Ainda sabes viver sem passar horas no TikTok, no Instagram ou no YouTube? Os jovens australianos vão ter de aprender e resistem à ideia. Alguns pais preparam-se para ajudá-los a contornar a lei.
A Austrália avançou com a proibição das redes sociais para utilizadores com menos de 16 anos. A lei, pioneira a nível mundial, entra em vigor já esta quarta-feira, dia 10 de Dezembro, e vai excluir milhares de crianças e adolescentes das redes sociais.
Há dez plataformas abrangidas pela nova medida e cabe a cada uma fazer cumprir a lei. As plataformas que não excluírem os jovens com menos de 16 anos podem enfrentar multas de 28 milhões de euros.
Para já, as redes sociais afectadas são o Instagram, TikTok, YouTube, X, Facebook, Threads, Reddit, Kick, Twitch e Snapchat, mas o governo garante que a lista pode ser alterada no futuro, consoante os produtos que surgirem e as alternativas que os utilizadores jovens encontrarem.
A reacção dos adolescentes afectados
A proibição visa proteger os jovens dos riscos que as redes sociais representam para a saúde mental. Mas a decisão está a ser posta em causa pelos jovens afectados. À Reuters, Annie Wang, de 14 anos, disse que a medida pode piorar a saúde mental de algumas pessoas abrangidas pela proibição. “Vai ser pior para as pessoas queer e para as pessoas com interesses de nicho, porque essa é a única forma de encontrarem uma comunidade, algumas pessoas usam as redes sociais para desabafar sobre o que sentem e pedir ajuda.”
Muitos adolescentes que a partir desta quarta-feira perdem o acesso às redes sociais resistem à medida e procuram formas de contornar a nova legislação. Ao The Washington Post, Mariska Adams, de 16 anos, contou que os adolescentes “só querem ficar em contacto com os amigos” e afirmou que esta medida “não vai resolver os problemas como eles acham que vai”. Mariska Adams contou que quando uma app pediu para submeterem fotografias para verificação de idade, submeteram uma de um golden retriver – e funcionou.
O primeiro-ministro australiano explicou que vai haver casos em que os mecanismos de verificação de idade vão ter falhas e disse que “desde o princípio sabíamos que o processo não seria 100% perfeito”.
Há pais que vêm esta medida com bons olhos e que anseiam que entre em vigor, mas outros são contra. Ao The Guardian, um tutor disse que devido a esta lei, mostrou “como funcionam as VPN’s e outros métodos de passar por cima das restrições da idade”, confessou. Além disso, diz ter tido de “configurar uma conta de YouTube para adultos”.
Não é caso único. Ao The Washington Post, Evelyn, de 14 anos, disse que vai continuar a usar o Instagram e o Snapchat – vai usar o rosto da mãe para entrar nas plataformas (um plano que a mãe apoia). A jovem confessou que as amigas planeiam usar as caras das mães e irmãs mais velhas de cada vez que tiverem de fazer login nas redes sociais.
Segundo a Sky News Australia, o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, disse, num vídeo a ser passado esta semana nas escolas, que a proibição quer proteger os jovens e aliviar a pressão que vem com os feeds infinitos e com os algoritmos. No mesmo vídeo, Albanese disse: “Aproveitem ao máximo esta época de férias escolares que se aproxima. Em vez de a passarem a fazer scroll no vosso telemóvel comecem um novo desporto, aprendam a tocar um instrumento novo ou leiam aquele livro que está parado há algum tempo na vossa estante. E mais importante, passem tempo de qualidade com os vossos amigos e família, cara a cara.”
Medida abre precedentes
O resto do mundo observa o desenrolar da proibição, mas já há alguns países a caminharem na mesma direcção para contornar as consequências das redes sociais no desenvolvimento dos jovens. Malásia, Dinamarca e Noruega anunciaram que vão adoptar uma medida de proibição semelhante.
O Parlamento Europeu aprovou um relatório que pede que os jovens só possam aceder às redes sociais a partir dos 13 anos, mas com consentimento dos pais – e fixar a idade mínima para entrar nas redes sociais sem consentimento dos pais nos 16 anos. Além disso, o Parlamento Europeu pediu ainda à Comissão Europeia que as plataformas digitais proíbam práticas viciantes – para prevenir, por exemplo, o scrolling infinito.
A medida do governo australiano não é consensual, especialmente entre as empresas por trás das plataformas, que afirmam que a medida de proibição viola a liberdade de expressão individual. Segundo a Reuters, as plataformas dizem que não lucram com a publicidade com menores de 16 anos, mas que ainda assim esta medida interrompe um fluxo de futuros utilizadores. O governo australiano garante que antes de a proibição entrar em vigor 86% dos jovens entre os 8 e os 15 anos tinham redes sociais.
Das dez redes sociais, todas menos o X disseram que vão aceder a esta medida, sendo que vão aferir as idades a partir da actividade online, estimativas de idade com base em fotografias ou até analisar documentos de identificação. Elon Musk, proprietário do X, disse que a medida “parece uma forma dissimulada de controlar o acesso à Internet por todos os australianos”.