Com que frequência você pega seu celular para obter direções, atender uma videochamada ou fazer uma busca no Google? Provavelmente mais vezes do que consegue contar.
O Google quer mudar isso, e não está sozinho. O gigante das buscas faz parte de um grupo crescente de empresas de tecnologia que está apostando alto em óculos inteligentes que utilizam inteligência artificial para transmitir informações do seu celular e analisar o ambiente ao seu redor usando câmeras e microfones.
O Google demonstrou seus óculos em maio e apresentou o software por trás deles há um ano. Na semana passada, mostrou à CNN e outros veículos uma visão mais detalhada do software, oferecendo um vislumbre melhor do que esperar quando os óculos forem lançados no próximo ano.
Pode ser um passo em direção a um mundo onde as pessoas não precisem mais pegar seus celulares a cada poucos segundos.
Isso se os óculos forem bem-sucedidos. O Google Glass, tentativa anterior da empresa com os dispositivos inteligentes, fracassou há cerca de uma década por serem pouco estilosos, caros, limitados em funcionalidade e por gerarem uma onda de preocupações com privacidade.
O Google depende principalmente de buscas, publicidade e serviços em nuvem para sua receita, então produtos de hardware como óculos inteligentes não vão fazer ou quebrar o gigante tecnológico de quase US$ 4 trilhões (cerca de R$ 21,7 trilhões). Mas as apostas ainda são altas para os óculos inteligentes, com gigantes da tecnologia ansiosos para estabelecer sua presença no que consideram ser a próxima onda de computadores pessoais.
“Se você observar como o Google e muitas empresas do nosso setor cresceram, sempre foi sobre expandir com novas plataformas de computação”, disse Juston Payne, diretor de gerenciamento de produto do Android XR, a plataforma de software que alimenta os óculos.
“Vemos a mesma coisa acontecendo neste espaço”, acrescentou.
A empresa já enfrenta forte concorrência, já que a Meta tem alardeado fortes vendas de seus óculos Ray-Ban, afirmando em uma teleconferência de resultados em outubro que seu modelo mais novo “esgotou em quase todas as lojas em 48 horas”. Companhias de tecnologia, incluindo o Google, já tentaram e falharam em tornar os dispositivos de realidade virtual e inteligentes um produto do dia a dia.
Óculos que podem ver — e alterar — o mundo ao seu redor
Semelhante aos óculos Ray-Ban da Meta, os aparelhos do Google permitem que você faça várias coisas sem usar as mãos, como tirar fotos, obter direções, atender chamadas e aprender sobre os objetos em seu campo de visão
Nesta demonstração e em anteriores, fiz perguntas ao Gemini como: “preciso ler os outros livros desta série?” ou “estas pimentas são picantes?” ao observar uma estante de livros ou itens de supermercado.
O Google fez algumas mudanças notáveis desde a última vez que experimentei seu protótipo há cerca de um ano. Após tirar uma foto do ambiente em que eu estava, o Google transformou instantaneamente a imagem para parecer o Polo Norte usando seu modelo de IA Nano Banana. Tudo isso com um simples comando de voz.
Fiquei impressionado, mas também um pouco preocupado com a facilidade e rapidez com que óculos como estes capturam e manipulam imagens.
O Google já havia percorrido esse caminho sinuoso há mais de uma década, quando seu fracassado Google Glass gerou controvérsia pela capacidade de tirar fotos e gravar vídeos discretamente.
Payne afirma que a empresa aprendeu com o que aconteceu com o Glass. Semelhante aos Ray-Bans da Meta, há uma luz no protótipo dos óculos que indica quando a câmera ou o modelo de edição de imagem com IA está em uso, e os usuários do Gemini podem excluir comandos e atividades no aplicativo.
“Nossa crença é que os óculos podem fracassar por falta de aceitação social. Em outras palavras, precisamos estar totalmente comprometidos” com a privacidade, disse Payne. O Google Glass, no entanto, enfrentou outros obstáculos.
Melhor que seu telefone em alguns aspectos, mas não um substituto
Em vez de olhar para baixo em seu telefone a cada esquina para se orientar em uma nova cidade, ou consultar traduções durante uma conversa com alguém que fala outro idioma, óculos como os do donos do buscador podem mostrar e recitar informações próximas à sua linha de visão e em seu ouvido.
A versão do Google Maps que experimentei nos óculos mostra uma seta apontando a direção correta próxima à linha de visão e o mapa quando você olha para baixo. É semelhante em funcionalidade à forma como funciona nos telefones, mas sem o incômodo de olhar para uma tela.
Mas prepare-se para algumas interações constrangedoras. Por exemplo, eu falei antes do Gemini estar pronto para ouvir e interrompi suas respostas em várias ocasiões.
As nuances sociais são apenas parte do motivo pelo qual os smartphones provavelmente não desaparecerão tão cedo, e por que Payne reconhece que os óculos não substituirão os telefones.
Mas a Google está disposta a apostar que os óculos terão algum papel no próximo grande dispositivo de computação — tanto que os óculos são até compatíveis com o maior rival do Android, o iPhone.
A empresa planeja vender os óculos em duas versões: uma com display e outra que fornece apenas feedback de áudio. O Google está fazendo parcerias com as fabricantes de óculos Warby Parker e Gentle Monster e ainda não informou quando serão lançados ou quanto custarão.
Também está desenvolvendo outro modelo com duas telas que pode exibir gráficos mais detalhados, mas a empresa não especificou exatamente quando será lançado.
Não é apenas o futuro da Google que depende do sucesso do Android XR e do Gemini. Assim como o Android para smartphones, o Android XR está disponível para outras empresas de tecnologia para que possam fabricar headsets e óculos alimentados pelo software. Samsung e Xreal, uma empresa especializada em óculos inteligentes, estão entre os primeiros parceiros da Google.
Quando questionado sobre o que aconteceria com a Xreal se o boom da IA se revelasse apenas um modismo, o fundador e CEO Chi Xu disse que acredita que “a IA é real”.