Quando a pequena Milagros nasceu, já tinha uma família grande, que só faria aumentar nas décadas seguintes. A caçula e oitava filha dos Suarez chegou ao mundo em 17 de abril de 1958, no Rio de Janeiro.

Na época, a família já tinha se estabelecido no Morro da Coroa, na região central da capital fluminense. O pai, Joaquim, e a mãe, Áurea, haviam deixado a Espanha —e a guerra— anos antes para tentar a vida no Brasil.

Enquanto o pai trabalhava em um posto de gasolina e a mãe lavava roupa na rotina de sustentar a casa e os oito filhos, Milagros, ou Emilia, como foi chamada por toda a vida, se divertia brincando pelo bairro. “Havia um areal ali do lado de casa, no Morro da Coroa, umas montanhas de terra, e as crianças brincavam muito ali”, diz a filha Jaqueline Suarez, 31.

Mas em torno dos sete anos de idade, Milagros passou a frequentar quase que diariamente o hospital, inclusive para dormir, por problemas de saúde que não soube dizer quais eram, segundo Jaqueline.

Mas as brincadeiras não diminuíram por isso. Fã de bonecas, pedia aos pais uma que tivesse cabelo. “Ela dizia que todas que tinha eram carecas, e a primeira com cabelo que ganhou foi uma Suzy, que existe e está até hoje com minha irmã.”

Guardar os pertences também virou marca registrada e motivo de debates com Jaqueline, que quis doar os brinquedos no começo da adolescência.

Conheceu o marido, Claudio Bastos, morto há seis anos, ainda na adolescência. Casaram-se e foram morar em uma casa no Fallet, favela também na região central do Rio, onde cultivaram um jardim e tiveram Raquel Suarez, 39, e Jaqueline.

No fim dos anos 1990, foi diagnosticada com um câncer de mama, que foi tratado, mas cujo impacto foi agravado também pela perda da irmã Amalia, com quem era mais grudada, vítima de câncer no cérebro em 2001.

Apesar das dificuldades, sempre foi brincalhona e dedicada a jardinagem, artesanato, confeitaria e todo tipo de trabalho manual. Às filhas também nunca faltou um bolinho, um pastel, por mais simples que fossem, nos aniversários e nas visitas. Também resgatava e animais e gostava de viajar ao Espírito Santo, para visitar a sobrinha Fernanda Suarez em Vila Velha e ir à praia.

Além de paparicar os netos Marco Antônio, 17, e Mylenna, 15, ambos filhos de Raquel, descobriu novos gostos. “Recentemente, ela havia perdido a paciência com novelas e foi para outros ramos em que só tem ‘60+’ e adolescentes, que são novelas turcas e dorama”, diz Jaqueline, avessa aos gêneros e grata à sobrinha Mylenna por acompanhar tudo com Milagros no Tiktok.

Milagros morreu em 14 de novembro, aos 67 anos, em decorrência do câncer de mama, que voltou. Ela deixa as filhas e os genros, os netos, um irmão e uma quantidade de sobrinhos, com seus descendentes, que Jaqueline disse ser incontável.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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