No derby que os dois queriam ganhar, ninguém ganhou. Ou melhor, podem ganhar outros. Benfica e Sporting não saíram do empate (1-1) que abriu a 13.ª jornada e deixaram o caminho aberto para o líder FC Porto aumentar a vantagem para ambos neste fim-de-semana. O “leão” entrou melhor e marcou, a “águia” empatou quando começou a pensar um pouco mais.
Para Mourinho era apenas o segundo derby – e esse jogo, que deu triunfo por 3-0 para os “encarnados” há mais de 25 anos, foi amplamente recordado nos últimos dias. Para Rui Borges, já era o sexto, ele que se estreara nos “leões” frente ao Benfica, para além de ter ganhado uma final e ter quase garantido um título com um empate na Luz. Nesta primeira cimeira entre dois treinadores, não era, nem uma final, nem um jogo de título. Era um derby de meio de época, como que para lançar as bases da segunda metade. Quem saísse por cima, ganhava o ascendente emocional. Se nenhum saísse por cima, ganhava o FC Porto.
O Sporting apresentou-se na Luz como se esperava. A almofada aconselhou Rui Borges a apostar em Pedro Gonçalves em vez de Quenda e em Morita em vez de Simões – menos juventude e mais experiência para um jogo desta natureza, compreendia-se. O Benfica também foi a jogo com o que tem funcionado nos últimos tempos. Mourinho despejou no relvado um camião de médios (cinco) para tentar a pressão em todo o lado e esperar que alguém criasse alguma coisa.
Mas o que o jogo começou por mostrar foi um Sporting absolutamente confortável e um Benfica incrivelmente errático, o que não era inesperado – tem sido assim nos últimos tempos. E nada ilustra melhor estes estados de espírito do que o que aconteceu logo aos 3’. Pressão alta dos “leões” no último terço, Aursnes perdeu uma bola perto da área para Suárez e o colombiano avançou que nem uma seta para a baliza. Fez um remate cruzado e Trubin, em queda, defendeu com a perna direita. O jogo seria sempre assim nos 20 minutos seguintes.
Os “leões” não precisaram de muito mais tempo para chegar ao golo. Minuto 12, Trubin tem a bola nos pés e, com muitos “inimigos” por perto, desfez-se dela para quem estava à sua frente, Enzo Barrenechea. O médio argentino teve tempo para pensar e tomar uma boa decisão, mas demorou demasiado e perdeu a bola para Hjulmand. De imediato o dinamarquês deixou para Pedro Gonçalves que, bem colocado, fez o seu habitual passe para a baliza. Trubin lançou-se, encolheu os braços e a bola passou por ele. Golo do Sporting, a dar corpo a uma enorme superioridade “leonina” e a castigar um Benfica que insistia numa pressão descoordenada e num ataque sem avançados.
Depois do golo, o jogo continuou neste registo. O Sporting sabia como fazer pressão sem ir à “queima” e, com isso, conseguia recuperar a bola com grande facilidade, aproveitando a sofreguidão com que os “encarnados” disputavam os lances. Num desses lances, aos 26’, Maxi Araújo ganhou uma bola no meio-campo, foi a correr com ela até à área benfiquista sem que ninguém lhe tocasse e ainda teve discernimento para o remate – não saiu longe da baliza.
Até então, o Benfica só tinha feito um remate – um livre de Sudakov, aos 21’, que passou muito por cima. Não tinha pensado sequer em atacar, só tentar ficar com a bola, mas sem nunca a conseguir guardar. Os “encarnados” decidiram mudar de estratégia, tentar pensar um pouco mais os ataques, demorar mais tempo e, de imediato, o jogo mudou. Aos 27’, na primeira vez que jogou em ataque posicional, o Benfica chegou ao golo.
Num momento em que um jogador do Sporting, Morita, abandonou a linha defensiva para ir pressionar o portador da bola, Rios aproveitou o buraco e direccionou a jogada para Dedic. O bósnio fez o cruzamento rasteiro e Sudakov, quase dentro da baliza, meio embrulhado com Catamo, fez o empate. Foi o momento de lucidez que o Benfica precisava. A partir daqui, repetimos, o jogo mudou. Os “encarnados” continuaram intensos, mas a pressionar com outro propósito. E o Sporting encolheu-se, perdeu fluidez e tremeu muito.
Foi assim que acabou a primeira parte. A segunda parte continuou com ascendente das “águias”, sempre mais pressionantes, mas ainda com poucos avançados. O “leão” continuou perdido no jogo, a perder bolas a resolver mal a pressão – Diomande foi um alvo constante do Benfica e cometeu vários erros. Deixou de existir no ataque e Rui Borges, aos 60’, pensou dar à equipa a energia da juventude – entraram Quenda e Simões, saíram Pedro Gonçalves e Morita. Mas os “leões” continuaram na mesma.
Com todo o seu domínio territorial e ascendente emocional, o Benfica só criou verdadeiramente perigo já com a segunda parte adiantada, primeiro numa bola na área aos 74’ a que Barreiro quase chegou – Suárez cortou para canto. Depois, aos 81’, num remate de Rios que saiu bem perto da baliza “leonina”.
Mourinho investiu um pouco mais no ataque, com as entradas de Prestianni e Ivanovic, mas esse investimento deu prejuízo. Em cima dos 90’, o argentino cometeu uma falta dura sobre Catamo e, após ver as imagens, o árbitro António Nobre mostrou-lhe o vermelho. A jogar com mais um, o Sporting finalmente conseguiu respirar um pouco, mas nem assim conseguiu rematar uma vez que fosse na segunda parte. E ficou o empate para os dois. Quem ganha com isto? Nenhum deles.