Microplásticos podem estar alterando dados essenciais do ciclo do carbono. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro) Fala Ciência

A presença de microplásticos no ambiente marinho há muito preocupa cientistas, mas novos resultados sugerem um problema ainda maior: esses fragmentos podem estar mascarando informações vitais sobre o ciclo do carbono, processo essencial para o equilíbrio climático do planeta. A partir de análises detalhadas conduzidas pela Universidade de Stony Brook e publicadas na PLOS One, surgiu a constatação de que partículas plásticas podem ser queimadas nos equipamentos de laboratório e registradas como se fossem matéria orgânica natural, alterando silenciosamente dados coletados ao longo de décadas.

Para entender o tamanho desse impacto, basta lembrar que o carbono orgânico particulado é usado para estimar a circulação, retenção e transformação do carbono nas águas profundas. Entretanto, quando microplásticos entram nas amostras, tornam-se um componente invisível que afeta o resultado final. A seguir, alguns pontos que esclarecem por que isso é tão relevante:

  • Microplásticos liberam carbono durante a combustão analítica;
  • Esse carbono pode ser registrado como se fosse de origem biológica;
  • Amostras podem ser contaminadas por fibras de roupas ou equipamentos;
  • Modelos climáticos dependem desses dados para prever mudanças ambientais;
  • Ajustes metodológicos tornam-se urgentes para evitar distorções futuras.

Quando a contaminação microscópica muda o panorama global

Partículas plásticas confundem medições e afetam modelos climáticos globais. (Imagem: Getty Images/ Canva Pro)
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Os microplásticos chegam ao oceano a partir de inúmeros caminhos, de rios a sistemas de esgoto e se misturam rapidamente às partículas orgânicas naturais. Por isso, tornam-se praticamente indistinguíveis em análises tradicionais. Ferramentas rotineiras de laboratório, usadas para quantificar carbono na água ou no sedimento, não foram desenvolvidas para separar carbono de origem biológica daquele liberado por polímeros sintéticos.

Essa falha metodológica pode explicar diferenças observadas nas medições realizadas em diferentes regiões ou períodos históricos. Embora pequenas discrepâncias parecessem, até agora, inofensivas, acumulam-se a ponto de influenciar modelos que simulam o comportamento do carbono no oceano e, por consequência, projeções sobre mudanças climáticas.

Um chamado para revisar protocolos científicos

Segundo os autores, incluindo Luis Medina, os resultados obtidos constituem a primeira evidência quantitativa de que microplásticos podem interferir diretamente na análise da matéria orgânica ambiental. O estudo reforça a urgência de rever protocolos de coleta e processamento de amostras, já que até mesmo equipamentos de laboratório podem ser fontes de contaminação.

A partir dessa nova compreensão, abre-se um caminho para métodos mais rigorosos e filtragens específicas que assegurem a integridade dos dados. Afinal, compreender corretamente o fluxo de carbono no oceano é fundamental para projetar cenários climáticos mais precisos e orientar políticas ambientais eficazes.