Alex Braczkowski

Jacob, um leão de 11 anos do Parque Nacional Queen Elizabeth, no Uganda, tornou-se notícia quando ele e o seu irmão foram filmados a nadar 1,5 quilómetros através de um rio cheio de crocodilos – a maior distância de natação alguma vez registada na espécie.

O leão desafiou as expetativas ao sobreviver durante anos depois de perder uma perna – e agora sabe-se que o seu sucesso se deve a uma estratégia de caça inovadora.

Segundo o New Scientist, Jacob, que perdeu uma das patas devido a um laço de caçadores furtivos, surpreendeu os cientistas da conservação ao adotar uma nova e engenhosa forma de caçar.

Os carnívoros feridos geralmente acabam por procurar carcaças, atacar gado ou depender de uma alcateia para se alimentarem, se tiverem essa sorte. Mas Jacob, que também perdeu um olho após ser atingido por um búfalo-africano, conta apenas com o apoio do irmão Tibu.

Alex Braczkowski

Os investigadores estavam convencidos de que ele acabaria por morrer de fome depois de perder a pata traseira esquerda em 2020. “Em vez disso, recusa-se a desistir”, diz Alexander Braczkowski, do Kyambura Lion Monitoring Project, apoiado pela Volcanoes Safari Partnership Trust, uma ONG ugandesa focada na conservação e no desenvolvimento comunitário.

Até o próprio Braczkowski, que estuda Jacob desde 2017, estava intrigado com a sua sobrevivência. Mas agora, imagens térmicas captadas por drones revelaram o seu segredo: este leão aprendeu a agir como um leopardo.

Como não consegue dominar presas pela força, como os leões normalmente fazem, Jacob monta emboscadas a curta distância em matagais densos e florestas cerradas, esperando silenciosamente antes de saltar sobre a presa — ou de a escavar para a alcançar.

Craig Packer, da Universidade do Minnesota, que estuda o comportamento dos leões há décadas, diz que isto é adaptação e que “esperaria ver comportamento semelhante noutros grupos de leões, todos com quatro boas patas, na mesma região”.

Mas isso não acontece aqui, ressalva Braczkowski, que afirma que os leões do Queen Elizabeth se focam em presas grandes e rápidas, como antílopes e búfalos-africanos.

“Os leões por vezes comportam-se como leopardos e sobem às árvores”, diz George Schaller, cujo trabalho de campo nos anos 1960 no Serengeti foi o primeiro grande estudo sobre relações predador-presa.

Mas mesmo os leões arborícolas mantêm estilos de caça distintos, e leões sem membros – os chamados “tripés” – são normalmente mantidos vivos pela sua alcateia, acrescenta Schaller.

Braczkowski já registou Jacob a fazer a longa travessia do Canal Kazinga entre 10 e 20 vezes nos últimos dois anos. O seu movimento diário de 1,73 quilómetros, em média – menos do que um leão saudável, mas considerável para um animal ferido – poderá dever-se à falta de presas adequadas ou à necessidade de encontrar parceiros.

A nova estratégia de caça de Jacob poderá ser um comportamento transmissível, capaz de ajudar a inverter o declínio dos leões numa região que enfrenta perda de habitat, alterações climáticas e o avanço das comunidades humanas. É por isso que Jacob é importante, “simbolicamente e geneticamente”, afirma Braczkowski.

Schaller acrescenta que “são uma espécie de lutadores”.

Jacob também está a escolher presas que os leões normalmente não caçam, diz Braczkowski. Filmagens noturnas captadas pelo cameraman Daniel Snyders e pelo Kyambura Lion Project mostram Jacob a caçar javalis-da-floresta de 200 kg, conseguindo abates tanto sozinho como com o irmão.

“Jacob não consegue sprintar, por isso não tem hipótese numa perseguição”, explica Braczkowski. “Como está a focar-se num tipo muito específico de porco, isso diz-nos que fez uma mudança alimentar. É também por isso que está a agir mais como um leopardo e a correr grandes riscos. Mas tem de o fazer – e está a resultar.”

Perder membros devido a laços é “comum” entre felinos, diz Andrew Loveridge, da Panthera, uma organização global dedicada à conservação de felinos selvagens.


Teresa Oliveira Campos, ZAP //


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