A revista Les Inrockuptibles, que na altura da estreia de O Riso e a Faca, de Pedro Pinho, o sintetizou como só os franceses sabem sintetizar — “un film d’une intelligence politique folle” (“um filme de uma inteligência política doida”) —, escolheu-o agora como filme do ano. Já tinha sido o quinto título do top de 2025 da também francesa Cahiers du Cinéma, metido aí ao barulho com Tardes de Solidão, de Albert Serra (o melhor para os Cahiers…), Batalha Atrás de Batalha, de Paul Thomas Anderson, ou O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho.

O Riso e a Faca encontra de novo esses títulos, e esses perfis de sobredotados (que serão inevitavelmente os filmes de que iremos ouvir falar nos Óscares), na lista da Les Inrocks. Mas supera-os: Tardes de Solidão aparece em segundo lugar; seguem-se Sirât, em que Oliver Laxe nos conduz pelo fim do mundo; Resurrection, de Bi Gan, uma extravagância alegórica que arrefeceu bastante o seu ímpeto no pós-Cannes, de onde saiu com o Prémio Especial do Júri; Marés Vivas, de Jia Zhang-ke; o brasileiro O Agente Secreto; O Quarto ao Lado, de Pedro Almodóvar; o filme de Paul Thomas Anderson (que está a ganhar os prémios americanos e começa a perfilar-se para os Óscares); Nouvelle Vague, de Richard Linklater, que chegará a Portugal dentro de semanas; e La Petite Dernière, de Hafsia Herzi.

Atrás de Pedro Pinho ainda ficaram Jovens Mães, dos irmãos Dardenne (estreia-se por cá na próxima semana), Vermiglio, de Maura Delpero, The Smashing Machine, de Benny Safdie, Mektoub, My Love: Canto Due, o regresso de Abdellatif Kechiche, ou Sentimental Value, de Joachim Trier.

Em França, O Riso e a Faca já foi visto por 25 mil espectadores — números disponibilizados por Uma Pedra no Sapato, empresa de produção. Estreou-se em Julho, na primeira semana foi distribuído em 66 salas, chegou às 243 e ainda está em cartaz.




Pedro Pinho: à frente de Almodóvar, Paul Thomas Anderson ou Kleber Mendonça Filho

​Por cá, estreado em final de Outubro em 15 salas, este filme imenso sobre política e sobre desejo, com o qual, oito anos depois de A Fábrica de Nada (2017), o realizador voltava a fazer do cepticismo uma aventura de interpelação, desapareceu dos ecrãs em apenas três semanas de exibição. De nada valeram os acontecimentos programados por produtores e/ou exibidores, acenando aos auditórios com uma versão integral, de mais de cinco horas, para além da versão de três horas e meia.

Foi um dos 1700 espectadores que em Portugal foram ver O Riso e a Faca, de Pedro Pinho? Uma decepção, para não dizer um desastre, esse número. Mas talvez se possa dizer que somos espectadores decepcionantes.