Luís Rosa —António José Seguro ganhou o debate quando recordou um conceito constitucional que Jorge Pinto aparentemente desconhecia: que são necessários quatro quintos para iniciar um processo de revisão constitucional. Seguro até podia juntar a esse argumento o facto político de Luís Montenegro não estar virado para nenhuma revisão constitucional sem o Partido Socialista — precisamente para não se deixar acantonar à direita. Mas bastou a pequena aula de direito constitucional dada por Seguro para deitar abaixo um dos principais argumentos de Jorge Pinto nestes debates televisivos: o fantasma da revisão constitucional feita apenas e só à direita. Mais do que o fantasma, é uma fantasia que revelou uma ignorância básica de Pinto.

Quanto ao resto, Jorge Pinto marcou pontos junto do eleitorado da esquerda radical quando mostrou a sua carta de desfiliação do PS devido à liderança de António José Seguro. Mas, ao mesmo tempo, Pinto também mostrou que Seguro é melhor candidato presidencial do que ele. Porquê? Porque tem provas no seu passado político de que consegue dialogar com adversários políticos para procurar consensos em nome do interesse nacional. Algo que vale mais no final do dia no contexto de umas presidenciais — e particularmente no contexto de voto útil à esquerda (ao qual Seguro já começou a apelar) — do que as pequenas bravatas do candidato apoiado pelo Livre. Aliás, se há coisa que a candidatura de Jorge Pinto tem provado é que o Livre, afinal, não é assim tão moderado como pensava…

Miguel Santos Carrapatoso — Seguro, temos um problema. O debate desta noite era uma excelente oportunidade para o socialista provar claramente porque é que um voto à esquerda que não nele é um voto desperdiçado. Mas não foi isso o que se viu durante 28 longuíssimos minutos. Passivo, algo desligado, apático, excessivamente palavroso, Seguro foi-se deixando embalar pelo enérgico Jorge Pinto. Percebeu-se, mesmo no minuto final, qual era exatamente a estratégia: “Não vim combater contra si, não é o meu inimigo. Estou a lutar para que a esquerda democrática tenha uma presença na segunda volta e isso só será conseguido se houver uma concentração de votos na minha candidatura”. Tudo isto faz sentido no papel, “não é com vinagre que se apanham moscas”, etc. etc. etc. Certo, Seguro estava ali para anestesiar os eleitores do Livre. Mas para ser efetivamente bem sucedido, o socialista teria de ter feito muito mais. Teria e terá. Demonstrar “sentido de Estado”, calma, ponderação, cordialidade é um princípio. Mas é preciso mostrar mais qualquer coisinha. Qualquer coisa aspiracional, que mobilize, que faça os eleitores sonhar. Ficar à espera que a esquerda lhe caia no colo, por mera resignação, não parece ser assim uma grande ideia.

Miguel Viterbo Dias — “Não vim combater contra si”, disse António José Seguro na reta final do debate. Percebeu-se. O problema de António José Seguro é que, não tendo como objetivo entrar em demasia na esquerda, também não se afirmou como a grande solução ao centro mantendo-se num limbo em que começa a ser difícil de se segurar.

Jorge Pinto começou bem o debate, forçando Seguro a escolher se queria ou não juntar-se à gaveta da esquerda e logo nos primeiros minutos “obrigou” o oponente a ter que dizer com todas as letras que é militante do PS e de esquerda, coisa que no passado recente tardou a assumir. Quando o confronto seguiu para a liderança de Seguro no Partido Socialista, durante o período da troika, o candidato apoiado pelo PS perdeu definitivamente a hipótese de conquistar essa gaveta.

Mas, se o objetivo de António José Seguro é manter-se ao centro ou até piscar o olho à direita, revelou-se meio titubeante noutros aspetos. Na questão da revisão constitucional e da posição de Jorge Pinto sobre a dissolução do Parlamento, Seguro embrulhou-se numa explicação técnica que devia ter sido mais direta e no combate à fraude no SNS começou por mostrar-se admirado com a existência de fraudes. Foi pouco.

António José Seguro teve, neste debate, a possibilidade de provar que merece aglutinar os votos da esquerda, sobretudo da que está mais próxima do PS, mas foram mais as vezes que acabou a concordar com Jorge Pinto do que o contrário. O candidato apoiado pelo Livre segurou o seu espaço mantendo a posição (pouco popular) sobre a imigração e a crítica total ao pacote laboral que está a ser discutido entre o Governo e os sindicatos.

Por outro lado, Seguro procura ser magnânimo em questões como a imigração – “o país precisa de imigrantes, mas de forma organizada” –, e na lei laboral – “a inclinação é para rejeitar, mas não quero pronunciar-me previamente”.

Seguro sabe o tempo político em que se candidata e conta com o apoio, pouco entusiasta, do PS mas para justificar o apoio da esquerda toda ou para entrar definitivamente no eleitorado social democrata é preciso mais. Por um lado não basta puxar orelhas sobre a necessidade de convergência à esquerda, por outro corre o risco de incorrer na máxima de Rosseau: “Quem quer agradar a todos, corre o risco de não agradar a ninguém”.

Ricardo Conceição —E a fechar, um apelo ao voto útil. António José Seguro esperou, aguentou, respondeu, contrapôs e no fim, com direito à última palavra, saiu do debate vencedor. O ex-secretário-geral do PS agarrou o elefante na sala e sentou-o no centro da mesa ao deixar a dúvida: os eleitores da esquerda querem ou não um candidato da esquerda na segunda volta? Se sim, então, ele António José Seguro é o único capaz de o fazer. Jorge Pinto já não teve tempo para responder de forma contundente, depois de ter começado o debate a explicar o que pensa sobre convergências e eventual desistência.

Jorge Pinto seguiu a linha de atacar Seguro pelo passado, pelos tempos da troika, da abstenção violenta, tendo até mostrado uma carta enviada a comunicar a desvinculação do partido (Jorge Pinto foi militante do PS). Tentou ser mais de esquerda do que António José Seguro, que começou o debate a assumir-se como alguém do socialismo democrático. Um debate em que António José Seguro esteve quase sempre por cima: mostrou-se mais sereno, com os pés na terra e com conhecimento dos limites constitucionais e resistiu ao canto da sereia dos amanhãs que cantam. Jorge Pinto não se mostra capaz de conseguir ganhar votos. Mas parece que a Seguro, que se assume agora de esquerda, nada corre de forma espetacular, o apelo ao voto útil acabou esquecido perante a notícia da hospitalização de Marcelo Rebelo de Sousa.

Recorde aqui:

o debate entre Cotrim Figueiredo e António Filipe

o debate entre Luís Marques Mendes e Jorge Pinto

o debate entre André Ventura e Catarina Martins

o debate entre Jorge Pinto e Gouveia e Melo

o debate entre Marques Mendes e André Ventura

debate entre Cotrim Figueiredo e Jorge Pinto

debate entre Catarina Martins e Gouveia e Melo

debate entre Gouveia e Melo e Cotrim Figueiredo

debate entre André Ventura e António José Seguro

o debate entre Marques Mendes e António Filipe