O artista americano Andres Serrano propôs, no início de julho, dedicar o pavilhão dos Estados Unidos na Bienal de Veneza ao presidente Donald Trump. A instalação, que ele descreve como “apolítica”, faria parte do projeto “The Game: All Things Trump” –”O Jogo: Tudo Sobre Trump”, em tradução livre.

“The Game” reúne milhares de objetos relacionados a Trump, como recortes de revistas de fofoca e jornais, um pedaço do bolo do casamento do presidente com Melania Trump, bonés com o lema “Make America Great Again“, uma carne da marca Trump Steaks. Serrano diz que já gastou mais de US$ 200 mil (cerca de R$ 1,11 milhão) na aquisição desses itens.

“Não sou juiz de nada, só um observador”, disse o artista à revista especializada The Art Newspaper. Segundo ele, a proposta não celebra nem critica Trump.

A instalação incluiria o filme “Insurrection”, de Serrano, sobre a invasão ao Capitólio americano em 6 de janeiro de 2021. Em 2022, um teatro de Londres cancelou a exibição do longa por considerá-lo muito favorável ao presidente. Em resposta, o artista afirmou: “Sou tão ‘pró-Trump’ quanto sou um padre jesuíta”. Entretanto, ele admitiu que a obra poderia ser “vista de muitas maneiras”.

Outro elemento da proposta é um retrato de 2004 do então empresário pertencente à série “America” de Serrano. Ele afirmou que escolheu Trump por ele ser a “personificação do sonho americano: um empresário bem-sucedido, empreendedor, magnata imobiliário e celebridade”.

A Bienal de Veneza estreia em maio de 2026. Em edições anteriores, artistas tiveram pelo menos um ano para preparar o pavilhão –este ano, o nome escolhido será anunciado em 1° de setembro, com cerca de oito meses para concluir o trabalho.

“Se formos aceitos, poderíamos perguntar ao presidente se havia algo que ele gostaria de contribuir”, afirmou Serrano sobre a proposta. “Não estamos falando de mercadorias ou mesmo de arte, mas de representação. Quem melhor para representar a América do que o próprio Presidente?”

Serrano é conhecido por suas obras polêmicas e provocativas. Uma das mais famosa é “Piss Christ” (1987), fotografia de um crucifixo de plástico submerso em um recipiente contendo a urina do artista. Acusado de blasfêmia, o artista negou e afirmou ser “um seguidor de Cristo”.

Alguns dos itens de “The Game” foram exibidos em Nova York, em 2019. O catálogo da mostra foi lançado em 2020 com ensaios da historiadora de arte Eleanor Heartney e do crítico de arte Jerry Saltz. Em agosto de 2024, Trump foi fotografado com a cópia autografada do livro.

O departamento de educação e cultura dos Estados Unidos afirmou a exposição para o pavilhão de Veneza deve enfatizar o “excepcionalismo americano”. O formulário de inscrição afirma que os projetos serão julgados “por sua capacidade de avançar a política externa dos EUA e promover os valores americanos, mantendo um ‘caráter não político‘”.

O projeto será escolhido pelo National Endowment for the Arts (NEA), que convocará um painel de jurados para avaliar as inscrições. O artista escolhido terá acesso a US$ 375 mil (R$ 2,08 milhões) para montar sua exposição. O mesmo órgão financiou sua fotografia de 1987, “Piss Christ”, e foi ameaçado por Trump.

Nos últimos meses, órgãos de fomento à arte e cultura sofreram cortes significativos sob a nova administração Trump. Profissionais do setor denunciaram demissões em massa e fim de políticas de inclusão e diversidade.