Há muito que a indústria do áudio procura o “Santo Graal” dos auscultadores: um equipamento que ofereça a fidelidade sonora de um monitor de estúdio, a liberdade sem fios exigida pelo século XXI e um cancelamento de ruído que não destrua a alma da música. A Sennheiser, uma marca que dispensa apresentações para quem leva o som a sério, parece ter finalmente decifrado, pelo menos em grande parte, este enigma com o novo HDB 630. Se o leitor é daquelas pessoas que torce o nariz à linha Momentum por a achar demasiado “comercial” e olha para a série HD 600 com saudosismo, mas sem paciência para cabos e amplificadores dedicados, este texto é para si.

Durante as últimas duas semanas, estes auscultadores foram a banda sonora das minhas viagens em transportes públicos, das sessões de escrita concentrada na redacção e até de alguns momentos de audição crítica em casa, onde habitualmente reinam os sistemas com fios. A promessa da marca alemã é audaciosa: trazer a lendária neutralidade e palco sonoro da série HD para o mundo Bluetooth. Esta análise pretende verificar se o objectivo foi conseguido.

Design e conforto

Ao tirar os HDB 630 da caixa, percebe-se imediatamente que a Sennheiser não quis inventar a roda, mas sim refiná-la. O design afasta-se da estética puramente “lifestyle” dos Momentum 4 e aproxima-se da robustez industrial da linha HD profissional. A construção utiliza plásticos de alta densidade que transmitem solidez sem acrescentar peso excessivo. Com cerca de 310 gramas, não são “leves como uma pena”, mas a distribuição de peso no arco da cabeça é tão bem conseguida que a massa parece desaparecer após alguns minutos de uso.

As almofadas entre as mais confortáveis que testei este ano. Ao contrário do material sintético que aquece as orelhas nos modelos da concorrência, a Sennheiser optou por um revestimento híbrido que respira melhor, permitindo sessões de duas ou três horas sem aquele desconforto térmico típico dos modelos fechados. Ainda assim, ficam um pouco aquém do nível de conforto dos Bose QuietConfort Ultra 2G.

O isolamento passivo é competente, criando um selo eficaz mesmo antes de ligarmos a electrónica. É um equipamento sóbrio, que não grita por atenção na rua, o que agradará a quem prefere a discrição.




É fornecido um estojo de transporte, que é mais volumoso e pesado que os concorrentes mais próximos da Bose e da Sony
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Experiência de alta-fidelidade

É aqui que o HDB 630 se separa do pelotão. Enquanto a maioria dos auscultadores aposta numa assinatura sonora em “V” — com graves exagerados e agudos sibilantes para impressionar numa primeira audição na loja —, a Sennheiser manteve-se fiel ao seu ADN. A resposta de frequência é notavelmente plana e honesta.

Ao ouvir jazz ou música clássica, a separação instrumental é quase cirúrgica. Consegue-se apontar mentalmente onde está cada músico no palco, uma característica rara em auscultadores fechados e ainda mais rara em modelos Bluetooth. A tecnologia de transmissão, que tira partido dos codecs mais recentes disponíveis em 2025, garante que a compressão do sinal é praticamente imperceptível. Contudo, o verdadeiro trunfo surge quando utilizamos o adaptador (dongle) USB-C incluído (BTD 700) para uma ligação sem perdas, utilizando o codec aptX Adaptive: aí, o HDB 630 comporta-se como um verdadeiro monitor de estúdio, com um desempenho similar à utilização do cabo, revelando detalhes nas gravações que o utilizador nem sabia que existiam. Infelizmente, a utilização deste adaptador USB-C pode criar confusões, já que se a ligação Bluetooth for feita anteriormente sem este dongle, é essa a ligação que prevalece, mesmo depois de ligarmos o referido módulo — torna-se necessário recorrer à aplicação para eliminar as fontes e garantir que a ligação Bluetooth está a ser feira via dongle.

Outra vantagem para quem valoriza a qualidade de som, mas também a simplicidade, é a integração de um DAC (conversor digital-analógico), que permite garantir elevada resolução e frequência sem ser necessário usar um amplificador/DAC dedicado. Basta fazer a ligação por USB-C.

Os médios, região onde vivem as vozes e a maioria dos instrumentos, são apresentados com uma naturalidade desarmante. Não há aquele som “nasalado” ou abafado que por vezes aflige a concorrência. É um som “arejado”, que respira. Para quem gosta de graves que fazem tremer os dentes, este modelo poderá deixar a desejar início. O grave está lá, é rápido, preciso e desce muito baixo, mas não invade o resto do espectro sonoro. É um “grave para adultos”, se me permitem a expressão.




O módulo Bluetooth, que permite transmissão de som de elevada qualidade entre a fonte e os auscultadores, também pode ser usado em smartphones com porta USB-C
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Cancelamento de ruído e funcionalidades

No departamento do cancelamento activo de ruído (ANC), a Sennheiser fez um trabalho competente, embora não lidere o campeonato. Se o objectivo absoluto é o silêncio total numa viagem de avião, os Bose QuietConfort Ultra 2G e os Sony WH-1000XM6, que também já passaram pela nossa bancada de testes, oferecem algoritmos mais agressivos na eliminação de vozes humanas em ambientes de escritório.

O HDB 630 opta por uma abordagem diferente. O ANC é eficaz a eliminar o zumbido grave dos motores e o ruído de fundo da cidade, mas deixa passar alguma informação do meio envolvente nas frequências mais altas. A marca justifica isto com a preservação da qualidade sonora, argumentando que um ANC demasiado agressivo degrada a fidelidade do áudio. Na prática, é um compromisso aceitável: o utilizador ganha em qualidade musical o que perde em silêncio. Naturalmente, há o modo transparência para garantir que não perdemos conversas importantes. Mas, também aqui, os HDB 630 perdem para os concorrentes directos, na medida em que são menos “inteligentes” a perceber quando activar ou desactivar o modo transparência. E também perdem na capacidade de reconhecer quando estão a ser usados ou quando os retiramos — por vezes a música continua a tocar quando removemos os auscultadores.

Quanto às chamadas telefónicas, há vários microfones e o sistema faz um trabalho satisfatório a eliminar ruído ambiente, desde que não seja muito forte. Em situações mais ruidosas, senti-me obrigado a desligar os headphones e usar o telemóvel directamente. Não se pode dizer que os HDB 630 sejam os melhores auscultadores para fazer chamadas telefónicas, mas cumprem, e têm a vantagem de suportar duas ligações — por exemplo, podem estar ligados ao smartphone e ao PC em simultâneo.

A autonomia é outro ponto forte, rondando as 60 horas reais com o cancelamento de ruído ligado. É o tipo de bateria que nos faz esquecer onde deixámos o carregador, pois dura tranquilamente uma semana de uso intensivo. A aplicação de controlo é funcional e permite ajustar a equalização, embora, sinceramente, mexer na afinação de fábrica destes auscultadores pareça quase um crime.

Veredicto

O Sennheiser HDB 630 não é um produto para as massas. Não tenta agradar a todos e, talvez por isso, seja um produto tão especial. Enquanto a Sony e a Bose continuam numa corrida desenfreada por funcionalidades de software e cancelamento de ruído extremo, a Sennheiser focou-se no essencial: a música.

Não o recomendo a quem procura graves estrondosos para o ginásio ou silêncio absoluto para dormir no avião — para isso, os Sony WH-1000XM6 ou os Bose QuietConfort Ultra 2G são opções mais sensatas. Mas para o audiófilo que precisa de mobilidade, para o profissional criativo que quer editar áudio em viagem, ou simplesmente para quem quer ouvir a sua colecção de música tal como ela foi gravada, o HDB 630 é, neste momento, imbatível.


Tipo

Auscultadores over-ear sem fios com cancelamento de ruído adaptativo (ANC)

Driver

42mm (dinâmicos, com afinação audiófila)

Processador

DAC interno de 24-bit/96 kHz

Microfones

Sistema de microfones para ANC e chamadas de voz

Autonomia

Até 60 horas

Peso

311 gramas

Conectividade

Bluetooth 5.2, Dongle USB-C (BTD 700), cabo 3,5 mm, USB-C

Cores

Preto

Preço

499€