Nasa divulgou imagens inéditas do 3I/Atlas no final de novembro.NASA / Reprodução
O dia 19 de dezembro promete ser decisivo para quem acompanha o cometa interestelar 3I/Atlas. Nesta data, o objeto, que vem intrigando pesquisadores desde junho, quando foi identificado por um telescópio chileno, fará sua máxima apropriação da Terra, passando a cerca de 270 milhões de quilômetros.
A distância é segura e não representa qualquer risco, mas a marca representa a melhor chance de coletar dados detalhados antes que o visitante siga para fora do Sistema Solar.
Conforme especialistas, essa será a janela mais valiosa para entender como o cometa se transformou após a passagem pelo Sol, quando perdeu parte da massa, mudou de brilho e teve sua estrutura alterada.
— É o momento em que ele estará mais perto e, portanto, mais fácil de ser estudado. Esse ponto permite comparar como ele chegou e como está saindo — explica a astrônoma Alejandra Daniela Romero, professora do Departamento de Astronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O que os cientistas esperam descobrir no dia 19?
A data é importante porque pode ajudar a esclarecer dúvidas que persistem desde a descoberta do 3/I Atlas. Uma delas é a extensão da perda de massa do cometa após passar próximo ao Sol.
A sublimação do gelo e a liberação de poeira costumam modificar significativamente objetos dessa natureza, e a comparação das imagens obtidas nos últimos tempos permitirá estimar o quanto ele mudou.
Pesquisadores também querem verificar se a velocidade permanece a mesma registrada antes do periélio (ponto da órbita de um objeto em que ele está mais próximo do Sol). Em princípio, ela deveria ser semelhante, mas alterações podem ocorrer caso o cometa tenha perdido excesso de material, algo que só pode ser confirmado agora.
Há ainda o interesse na composição química do Atlas. Desde os primeiros registros, ele chamou atenção por uma possível proporção incomum entre níquel e ferro.
— Objetos formados em ambientes muito distintos do nosso podem apresentar características que ainda não compreendemos totalmente — explica Alejandra.
Segundo a pesquisadora, é justamente por isso que a aproximação será útil: quanto mais dados forem obtidos agora, maior a chance de saber se essas particularidades são realmente excepcionais ou apenas reflexo da pouca quantidade de cometas interestelares já estudados.
Tema de teorias
Desde a descoberta, o objeto interestelar é alvo de ruído nas redes sociais. Diversas publicações chegaram a sugerir, sem fundamento, que a Nasa teria ativado um suposto “sistema de defesa interplanetária”.
Além disso, vídeos viralizaram insinuando que o objeto poderia ser artificial. Parte desse movimento ganhou força após o físico Avi Loeb, professor de Harvard, afirmar que o cometa apresenta características que mereciam atenção especial para a possibilidade de não ser um item natural.
A maioria dos pesquisadores, porém, trata o caso com cautela e vê o objeto como um cometa natural, com comportamentos compatíveis com outros corpos já estudados.
— Tudo segue as leis da natureza. As anomalias químicas são anomalias, mas não é que a natureza não possa fazer isso. Nunca podemos ter 100% de certeza, porque não conseguimos ir lá ver. Mas até agora as evidências não favorecem a explicação de algo artificial. Parece algo feito pela natureza e se comporta segundo as leis da natureza — reforça Alejandra.
O que seria realmente “estranho” aos olhos da ciência?
A astrônoma explica que só evidências muito claras justificariam considerar uma origem artificial. Isso incluiria uma forma excessivamente simétrica, incompatível com objetos rochosos; algum mecanismo ativo de correção de rota; emissões eletromagnéticas específicas que indicassem comunicação; ou estruturas que lembrassem tecnologia.
— Se fosse uma nave, teria algum tipo de controle de curso, de sinal, algo que estivesse operando ali dentro. Até agora, nada disso foi observado — afirma.
Mesmo com a “aproximação”, vale ressaltar que não há risco de colisão. Objetos interestelares se deslocam em velocidades tão altas que dificilmente mudam de direção bruscamente.
Além disso, os cálculos já consideram a influência gravitacional dos planetas, e Júpiter segue atuando como o grande “porteiro” dos visitantes que cruzam o sistema.
— É muito difícil desviar um objeto tão rápido. Júpiter acaba atraindo e desviando muitos deles antes que cheguem perto da Terra — explica a pesquisadora.
“Um adeus definitivo”
Após a máxima aproximação, o cometa segue viagem para fora do Sistema Solar, se tornando rapidamente difícil de observar. Assim, os dados coletados entre novembro e dezembro devem compor praticamente tudo o que a ciência conseguirá aprender sobre o Atlas nas próximas décadas.
Vale lembrar, porém, que, com novos telescópios automatizados entrando em operação, como o Vera Rubin, no Chile, astrônomos esperam que entre um e três objetos interestelares sejam detectados por ano.
— Agora que temos mais instrumentos olhando o céu o tempo todo, vamos encontrar mais visitantes. Isso ajuda a entender o que é realmente anômalo ou não — afirma a pesquisadora.