Cerca de 50 passageiros, jovens judeus maioritariamente de nacionalidade francesa, foram forçados a desembarcar de um avião da Vueling no Aeroporto de Valência, em Espanha, depois de a tripulação ter denunciado “comportamentos inapropriados” a bordo do avião, que tinha como destino Paris, noticia o El País. O incidente motivou críticas à companhia aérea, que acabou por ser acusada de antissemitismo pelo ministro de Assuntos da Diáspora de Israel.
De acordo com o comunicado emitido pela empresa, o grupo, composto por 47 jovens (com idades entre os 10 e os 15 anos) e quatro monitores, regressava, na última quarta-feira, de um acampamento de verão e terá adotado uma conduta descrita como “altamente conflituosa”. Entre os comportamentos apontados, destacam-se o uso indevido de equipamentos de emergência, a interrupção da demonstração de segurança obrigatória e a recusa em seguir as instruções da tripulação. Segundo a Vueling, foram feitos “vários avisos”, mas o “comportamento inapropriado persistiu”, levando o comandante a chamar a Guarda Civil para “proceder ao desembarque do grupo”.
Comunicado de Vueling en relación con el desembarque por comportamiento conflictivo en el vuelo VY8166 pic.twitter.com/ycEgm9dz9c
— Vueling Airlines (@vueling) July 24, 2025
Após a saída forçada do avião, o grupo terá mantido uma postura hostil e uma das monitoras foi detida por desobedecer às ordens dos agentes da Guarda Civil e se recusar a abandonar o interior da aeronave. A detenção foi registada num vídeo divulgado nas redes sociais, gerando indignação entre a comunidade judaica. De acordo com as autoridades, a monitora foi libertada pouco tempo depois.
O ministro dos Assuntos da Diáspora de Israel, Amichai Chikli, considerou a ocorrência como um dos mais graves incidentes antissemitas recentes. Na publicação que fez na rede social X, o governante alegou que os adolescentes estavam apenas a cantar canções hebraicas e acusou a tripulação de proferir afirmações hostis contra Israel.
The woman who was arrested and beaten is the director of the Kinneret summer camp.
Fifty Jewish French children, aged 10 – 15, were singing Hebrew songs on the plane.
The @vueling airline crew said that Israel is a terrorist state and forced the children off the aircraft; they… https://t.co/V78PEHB58B pic.twitter.com/HizF6SZoaD
— עמיחי שיקלי – Amichai Chikli (@AmichaiChikli) July 23, 2025
Os pais dos jovens manifestaram, também, indignação, descrevendo o incidente como um ato de discriminação. “As crianças ficaram traumatizadas”, disse uma mãe ao canal israelita i24News, acrescentando que se tratou de “uma cena de outra época”: “Foram alvo simplesmente por expressarem a sua cultura”.
Por seu turno, a Embaixada de Israel em Madrid comunicou que manteve contacto permanente com as autoridades espanholas e com os responsáveis pelo aeroporto de Valência, garantindo assistência consular ao grupo.
A companhia aérea nega as alegações de que o incidente se trata de um caso de antissemitismo e garante que o desembarque dos jovens franceses teve como único objetivo salvaguardar a segurança dos restantes passageiros. “A Vueling rejeita categoricamente qualquer forma de discriminação, sem exceção“, afirmou, insistindo que respeita “absolutamente” a expressão religiosa de todos os seus passageiros.
A Federação de Comunidades Judaicas de Espanha (FCJE) também se pronunciou, expressando preocupação e pedindo à companhia aérea explicações detalhadas sobre o sucedido. A instituição sublinhou que os relatos divulgados até agora são contraditórios e insuficientes para esclarecer se houve, ou não, motivações discriminatórias e pediu uma investigação. Contudo, a organização deixou claro que não questiona a ação da Guarda Civil e reafirmou o compromisso com o respeito, a convivência e a segurança de todos os cidadãos.
Entretanto, a associação responsável pela organização da viagem dos jovens franceses anunciou que vai apresentar uma queixa em França contra a Vueling. “Vamos apresentar uma queixa por violência física, psicológica e discriminação com base na religião”, afirmou à AFP.