Num certo dia, decidiu ir à aldeia visitar o filho, para um reencontro emotivo. “Estava exausta, com frio e adormeci rapidamente. Sonhei com o meu marido, um sonho mau. Assim que acordei, liguei e um vizinho disse-me ‘Ele está ferido, mas não é grave, é só na mão.” Quando Swasoun regressou a casa, foi direta para o hospital e percebeu que a situação era pior do que lhe tinham dito. “Entrei no quarto e ele estava cheio de ligaduras. O corpo todo, o corpo todo…”, vai murmurando.
Voltou depois para casa e conseguiu reconstruir o que acontecera. O bairro tinha sido entretanto completamente ocupado pelo Exército — “Vi tanques pela primeira vez na minha vida, parecia um filme”. A sua casa estava ligeiramente destruída, um morteiro tinha ali caído. No bairro espalhava-se a notícia do homem que tinha morrido dentro de casa e só tinha sido encontrado três dias depois. Com medo, Emil fez uma mala improvisada e saiu. De um lado tinha os rebeldes, do outro o Exército. Antes de atravessar a estrada, foi atingido a tiro pelas forças do regime, que provavelmente o tomaram por um dos rebeldes. “Encontrei no chão o chapéu dele e uma poça de sangue.”
Emil morreu dez dias depois, a 25 de março de 2011. “É muito doloroso para mim. Vivo no mesmo sítio onde ele foi morto, vejo isto todos os dias”, diz, apontando para o pedaço de alcatrão onde esteve aquela poça de sangue. Foi então que começou o verdadeiro calvário de Swasoun. “A fábrica foi saqueada e a nossa casa também. Roubaram tudo”, diz, incluindo a porta de casa. “Encontrei o meu microondas à venda na rua e comprei-o de volta.”
“Perdi o meu emprego, depois o meu marido. Era uma mulher sozinha com um filho, o que ia fazer? Era muita pressão”, recorda. A sua voz fica mais aguda e Swasoun vai amachucando o lenço de papel nervosamente nas mãos. “Só precisava de ter alguém ao meu lado, alguém que me pusesse a mão no ombro e dissesse ‘Vai ficar tudo bem’”, diz, enquanto as lágrimas que tentava conter saltam. “Entre a morte do meu marido e o meu filho acabar o liceu, chorei todos os dias. No verão, usava óculos escuros e ninguém me via chorar. No inverno, a chuva lavava-me as lágrimas e ninguém me via chorar. Foi muito doloroso. Ainda é.”