O câncer de próstata e as DCVs (Doenças Cardiovasculares) são duas das principais causas de morbidade e mortalidade em homens, especialmente após os 50 anos. Embora sejam doenças distintas, há importantes interações entre elas – tanto em fatores de risco compartilhados quanto nos efeitos dos tratamentos utilizados para o câncer sobre o coração.

Homens que desenvolvem câncer de próstata frequentemente apresentam fatores de risco que também favorecem doenças cardiovasculares: idade avançada, obesidade e síndrome metabólica, dieta rica em gorduras saturadas, sedentarismo, tabagismo e histórico familiar de ambas as condições. Isso significa que o mesmo perfil metabólico que aumenta o risco de câncer também favorece a aterosclerose, hipertensão e arritmias.

Algumas terapias utilizadas no manejo do câncer de próstata podem aumentar o risco cardiovascular. A terapia de privação androgênica reduz os níveis de testosterona para controlar o tumor, pode causar: aumento da gordura corporal, resistência à insulina, alterações do colesterol e inflamação vascular, e associada a uma maior incidência de infarto, AVC (Acidente Vascular Cerebral) e morte cardiovascular. Os agentes hormonais de nova geração (como abiraterona e enzalutamida) podem elevar a pressão arterial, aumentar o risco de arritmias e descompensar doenças pré-existentes. A radioterapia geralmente é segura, mas em tratamentos prolongados ou de alta dose pode causar fibrose em estruturas pélvicas e afetar vasos sanguíneos locais.

O crescimento da área de cardio-oncologia reflete exatamente essa interseção entre câncer e coração. Avaliar o risco cardiovascular antes do início do tratamento, monitorar efeitos cardiotóxicos, controlar agressivamente os fatores de risco, adaptar ou substituir terapias quando necessário. De forma que o acompanhamento conjunto entre o oncologista e cardiologista reduz complicações e melhora a longevidade dos pacientes. O Ambulatório de Cardio-Oncologia do Centro Universitário FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) tem como missão integrar o cuidado cardiovascular ao tratamento oncológico, garantindo segurança, eficácia terapêutica e melhor qualidade de vida aos pacientes com câncer. 

Em um cenário em que a sobrevida oncológica aumenta e as terapias antineoplásicas se tornam mais complexas, a atuação coordenada entre cardiologia e oncologia torna-se indispensável. 

Antonio Carlos Palandri Chagas é médico e professor titular de cardiologia do Centro Universitário FMABC (Faculdade de Medicina do ABC).