Já não é a Colômbia de Juan Valderrama ou Faustino Asprillia que jogou na edição de 1994, nos EUA, é a de James Rodríguez com a braçadeira de capitão, Luis Díaz a fintar pela vida algures no ataque e de Suárez a tentar marcar golos lá à frente. Só velhos conhecidos dos relvados portugueses no adversário de maior dificuldade que calhou à seleção nacional no Grupo K, letra inexistente no abecedário português, mas que identifica onde a equipa de Roberto Martínez jogará no Mundial 2026.

Por enquanto, apenas se conhece um outro adversário, o Usbequistão, a dar a primeira espreguiçadela nisto de ir ao torneio que só aparece a cada quatro anos, por isso seleto e excelso, porque raro, mas já não tão inacessível por a próxima edição ser a primeira com 48 equipas. Tal abriu possibilidades em novas latitudes e o país da Ásia Central aproveitou, apesar da seleção com poucos representantes de campeonatos europeus – Khusanov e Shomurodov soam alguma campainha?

A terceira equipa que se cruzará com Portugal está por conhecer. Será entre a frágil Nova Caledónia, a Jamaica embalada pelo reggae ou a República Democrática do Congo que tem nomes de respeito, que vão disputar um dos play-offs de apuramento que estão reservados para março de 2026. Este é uma breve apresentação das seleções com as quais a seleção portuguesa se terá de medir, por certo ou se calhar.

Os colombianos cheios de talento

Portugal jamais defrontou os colombianos, pelo que teremos um duelo frente aos cafeteros pela primeira vez na história, um inédito que é a nota dominante deste grupo totalmente não europeu. É de esperar grande apoio para a equipa sul-americana no Mundial, pelo que, nas bancadas, é possível que a equipa de Martínez entre a perder.

Orientada pelo argentino Néstor Lorenzo, antigo internacional que foi vice-campeão do mundo em 1990, a Colômbia falhou o Mundial 2022, mas vem de fazer uma excelente Copa América. Em 2024, justamente nos Estados Unidos, a equipa ficou em segundo, só perdendo na final, no prolongamento, contra a Argentina.

James Rodríguez, que sabe bem o que é brilhar num Mundial, continua, aos 34 anos, a ter destaque na equipa. Luis Díaz é o outro nome forte: o extremo do Bayern de Munique tem dinamitado a Bundesliga desde a mudança de Liverpool para a Baviera. Além do craque canhoto e do extremo ex-FC Porto, há presença da I Liga na equipa, com o benfiquista Richard Ríos no meio-campo e o sportinguista Luis Suárez no ataque. Haverá ainda Juan Fernando Quintero, outro antigo canhoto dos dragões, para acrescentar ao requinte.

O melhor que a Colômbia fez em Mundiais foram os quartos de final do Brasil 2014, quando James Rodríguez encantou o planeta. Ausente de 2022, ficou pelos oitavos de final em 2018. Disputará a sua sétima fase final do torneio e, em teoria, é o adversário mais exigente deste grupo K.

Os jogadores da seleção do Usbequistão celebram a qualificação para o Mundial 2026. Será a primeira participação do país no torneio

Anvar Ilyasov

Os estreantes da Ásia Central

Pareceu sina a seleção ter de apalpar no nada, de o passado ser etéreo. Também nunca Portugal defrontou o Usbequistão, vasto país da Ásia Central e um dos beneficiados pelo alargamento do Mundial a 48 equipas. Um dos estreantes no torneio, os usbeques apuraram-se em segundo lugar de um grupo liderado pelo Irão, a sua pegada no futebol internacional é parca e, de caras conhecidas, a maior estará sentada no banco, de olho azul: o selecionador é Fabio Cannavaro, que terá uma ou duas histórias para contar aos seus jogadores.

Em 2006, era ele o capitão da Itália campeã mundial, lá atrás rapado de cabelo, a correr, deslizar na relva, antecipar e intercetar bolas, um muro com pernas, braços e epopeia de chuteiras calçadas que viria a ganhar a Bola de Ouro nesse ano – o último defesa a receber essa distinção. Calha bem ao Usbequistão, cujo jogador com maior perfil também é vizinho da sua própria baliza. Abdukodir Khusanov é o seu nome, joga no Manchester City, central de posição. Tem 21 anos, leva sete partidas esta época e chegou a Inglaterra a meio da época passada, contratado por €40 milhões ao Lens. O jovem defesa, fino a passar a bola de trás, cheio de potencial, esteve na maior (e recente) experiência em provas internacionais do Usbequistão, quando competiu no torneio de futebol dos últimos Jogo Olímpicos.

Teve a companhia de Eldor Shomurodov, o outro esteio da seleção com quilometragem de destaque no futebol europeu. Avançado de 30 anos, ávido a pedir a bola no espaço e a atacar a profundidade, está emprestado pela AS Roma ao Basaksehir da Turquia, onde leva 10 golos em 20 partidas. Antes, andou pelo Spezia e o Génova na Serie A.

Olhando para o último onze apresentado pelos usbeques, no empate contra o irão, em novembro, apenas Khusniddin Alikulov, outro defesa central e há três épocas nos turcos do Caykur Rizespor, também joga num campeonato europeu. Os restantes titulares desse encontro fazem vida em clubes do Usbequistão ou de países do Médio Oriente. Com o Mundial ainda longe no horizonte, com tanto ainda a poder mudar (lesões, momentos de forma), o sumário atual é claro: quem joga pelo Usbequistão é tímido em estatutos, virá de ligas periféricas, com outros ritmos, e tem pouca tradição no futebol.

Embora esteja a crescer, prova disso os seus sub-17 terem chegado aos ‘oitavos’ do último Mundial e a conquista, este ano e na seleção sénior, da Cata Nations Cup, invenção da FIFA para dar competição às nações acabadas em “ão” da Ásia Central, com convidados (Omã, Índia) à mistura.

Chancel Mbemba, antigo defesa central do FC Porto, é o capitão da seleção da República Democrática do Congo, com a qual Portugal poderá jogar na fase de grupos do Mundial 2026

DeFodi Images

À espera do play-off

Existe uma forte possibilidade do primeiro jogo de Portugal no Mundial 2026 ser o último a ser preparado. A seleção nacional vai ter que esperar que o play-off intercontinental revele qual a equipa que a preencher o grupo K, sendo que as hipóteses são três: República Democrática do Congo, Nova Caledónia e Jamaica. Todos os potenciais adversários pertencem a uma confederação diferente e Portugal nunca defrontou qualquer um deles.

Deste lote, a Jamaica é a seleção com mais historial. Não é que a experiência do Mundial 1998, a única presença dos reggae boyz no torneio, traga algum benefício ao plantel atual que falhou o passaporte direto por ter ficado atrás de Curaçau no grupo de apuramento da CONCACAF. O desfecho levou à saída de Steve McClaren. Sem selecionador, os caribenhos têm ainda outras questões por resolver junto de alguns dos principais jogadores. Michail Antonio, do West Ham, está a recuperar de uma lesão e Leon Bailey, da AS Roma, encontra-se envolvido num desentendimento com a federação. Noutro sentido, podem receber Mason Greenwood, inglês do Marselha com ascendência jamaicana, como reforço após este ter abdicado da seleção inglesa.

Para se qualificar, a Jamaica tem que ultrapassar a Nova Caledónia na meia-final do play-off. Na fase de apuramento, o país foi batido pelo crónico representante da Oceânia no Mundial, a Nova Zelândia, mas tem uma segunda oportunidade para se estrear. Nas competições jovens, tornaram-se um nome habitual, embora frequentemente associado a goleadas de dois dígitos.

A República Democrática do Congo é quem tem o caminho mais facilitado. A afiliada da CAF precisa apenas de vencer o adversário que sair por cima do Nova Caledónia-Jamaica. A equipa de Chancel Mbemba ficou atrás do Senegal no grupo de qualificação e já teve que passar por uma eliminatória, contra a Nigéria, de modo a manter vivo o sonho de ir ao Mundial pela primeira vez desde que deixou de se denominar Zaire. O antigo central do FC Porto marcou o penálti decisivo nessa eliminatória.

Outros jogadores com destaque são Aaron Wan-Bissacka, lateral direito do West Ham da Premier League, antes do Manchester United. Ou Cédric Bakambu, avançado do Real Betis.