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Uma grande reportagem multimédia conta que através de plataformas como o LinkedIn e o uso de ferramentas como inteligência artificial, software de disfarce facial e VPNs, estes operacionais conseguem candidatar-se e conseguir empregos remotos como se fossem engenheiros, programadores ou consultores ocidentais. Os lucros desses empregos — que chegam a centenas de milhões de dólares por ano — são depois canalizados para financiar os programas militares e nucleares da Coreia do Norte, contornando sanções internacionais.
Este esquema não depende apenas de tecnologia. Dentro dos Estados Unidos, há facilitadores que ajudam os norte-coreanos a montar estas falsas identidades, tratar da papelada necessária para conseguir trabalho, e até a aceder remotamente aos computadores das empresas que os contratam. Alguns destes cúmplices gerem verdadeiras “fazendas de portáteis”, com dezenas de dispositivos etiquetados com diferentes identidades e empresas, usados pelos trabalhadores norte-coreanos a partir de países como a China, Rússia ou Laos.
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Um caso emblemático é o de Christina Marie Chapman, uma cidadã americana sem experiência em tecnologia que, entre 2020 e 2023, ajudou norte-coreanos a conseguir empregos em mais de 300 empresas nos EUA. Chapman fornecia documentação falsa, tratava dos contactos com as empresas e instalava software de acesso remoto nos portáteis enviados pelas empresas aos “funcionários”. Em troca, recebia pagamentos e comissões, tendo ajudado a gerar mais de 17 milhões de dólares para o regime norte-coreano. Apesar de ter alegado desconhecer a verdadeira origem dos trabalhadores, acabou por se declarar culpada de conspiração para cometer fraude informática, roubo de identidade e branqueamento de capitais. Foi condenada em julho de 2025 a oito anos e meio de prisão.
A par de Chapman, outros facilitadores americanos também foram identificados, alguns ainda sob investigação. Ao mesmo tempo, empresas como a KnowBe4 relatam terem recebido centenas de candidaturas de perfis suspeitos, alguns acabaram mesmo contratados antes de serem descobertos, como aconteceu num caso em que um portátil começou de imediato a descarregar malware assim que foi ligado fora dos EUA.
O Departamento de Justiça dos EUA já conduziu buscas em dezenas de “laptop farms” em 16 estados e apreendeu centenas de dispositivos. No entanto, as autoridades admitem que o esquema é difícil de erradicar, dada a dimensão e sofisticação da operação, e o facto de a maioria dos trabalhadores estar sediada em países que não têm acordos de extradição com os EUA, segundo conta reportagem da CNN.
Estes operacionais não são espiões no sentido clássico. Assumem funções normais nas empresas, como escrever código ou fazer suporte técnico. No entanto, com acesso aos sistemas internos, podem a qualquer momento tornar-se uma ameaça, introduzindo malware ou conduzindo ataques de ransomware. Segundo especialistas em cibersegurança, muitos destes trabalhadores recorrem à IA não apenas para realizar tarefas técnicas, mas também para treinar respostas em entrevistas, simular fluência cultural americana, alterar fotografias de perfil e automatizar candidaturas em massa.
Está em causa não só a sofisticação do regime norte-coreano, como também a vulnerabilidade de um mercado de trabalho cada vez mais dependente do trabalho remoto e de processos de recrutamento à distância. Como alertou uma procuradora federal dos EUA após a sentença de Chapman: “Isto é um código vermelho. As empresas tecnológicas estão a ser infiltradas pela Coreia do Norte. Quando não fazem a devida verificação, estão a pôr a segurança nacional em risco.”
Para os especialistas, não há solução simples. Enquanto houver procura por mão-de-obra remota e empresas dispostas a contratar sem verificações rigorosas, a Coreia do Norte continuará a explorar essa brecha — com trabalhadores formados, treinados para enganar e apoiados por uma rede de cúmplices no terreno.