A informação da alta iminente já tinha sido avançada esta quarta-feira pela presidente do conselho de administração do hospital, Maria João Baptista, que garantiu que o chefe de Estado “está bem-disposto”, “alimentou-se bem” e apenas aguardava a realização de alguns exames antes de regressar ao Palácio de Belém.
Pouco depois, na entrada da unidade hospitalar, Marcelo Rebelo de Sousa falou aos jornalistas, num tom descontraído: “Desculpem o atraso, estive a reler um livro que deixei aqui em 2016, estive a ver a atividade da biblioteca e a tirar umas selfies.”
O Presidente agradeceu aos “8500 trabalhadores deste hospital”, sublinhando que os últimos dias reforçaram a sua convicção de que “o Serviço Nacional de Saúde é uma função inestimável”. O SNS é “uma grande conquista da democracia, mas precisa de ser alimentada, renovada e apoiada permanentemente”, alertou.
“O SNS, uma vez mais, está de parabéns, do ponto de vista do agradecimento do Presidente da República e do cidadão Marcelo Rebelo de Sousa, que aqui se confundem, o doente e o Presidente da República. Não é a primeira vez que enfrento situações mais complicadas nos meus dois mandatos e recorri sempre ao Serviço Nacional de Saúde em diversas unidades”, disse ainda.
“Os portugueses, com todos os problemas que tem o Serviço Nacional de Saúde, e nós sabemos que tem, de facto, devem ao Serviço Nacional de Saúde uma função inestimável. É por isso que se diz muitas vezes que é uma grande conquista da democracia, mas que precisa de ser alimentada e renovada e apoiada permanentemente porque tem sido uma garantia da saúde de milhões de portugueses ao longo destes 50 anos.”
Marcelo Rebelo de Sousa foi operado a uma hérnia, uma situação “congénita e de família” que já o obrigou a outras paragens. “É de família, é o tropismo para hérnias intestinais. Já o pai tinha e a minha filha tem. E eu, como se sabe, é a quarta hérnia operada e esta inesperadamente”, descreveu.
Durante o internamento, Marcelo continuou a trabalhar: “Aproveitei para promulgar alguns diplomas e irei para Belém para continuar o trabalho.” A deslocação será feita de carro, estando garantido o acompanhamento médico permanente no Palácio de Belém, como adiantou o chefe da Casa Civil da Presidência da República, Fernando Frutuoso de Melo.
Marcelo Rebelo de Sousa prometeu, no entanto, que vai cumprir as indicações médicas e fazer repouso, bem como ter cuidados alimentares e físicos. “Quando foi da primeira operação, em que me senti à saída um bocadinho mais marcado pela situação, estive um mês e meio, quase dois meses, sem deslocações externas e cancelei muito programa que tinha no começo do ano de 2018. Agora, até o Natal, depois do Natal até o fim do ano, naturalmente é um período de maior repouso”, apontou.
“Daqui até ao termo de mandato temos três meses e uns dias, e pelo meio, os portugueses estão naturalmente muito empenhados na campanha pré-eleitoral, depois na campanha eleitoral, pelo meio a apresentação de candidaturas, mas as instituições continuam a funcionar. Está pendente na Assembleia da República o Orçamento do Estado. Há vários diplomas pendentes, há diplomas pendentes no Tribunal Constitucional, há muito trabalho para o Presidente fazer nos próximos dias”, acrescentou Marcelo.
As visitas de Estado ao Vaticano e a Espanha foram canceladas, sendo que a deslocação a Madrid já foi remarcada para fevereiro. “Foram adiadas duas visitas de Estado, o que pareceu uma decisão prudente, embora a recuperação pareça menos complicada do que a primeira que tive”, reconheceu Marcelo.
A hérnia encarcerada que motivou a cirurgia resultou da fragilização da parede abdominal, explicou Maria João Baptista, o que levou a que “uma porção do intestino delgado ficasse presa”. O risco nestas situações é a interrupção da irrigação sanguínea e consequente morte dos tecidos – evolução conhecida por hérnia estrangulada –, cenário que a intervenção cirúrgica permitiu evitar.