Da Eutanásia à guerra na Ucrânia e ao papel da UE na política externa e terminando na greve geral desta quinta-feira, o debate entre António Filipe e Jorge Pinto levou os dois candidatos apoiados por partidos à esquerda (CDU e Livre, respetivamente), a querer marcar diferenças.

O frente a frente desta segunda-feira, 8 de dezembro, começou por um tema onde já era sabido que ambos os candidatos tinham posicionamentos diferentes: a eutanásia. Coube a António Filipe abrir as hostilidades, com o ex-deputado comunista a defender que a lei (que ainda aguarda regulamentação por parte do Governo) “não deve” regressar ao Parlamento, onde já foi aprovada. Apesar de ter reservas e de preferir o “outro ângulo” (de ter uma sociedade onde há cuidados paliativos para quem mais precisa), não haveria dúvidas de que promulgaria a lei. No entanto, iria questionar “quando e se o Governo” regulamentaria o diploma. Jorge Pinto, por seu lado, defendeu ser a favor de dar “dignidade” a quem optar pela eutanásia e criticou o facto de a lei “estar na gaveta” após ter sido aprovada pelo Parlamento e promulgada pelo Presidente da República.

Passando depois para o que levou ambos os candidatos a decidirem entrar na corrida a Belém, o deputado do Livre justificou o anúncio “à 25.ª hora” da sua candidatura: havia a esperança de uma candidatura abrangente à esquerda. Não existindo essa hipótese, decidiu chegar-se à frente para poder dar “diversidade” à esquerda, algo que considerou não ser “mau”. Já António Filipe autointitulou-se como o candidato defensor dos valores do 25 de Abril e contra o que diz ser o “consenso neoliberal” reinante no país há várias décadas.

Mas foi o tópico seguinte (a política externa e o posicionamento da UE perante o conflito na Ucrânia) que fez ambos os candidatos tentarem marcar mais diferenças. António Filipe intitulou-se como “patriótico” e disse não ser um candidato “eurodependente”, tentando demarcar-se de Vladimir Putin, Ursula von der Leyen ou Donald Trump, com os quais disse não ter “nada a ver”. Antes, Jorge Pinto já dissera que “em 2025, ser patriota é ter uma voz no projeto europeu”. A discussão esteve largos minutos focada neste tema e, a certa altura, o candidato apoiado pelo Livre perguntou mesmo a António Filipe se é “tão crítico” de Zelensky como de Putin. O candidato apoiado pela CDU respondeu de forma perentória: “Claro que sim.” E reiterou (como já fizera noutros debates) que não há ninguém em Portugal “mais distante de Putin” do que o PCP. Tal como fizera no frente a frente com Gouveia e Melo, reiterou ainda que o caminho do conflito na Ucrânia deve ser o da paz, mas que devem ser as partes a chegar a um acordo. Isto levou Jorge Pinto a constatar que existe “uma clivagem” considerável entre ambos os candidatos, e defendeu-se dizendo ser um “pacifista”.

A aproximação entre ambos – mas ainda algo distantes – surgiria já no final da discussão, com o tema da greve geral. Aqui, ambos os candidatos criticaram o Governo e a forma como quer mexer no Código do Trabalho. Jorge Pinto disse que o Executivo está a atacar os direitos de quem trabalha e António Filipe mostrou-se esperançoso numa derrota do pacote laboral “ainda antes das eleições presidenciais”. O comunista acusou ainda, pelo meio, o seu oponente de não se distanciar do tal “consenso neoliberal” neste aspeto – algo que Jorge Pinto assumiu “estranhar”.

O próximo debate presidencial acontece esta terça-feira, 9 de dezembro, será transmitido na SIC (21h00), e vai colocar frente a frente Henrique Gouveia e Melo e António José Seguro.

Leia em baixo o ‘filme’ do debate entre António Filipe e Jorge Pinto: