Jessica, Perla, Julie, Ariane e Naïma são mães-adolescentes oriundas de classes sociais desfavorecidas dos arredores de Liège, na Bélgica. Ainda há pouco eram crianças e já têm bebés nos braços. Enfrentam diversas dificuldades com a sua nova condição. Têm o desespero no horizonte. Mas não perderam a esperança. Este filme vai acompanhá-las numa estrutura circular em que as personagens vão surgindo em ordem sequencial, aspecto nunca antes explorado pelo cinema dos veteranos Jean-Pierre e Luc Dardenne, com quem conversámos há algumas semanas, após a estreia da obra no último Festival de Cannes. Um filme frontal, intenso, necessário.
Jovens Mães passa-se numa instituição pública, numa casa de acolhimento para mães-adolescentes com dificuldades financeiras. Porque decidiram que havia neste local um filme a fazer?
Jean-Pierre Dardenne (JPD) — No início, como de costume, partimos do guião que escrevemos, sobre a história de uma rapariga que habita numa daquelas casas de acolhimento, jovem mãe com um bebé, e que não consegue, por diversos problemas, ter uma relação com esse bebé. No guião, essa rapariga encontrava depois um rapaz com problemas psiquiátricos, encontro esse que, em seguida, transformava por completo a relação dela com o seu filho. Isto era o que tínhamos escrito no papel. Dissémo-nos que, apesar de tudo, seria conveniente visitar uma daquelas casas de acolhimento [“maison maternelle”], para observar como as coisas funcionam por dentro. Existe uma não muito longe de Liège, a 20 minutos de carro de onde estamos a falar agora. Depois da primeira visita, regressámos diversas vezes. Falámos com as educadoras, a diretora, a psicóloga, mas não com as adolescentes, pois são menores e é difícil para elas falar das suas histórias com pessoas externas. Aliás, o regulamento da instituição proíbe essas conversas.
Que aconteceu ao guião?
JPD — Pois bem, a uma dada altura demo-nos conta de que não fazia sentido impor a nossa história a esta realidade, voilà. Nisto, a nossa atenção já estava focada noutras coisas, em gestos do quotidiano muito práticos que fomos presenciando a cada visita, uma espécie de entreajuda, em torno da preservação da vida, que nos tocou. Essa entreajuda levou-nos logo a pensar em várias personagens, diferentes mães-adolescentes. Não sabíamos quantas. Este filme nasce, de facto, do nosso encontro com aquele lugar.
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