Em tempos foram a maioria, mas os católicos correspondem hoje a cerca de 30% da população no Líbano e têm a sua influência política limitada. O sistema político confessionalista dá a presidência do país aos cristãos e distribui católicos, xiitas, sunitas e outras minorias pelo Parlamento. Mas o sectarismo vai grassando e o Líbano continua a viver paralisado pela falta de entendimento entre comunidades, a que se somam as ações violentas do Hezbollah. A ala política do grupo tem assento no Parlamento (é a terceira maior força política), mas “O Partido de Deus” não abdica do seu braço armado.

Os cristãos continuam vivos no Líbano, mas vão minguando. Mesmo ao lado da terra de Gaelle fica Canaã — “o sítio onde Cristo fez o seu primeiro milagre”, apressa-se a sublinhar ao Observador Marianne, a amiga que está sentada ao seu lado. Em Canaã, os cristãos correspondem hoje a apenas 10% da população.

Gaelle diz-se feliz por estar ali, sobretudo depois de ter perdido a oportunidade de ver o Papa Leão no Jubileu, apesar de ter estado no Vaticano na altura. A amiga Marianne está mais do que feliz — está em êxtase. “Quando eu era mais nova o Papa Bento XVI veio ao Líbano e eu vi-o, mas não me lembro bem, era pequena”, conta, num ritmo acelerado, tão desorientada que nem consegue lembrar-se que idade tinha (feitas as contas, descobrimos que tinha oito anos). “Agora tenho só 21 anos e vou poder ver outro!”, exclama.

As duas amigas não contêm o entusiasmo. Entregam autocolantes com a cara de Leão XIV e bandeiras do Vaticano, vão tirando selfies, juntam-se aos cânticos em árabe e inglês que prometem “Enquanto respirar, irei louvar o Senhor”. “Fico muito feliz por o Papa ter dito que vinha mesmo tendo ouvido coisas más do Líbano. Só o facto de ele ter dito ‘Vou à mesma’ é muito importante”, diz Marianne, referindo-se ao encontro recente de Leão com a rainha Rania da Jordânia, em que esta lhe perguntou se seria “seguro” o Papa ir ao Líbano. “Vou à mesma”, respondeu. “É um sinal de esperança e de paz. Mesmo com as bombas a caírem”, nota Gaelle.

O país está imbuído do mesmo estado de euforia. Ao longo das avenidas de Beirute repetem-se os cartazes com o rosto de Leão XIV e a frase bíblica “bem aventurados os pacificadores”, lema quase oficial da visita. “O país dos cedros recebe Sua Santidade”, lê-se noutra tarja gigante que alguém estendeu à beira de uma estrada perto de Bkerke. As pessoas amontoam-se na esperança de ver um vislumbre do papamóvel; abanam bandeiras do Líbano e do Vaticano, algumas compradas em bancas que foram montadas de improviso; e são por vezes travadas por soldados, quando se aproximam perigosamente do alcatrão onde os carros passam a alta velocidade.

O cenário já tinha sido o mesmo quando Leão aterrara na véspera, com milhares a alinharem-se à beira da estrada que liga o aeroporto ao centro da cidade — entre eles os escuteiros Imam Mahdi, o movimento juvenil do Hezbollah. Foi um ato deliberado por parte do grupo, que quis claramente alinhar-se a favor da visita, emitindo declarações de boas-vindas e participando em todos os atos políticos com o Papa.