O Presidente dos Estados Unidos da América (EUA) voltou a ameaçar a Índia com a imposição de tarifas comerciais mais elevadas, como retaliação pela compra de petróleo russo. O Governo indiano considera que este é um “ataque injustificado e irracional” e garante que irá “salvaguardar os seus interesses nacionais”.
O anúncio foi feito através de uma publicação na Truth Social, rede social que o próprio Donald Trump detém e controla, na segunda-feira. “A Índia não só está a comprar quantidades maciças de petróleo russo, como está a vender a maior parte do petróleo adquirido no mercado livre, com grandes lucros”, escreveu o Presidente norte-americano, sem citar, como habitualmente, dados que sustentem as suas afirmações.
Trump acusa ainda o Governo indiano de ignorar as “pessoas assassinadas pela Máquina de Guerra Russa” e garante que, por isso, irá “aumentar substancialmente as tarifas pagas pela Índia aos EUA”.
A reacção da Índia veio da parte de um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que classifica a compra de petróleo russo como uma “necessidade” para assegurar que os custos da energia se mantêm baixos para os consumidores indianos. “A Índia tem sido um alvo dos EUA e da União Europeia por importar petróleo da Rússia desde o início do conflito na Ucrânia. Na verdade, a Índia começou a importar da Rússia porque o seu fornecimento tradicional foi desviado para a Europa após o início do conflito. Na altura, os EUA encorajaram activamente essas importações por parte da Índia para fortalecer a estabilidade do mercado global de energia”, argumentou o responsável, também através de uma publicação numa rede social (X, antigo Twitter), acusando a Europa e os EUA de também importarem vários produtos da Rússia.
E conclui: “O ataque à Índia é injustificado e irracional. Como qualquer grande economia, a Índia vai tomar as medidas necessárias para salvaguardar os seus interesses nacionais e segurança económica.”
De acordo com a Reuters, a Índia é o maior comprador de petróleo russo, tendo importado um total de 1,75 milhões de barris por dia entre Janeiro e Junho deste ano, um aumento de 1% face a igual período do ano passado. Estes números poderão, contudo, vir a sofrer quebras nos próximos meses: segundo a agência noticiosa, que cita fontes não identificadas, as maiores petrolíferas do país terão interrompido as compras da matéria-prima à Rússia na semana passada, apesar da posição assumida publicamente pelo Governo indiano. O Governo indiano nega que tenha feito qualquer alteração à política comercial.
Esta não é a primeira vez que Trump ameaça a Índia com um aumento de tarifas. No final do mês passado, o Presidente norte-americano também recorreu à sua rede social para justificar a intenção de impor uma tarifa de 25% aos produtos importados da Índia, escrevendo que os EUA fazem “muito poucos negócios” com a Índia e que as tarifas deste país são “das mais elevadas do mundo”.
Em 2024, segundo dados recolhidos pelo Financial Times, as trocas comerciais entre os dois países totalizaram 129 mil milhões de dólares (acima de 111 mil milhões de euros, à cotação actual), fazendo dos EUA o principal parceiro comercial da Índia. A tarifa de 25%, estimaram na altura analistas do Axis Bank, também citados pelo Financial Times, teria um impacto de 10 mil milhões de dólares (mais de 8,6 mil milhões de euros) sobre as exportações da Índia – a penalização para o conjunto da economia indiana seria, ainda assim, mitigada pelo facto de a economia deste país depender, em grande parte, do consumo interno.