Nem só de monstros, criminosos e tipos solitários é feito o universo do diretor Tim Burton, o cérebro criativo que deu cara para “Wandinha”.

Em sua segunda temporada, que chega nesta quarta-feira (6) à Netflix, a série com Jenna Ortega no papel-título traz de volta os párias sociais tão caros a Burton. Traz, também, outro tema precioso para o diretor, e talvez mais em sintonia com a multidão de fãs sub-20 que a personagem adquiriu desde a estreia, há quase três anos: o distanciamento da infância e o incômodo prenúncio da vida adulta.

Que os fãs não se preocupem, pois há um matador misterioso agindo nas imediações da Escola Nunca Mais (ou Nevermore, na versão original) e um mistério para a heroína gótica resolver. Novos vilões, novos amigos e a presença indesejada de seu irmão Feioso (Isaac Ordonez) no mesmo território garantem a justa medida de suspense e humor ácido que catapultou o sucesso da série.

O colégio tem um novo e pouco escrupuloso diretor, encarnado pelo excelente Steve Buscemi, uma nova professora de música (Billie Piper) e uma nova delegada (Luyanda Lewis-Nyawo) preocupada com o que se passa lá dentro. Com exceção de Tyler (Hunter Doohan), o boy-lixo da vida de Wandinha que está preso em um manicômio judicial, os colegas e amigos que a ajudaram a salvar a Escola Nunca Mais também continuam por perto (alguns deles com uns centímetros de altura a mais).

E há mais. Um dos condutores do enredo desta vez é a complexa relação da protagonista com a mãe, Morticia (Catherine Zeta-Jones), agora bem mais presente no colégio por ter sido convidada a encabeçar a comissão de doações.

Os roteiristas Alfred Gough e Miles Miller dão à matriarca da Família Addams seu próprio arco dramático. Ela tem problemas não apenas para se entender com a filha adolescente, mas também com a mãe, outra mulher de personalidade forte e responsável por ter construído a fortuna da família. Em mais um acerto de elenco, a personagem foi entregue a Joanna Lumley, a tresloucada Patsy de “Absolutely Fabulous” (1992-2012).

Se na primeira temporada Wandinha precisava se entender com o incipiente interesse romântico e sexual, nesta ela tenta se firmar como adulta, desvencilhando-se das expectativas dos pais. Em uma metáfora para o receio do que virá adiante e a sensação de ter de resolver as coisas sozinho, tão comuns a essa fase da vida, ela também vê falhar seu poder de ler o passado e o futuro das pessoas.

É uma condição ainda pouco confortável. Wandinha parece se divertir mais procurando quem está por trás dos tenebrosos corvos treinados para matar —um aceno a Alfred Hitchcock— do que lidando com a súbita fama, um reflexo do que ocorreu com Ortega por causa da personagem.

Além de Buscemi e Lumley, somam-se ao elenco Thandiwe Newton, como a psiquiatra que dirige o manicômio cheio de seus próprios fantasmas, e Haley Joel Osment (“O Sexto Sentido”), na pele de um serial killer. Christina Ricci, Wandinha da versão de 1991 da Família Addams, está de volta como a professora Thornhill.

Nenhuma cena comparável à icônica dancinha da personagem na primeira temporada aparece nos quatro episódios iniciais, os únicos liberados previamente a jornalistas pela Netflix. O humor cortante característico da personagem, entretanto, segue intacto.

A primeira parte da segunda temporada de Wandinha está disponível na Netflix, e a terceira já foi anunciada


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