Marta Bernardino / Trovador

Marta Bernardino, Sebastião Mendonça e o seu Trovador
Dois jovens inovadores portugueses de 19 anos desenvolveram um novo robô de reflorestação todo-o-terreno, concebido para plantar árvores em áreas devastadas por incêndios florestais que são demasiado íngremes ou perigosas para que pessoas ou maquinaria pesada consigam chegar.
A floresta era o cenário íntimo da infância de Marta Bernardino e Sebastião Mendonça, dois jovens de 19 anos, que enquanto cresciam, perto de Lisboa, acreditaram sempre que a floresta seria uma constante nas suas vidas.
“Era um parque de diversões vivo, onde construímos mundos, um santuário onde os conceitos de ‘importância’ eram sentidos instintivamente, em vez de serem ensinados”, diz Marta.
Mas, a cada ano, os dois jovens viam os incêndios devastar as florestas próximas das suas casas, deixando para trás encostas cinzentas e queimadas, conta a Smithsonian Magazine.
Desesperados por revitalizar estas florestas, os dois, então estudantes do ensino secundário, decidiram criar o Trovador — um robô de seis patas capaz de alcançar e reflorestar áreas onde os humanos não conseguiram chegar.
“As árvores são vitais: fornecem-nos oxigénio, armazenam carbono, estabilizam o solo e servem de lar à vida selvagem do mundo. Para a saúde do nosso planeta e dos seus habitantes, a sua preservação e proteção deve ser uma prioridade para todos nós”, salienta Marta num artigo no Medium.
“A principal razão pela qual a reflorestação não está a ser alcançada, para além da má gestão florestal, é que o trabalho humano traz muitos desafios em termos de lesões, manutenção e capacidade de plantação”, explica a jovem estudante.
Portugal é um dos países europeus mais afetados por incêndios florestais. Um estudo publicado em 2024 pelo cientista atmosférico Carlos C. DaCamara, da Universidade de Lisboa, concluiu que mais de 1,2 milhões de acres arderam entre 1980 e 2023, o equivalente a 54% cento do território.
Só em 2017, o país perdeu 32.000 acres de cobertura arbórea, sendo os incêndios responsáveis por 75% dessa destruição. Muitos destes fogos ocorrem em zonas de relevo acidentado, tão íngremes que nem voluntários nem equipas de sapadores florestais lhes conseguem aceder.
“O terreno íngreme impede a plantação manual e a chegada de máquinas pesadas à maioria das áreas queimadas em Portugal”, explicaram recentemente os dois jovens num vídeo de crowdfunding em que apresentam o projecto.
Com mais de 60% das florestas portuguesas situadas em encostas difíceis, os métodos convencionais de rearborização têm tido dificuldades em acompanhar a recorrência dos fogos e a degradação dos solos.
Os estudantes começaram a prototipar o Trovador em 2023. O primeiro protótipo, que custou 15 euros e foi construído com peças recicladas, plantava pequenas árvores 28% mais depressa do que os humanos, com uma taxa de sobrevivência reportada de 90 por cento e sem necessidade de cuidados após a plantação.
Este primeiro resultado levou a dupla a desenvolver uma versão mais robusta, capaz de operar de forma autónoma em encostas até 45 graus, conta Marta à Smithsonian Magazine. “Construímos robots todo-o-terreno que transportam pequenas árvores às costas e as plantam autonomamente em terrenos difíceis”.
O desenho hexápode do Trovador distribui o peso de forma uniforme pelo solo, evitando a compactação associada a tractores ou outros veículos pesados, que pode prejudicar a infiltração de água e o fornecimento de oxigénio às raízes.
O robô recorre a uma câmara de profundidade para mapear obstáculos e ajustar a sua trajectória em tempo real, enquanto um sistema de IA analisa o pH e a humidade do solo antes de iniciar uma sequência de plantação em três passos: escavar, colocar, compactar.
A equipa afirma que este método já foi validado, atingindo taxas de sobrevivência de 85 a 90% em ensaios de campo.
Têm sido testados drones para sementeira aérea, mas estes dispersam milhares de sementes por acre com baixa precisão. “Os drones espalham sementes com pouca precisão — desperdiçando um dos recursos naturais mais escassos“, nota Marta. Alguns projectos-piloto registaram taxas de sobrevivência entre 0 e 20%.
O Trovador, em vez disso, planta uma a uma pequenas árvores já enraizadas, escolhendo micro-nichos onde a probabilidade de sobrevivência é maior, o que reduz desperdícios.
Com capacidade para plantar até 200 árvores jovens por hora, o Trovador envia ainda para a nuvem coordenadas GPS, dados sobre o solo e informação sobre a bateria, permitindo o acompanhamento remoto. Futuras atualizações deverão permitir que o robô evite automaticamente zonas demasiado secas e se concentre em áreas com melhor potencial de crescimento.
O custo de construção deste pequeno robô é uma das preocupações dos dois jovens inventores — que planeiam, porém, responder a esse desafio oferecendo o Trovador como um serviço e não como produto de hardware.
No modelo que propõem, municípios, seguradoras, empresas florestais e ONG podem desenhar uma área numa aplicação, escolher espécies autóctones e receber um orçamento para “árvores no terreno”.
A equipa espera que esta abordagem venha a ser significativamente mais barata do que a plantação manual e mais eficiente em termos de custo do que os métodos com drones, se contabilizado o desperdício de sementes.
O objetivo dos dois jovens é ter o Trovador a operar em grandes projectos de regeneração de floretsas até 2026, criando, nas palavras de Marta, uma reflorestação “rápida, precisa, auditável e escalável aos milhões de hectares que os modelos climáticos dizem que temos de restaurar nesta década”.