
Assusta ver até onde algumas pessoas estão dispostas a ir em nome da “perfeição”. Mas, no fundo, perfeição para quem?
Remodelar ou retirar ossos do próprio corpo para parecer “sexy” é uma loucura. E, ainda assim, há quem o faça. Voluntariamente.
Tudo em nome do culto das celebridades, da ascensão do Ozempic e desse mundo bizarro das tendências de beleza nas redes sociais, que tratam o corpo humano como se fosse um avatar personalizável.
Um dos exemplos mais extremos desta tendência é a remoção de costelas, que foi recentemente abordada num artigo do New York Post sobre Emily James, uma influencer de 28 anos que decidiu tomar (literalmente) medidas drásticas para atingir a perfeição.
A jovem norte-americana gastou 13.750 dólares (cerca de 12 mil euros) numa cirurgia que lhe retirou seis costelas, três de cada lado, para reduzir a cintura que tinha, de 80 cm, para cerca de 60.
Mas em vez do “corpo de sonho”, teve 7 meses de sofrimento. “Não recomendo a cirurgia de remoção de costelas a ninguém”, disse a jovem no TikTok.
Na sua publicação, Emily sublinha o óbvio, aquilo que todos os cirurgiões avisam: “Já não tenho costelas a proteger o fígado e os rins”, o que significa que qualquer impacto sério pode tornar-se catastrófico.
A versão mais antiga desta operação, conhecida como costectomia, ou cirurgia da “cintura de formiga”, existe desde a década de 1970. Os cirurgiões costumam remover a 11.ª e a 12.ª costelas, o par curto e “flutuante”.
Nunca se tornou um procedimento generalizado por uma razão simples: as pessoas percebiam que os ossos têm uma função. Mas as modas do corpo estão a mudar mais depressa do que o bom senso, e a nova obsessão por cinturas minúsculas abriu espaço para o reaparecimento deste tipo de intervenção.
A remodelação das costelas, ou “RibXcar“, apresenta-se como uma alternativa menos agressiva — pelo menos em teoria, nota a Vice. Em vez de retirar ossos, os cirurgiões fraturam parcialmente as costelas flutuantes através de pequenas punções e dobram-nas para dentro.
O cirurgião plástico Thomas Sterry, especialista certificado em Nova Iorque, descreveu o procedimento como uma forma de “amolecer o córtex externo” para criar fraturas controladas que alteram o contorno da cintura.
Depois, as pacientes têm de usar um espartilho quase 24 horas por dia, durante vários meses, para manter a nova silhueta. Ainda assim, há mulheres a inscrever-se.
Uma das pacientes de Sterry, Shiqi Ma, contabilista de 27 anos, pagou cerca de 10 mil dólares (algo como 8 mil euros) para “afinar” a cintura antes do casamento. “A minha nova cintura faz-me sentir mais sexy”.
Os médicos e cirurgiões que realizam o procedimento garantem que remodelar o corpo é algo natural. Bem menos entusiasmados estão os psicoterapeutas.
É o caso da psicoterapeuta nova-iorquina Lesley Koeppel, que alerta que ligar a autoestima a mudanças físicas tão drásticas pode tornar as pessoas vulneráveis: embora a intervenção possa dar um impulso temporário à confiança, a verdadeira força emocional depende do crescimento pessoal — não de uma cintura apertada até ao limite.
Até que ponto as pessoas se sentirão pressionadas a esculpir-se para corresponder a falsos ideais estéticos, à procura de corpos que quase não existem fora do ecrã?