenas de pombos colidem contra prédios em Londres. No roteiro, a explicação apresentada por um dos personagens remete aos estudos do francês Camille Viguier, que sugeria que as aves se orientam por partículas de magnetita presentes no bico.
Agora, um novo estudo publicado na revista Science oferece um complemento importante para essa hipótese formulada no fim do século 19. A ideia de Viguier, rejeitada por mais de um século por soar fantasiosa, volta ao debate científico após a pesquisa apontar evidências que reforçam parte central de sua proposta original.
O que estudos dizem
Desde então, trabalhos científicos já demonstraram que diversos animais, incluindo morcegos, tartarugas e aves migratórias, conseguem perceber o campo magnético da Terra por meio de um mecanismo conhecido como magnetorrecepção. Mesmo assim, o processo biológico por trás dessa habilidade permanecia sem uma explicação clara.
Porém, segundo informações divulgadas pela revista Smithsonian, um mapeamento cerebral aliado à análise genética indicou que o ouvido interno dos pombos pode ser o órgão responsável por detectar variações magnéticas. A descoberta foi descrita por especialistas como a evidência mais consistente já obtida sobre as vias neurais envolvidas nesse tipo de percepção.
Dessa forma, cientistas decidiram trabalhar com duas hipóteses principais: a presença de proteínas sensíveis à luz nos olhos que reagiriam ao campo magnético, ou a existência de cristais de magnetita no bico atuando como uma bússola biológica, de acordo com a revista Nature. Porém, pesquisas anteriores já sugeriam uma terceira possibilidade, na qual o sistema vestibular dos pombos, estrutura do ouvido interno ligada ao equilíbrio, poderia responder às mudanças magnéticas.
Testando hipóteses
Para testar essa hipótese, os pesquisadores expuseram 13 pombos a um campo magnético rotativo por pouco mais de uma hora e, em seguida, mapearam os neurônios ativados usando marcadores genéticos. A comparação com aves não expostas mostrou que o sistema vestibular desempenhou um papel central. O experimento foi repetido no escuro, o que excluiu a participação de proteínas fotossensíveis.
A análise das células ciliadas do ouvido interno revelou altas concentrações de proteínas sensíveis a alterações eletromagnéticas, sugerindo onde os sensores magnéticos podem estar localizados. Embora o estudo seja apontado por especialistas como um avanço técnico significativo, pesquisadores destacam que testes genéticos adicionais ainda serão necessários para validar definitivamente o mecanismo da magnetorrecepção.