Um dos peixes mais consumidos em Portugal está a gerar polémica depois de um médico em Espanha afirmar que é tão nutritivo que poderia “aguentar” uma pessoa durante um mês, uma ideia que rapidamente ficou viral. O peixe apontado pelo médico em questão é a sardinha, apontada como um dos alimentos mais completos pela combinação de proteína, ómega-3 e micronutrientes.

A ideia foi divulgada pelo jornal espanhol 20minutos, que cita o médico Jorge García-Dihinx e aponta para este peixe como um “superalimento” pela combinação de macronutrientes e micronutrientes. 

No entanto, do ponto de vista da saúde pública, convém separar o que é uma mensagem “viral” daquilo que é um conselho alimentar seguro: sardinhas podem ser uma excelente escolha, mas viver apenas de um alimento levanta dúvidas nutricionais e clínicas. 

O que está a ser dito, e por que ficou viral

O ponto de partida é simples: o médico afirma que a sardinha oferece proteína, ómega-3 e várias vitaminas e minerais, e remete para a experiência do investigador Nick Norwitz, que divulgou publicamente um consumo muito elevado de sardinhas durante 30 dias. 

Norwitz partilhou resultados em vídeo e nas redes sociais, incluindo alterações em marcadores como o “omega-3 index”, o que ajudou a amplificar a narrativa de “comer sardinhas como atalho” para benefícios metabólicos. 

Mas é importante reter um detalhe: experiências individuais não substituem recomendações clínicas nem estudos robustos sobre segurança e adequação nutricional de dietas restritivas para a população em geral. 

Sardinhas são saudáveis? Sim, e há razões objetivas

Sardinhas (frescas ou em conserva) são um peixe gordo com interesse nutricional reconhecido: tendem a ser uma boa fonte de proteína, ómega-3 (EPA/DHA) e nutrientes como vitamina B12, cálcio e vitamina D (sobretudo quando se consomem as espinhas, no caso das conservas). 

Este perfil explica por que aparecem frequentemente ligadas a benefícios cardiovasculares e à saúde óssea, no contexto de uma alimentação equilibrada e variada. 

Ainda assim, “ser muito nutritivo” não significa “ser suficiente para tudo”: a qualidade de uma dieta depende também de diversidade de alimentos, fibras, vitaminas e compostos presentes em frutas, hortícolas e cereais integrais. 

O aviso dos especialistas: um alimento “único” não é plano alimentar

De acordo com o 20minutos, especialistas têm alertado que dietas baseadas num único alimento podem levar a desequilíbrios e carências, mesmo quando o alimento escolhido é saudável, e que não há evidência que suporte este tipo de estratégia como forma segura de alimentar-se durante semanas. 

No caso específico das sardinhas, há ainda pontos práticos: muitas conservas têm sal (o que pode ser relevante para quem controla tensão arterial), e o consumo frequente de peixe pode exigir atenção a orientações sobre variedade e exposição a contaminantes, sobretudo em grupos vulneráveis. 

A regra que continua a fazer mais sentido é simples: usar a sardinha como aliada, não como “dieta única”. Para mudanças grandes na alimentação, sobretudo com doenças crónicas ou medicação, o mais prudente é falar com um profissional de saúde (médico ou nutricionista).

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