Opinião
Artigo de opinião de João Rosado. O FC Porto parece ter abdicado da Taça da Liga e aposta todas as fichas no campeonato.

PAULO NOVAIS
Sozinho em casa, na véspera de Natal, Francesco Farioli, entregue apenas aos seus pensamentos, deve fazer muitos filmes. Para todos os géneros e gostos. Dos mais cómicos, com base na engraçada declaração deste domingo proferida pelo compatriota Cristiano Bacci (“eu sou um treinador italiano, Farioli não”…), aos mais trágicos, com base em tudo aquilo que só se julgava possível na tela de cinema mas que aconteceu mesmo na vida desportiva do profissional portista.
Parece que foi há imenso tempo, mas basta recuar oito meses para se achar o período mais negro da carreira do jovem em quem André Villas-Boas confiou o maior investimento da história do clube de forma a fazer cair no esquecimento o triste legado de Martín Anselmi.
Na segunda quinzena de abril deste ano, o Ajax então orientado por Farioli mergulhou numa espiral de insucessos que transformou o passeio no campeonato num pesadelo que ainda hoje provoca noites de terror ao gigante de Amesterdão.
Após um ciclo de três vitórias consecutivas (uma delas no terreno do PSV e com o guarda-redes Matheus Magalhães a fazer uma assistência para Bernard Traoré), o mais titulado emblema dos Países Baixos ficou com a cabeça nas nuvens e deixou escapar uma vantagem que se pensava irrecuperável aos olhos do segundo classificado.
Concluída a jornada 29 da última edição da Eredivisie, Francesco Farioli usufruía de qualquer coisa como nove (nove!) pontos de avanço sobre o referido PSV, ou seja, só precisava de fazer seis pontos nos derradeiros cinco jogos para desfilar com as faixas de campeão.
Para gáudio dos guionistas que acham que no futebol ainda há muito para inventar e muito para ser escrito, o que é certo é que o Ajax, a partir da jornada 30, borrou a pintura com derrotas perante FC Utrecht e NEC e empates diante de Sparta e Groningen, de nada valendo o triunfo na derradeira ronda a expensas do Twente.
Matheus Magalhães, ex-guarda-redes do Sp. Braga, e Farioli, juntos no Ajax, em 2024-25.
Alex Bierens de Haan
Feitas as contas, ao cair do pano, o lugar mais alto do pódio acabou por ser festejado em Eindhoven por um mísero ponto, destroçando o coração de um Farioli que não aguentou o desgosto causado a milhares de adeptos, ao ponto de confessar a imediata indisponibilidade para continuar ao serviço dos lanceiros.
No FC Porto, o final promete ser muito diferente. Com cinco pontos de avanço sobre o Sporting e com mais oito que o Benfica, os dragões têm condições privilegiadas para erguer o troféu que se lhes escapa há três anos.
E há várias razões para se pensar assim. No que toca ao calendário, sabem que na segunda volta vão receber o rival que está mais próximo, o que contrabalança com a obrigatoriedade de atuarem na Luz.
Por outro lado, fizeram questão de se despedir da sempre mal-amada Taça da Liga (somente três habituais titulares no onze que perdeu na Invicta com o Vitória de Guimarães) e arranjaram maneira de usufruir de um descanso importante no início de 2026, quiçá para acautelar o putativo choque com Mourinho nos quartos de final da Taça de Portugal.
Nem sequer a baixa de Luuk de Jong, vítima de grave lesão e peça fora do baralho até maio, parece capaz de estragar esta projeção, pelo menos levando em consideração as péssimas notícias que entretanto lançaram novos dados sobre a mesa de Rui Borges. O Sporting pode ficar privado de Geovany Quenda durante oito semanas e está quase a perder Geny Catamo para a seleção de Moçambique que vai disputar a Taça das Nações Africanas.
Sports Press Photo
A estas inconveniências para os bicampeões nacionais deve acrescentar-se a circunstância de Pote e Francisco Trincão não terem sido convocados para o duelo desta noite com o Bayern Munique, o que é revelador da preocupação que o estado físico dos dois internacionais portugueses causa em Alvalade.
Ao contrário de Frederico Varandas, que se recusou a entrar em loucuras para fazer entrar mais um extremo no final de agosto, Villas-Boas continua sem olhar a meios na temporada do sim ou sim e fez saber que está disposto a reabrir os cordões à bolsa para assegurar em janeiro o ingresso de um central, de um flanqueador e muito provavelmente de um avançado.
É verdade que o FC Porto, em teoria, precisa de se reforçar nestes lugares, mas, atendendo à intermitência de Gabri Veiga e ao tremendo desgaste de Viktor Froholdt, também está carenciado para a posição 8.
Kenneth Taylor, o médio de 23 anos que alimentou um dos sonhos de verão não desapareceu do radar portista e seria uma magnífica solução a curto prazo.
Kenneth Taylor, médio do Ajax.
Peter Dejong
Ninguém melhor do que o internacional neerlandês que ainda está no Ajax para acompanhar Farioli no que resta de uma época em que o míster não se pode dar ao luxo de voltar a afundar o barco depois de milhas e milhas distanciado da concorrência.
A perda do título deixaria o italiano, aos 37 anos, no fim da linha. Sozinho em casa, esmagado pelas duas versões do Titanic.