Ainda esteve na primeira edição do Campeonato do Mundo de Clubes nos EUA, quase como se tivesse de escrever por última vez o seu nome numa competição que ficará para a história, voltou a parar para perceber aquilo que o futuro lhe podia reservar. Agora, e pela primeira vez, nenhuma das abordagens que foi tendo era do seu agrado. Nem a parte desportiva, nem o plano financeiro, sobretudo o desafio. Esperou um mês, outro mês, mais um mês. Deixou de esperar, não adiou o inevitável: aos 37 anos, Rui Patrício decidiu colocar um ponto final na carreira, antes de ser homenageado, na próxima sexta-feira, na Cidade do Futebol pela FPF.

O adeus, esse, chega com muito mais do que alguma vez imaginou quando, a troco de apenas 1.500 euros, deixou o Leiria e Marrazes onde começou como avançado mas recuou para a baliza pela altura e rumou ao Sporting, fazendo parte daquela que é considerada em termos internos como a primeira verdadeira fornada made in Alcochete. Entre os mais próximos admite que o facto de nunca ter sido campeão nacional apesar de estar perto por mais do que uma ocasião é um espaço em branco na vitrine de tudo o que foi conseguindo no futebol, mas são mais os momentos para mais tarde recordar do que propriamente episódios para esquecer. À parte de tudo o resto, sagrou-se campeão europeu sendo uma das grandes figuras de Portugal.

Aliás, fazer história foi quase uma marca de água na carreira do guarda-redes de quase 1,90 nascido em Marrazes. Após ter feito parte de uma geração que se tornou campeã de iniciados (Sub-15), juvenis (Sub-17) e juniores (Sub-19) pelo Sporting, além de mais dois troféus regionais de Sub-17, Rui Patrício foi chamado pela primeira vez aos seniores como opção de circunstância, com Ricardo e Tiago lesionados. Resultado? Vitória dos leões por 1-0 na Madeira frente ao Marítimo, penálti defendido pelo ainda júnior. Na época seguinte, a de 2007/08, subida ao plantel principal, aposta depois da lesão e posterior questões disciplinares de Stojkovic, um caminho que não mais mudaria apesar dos erros no início que Paulo Bento foi “perdoando”.

A aposta consolidou-se de forma natural, o número 1 tornou-se indiscutível, a braçadeira chegou quase como uma inevitabilidade. Ao todo, e até 2018, Rui Patrício realizou mais de 460 jogos oficiais pelo Sporting, com a conquista de duas Taças de Portugal, uma Taça da Liga e duas Supertaças. Nessa época, e na antecâmara do Campeonato do Mundo de seleções na Rússia, o guarda-redes foi o primeiro a par de Daniel Podence a avançar para a rescisão unilateral por justa causa, também em litígio com o então presidente do clube, Bruno de Carvalho. Rui Patrício assinou pelos ingleses do Wolverhampton, havendo mais tarde um acordo entre conjuntos para o pagamento de 18 milhões de euros pelo seu passe, dos quais 14 milhões para os leões.

Não mais a carreira do guarda-redes voltaria a passar por Portugal, com três anos onde foi praticamente totalista em todos os encontros do Wolves na Premier League e mais três onde rumou à Roma e à Serie A com José Mourinho, tendo conquistado a primeira edição da Liga Conferência em 2021/22 além da final perdida da Liga Europa logo na temporada seguinte. Na última época, Rui Patrício esteve na Atalanta, neste caso já como suplente (seis jogos), antes de assinar pelo Al Ain, campeão asiático que esteve no Mundial de Clubes e que bateu o Wydad após ser goleado pela Juventus e pelo Manchester City.

Na Seleção, e depois de ter sido internacional em todas as camadas jovens com um terceiro lugar no Europeu de Sub-17 em 2004, Rui Patrício ganhou a primeira internacionalização A em 2010 e assumiu depois o lugar de número 1 da baliza portuguesa, estando no terceiro lugar do Europeu de 2012 e na conquista do Europeu de 2016 em França, sendo considerado o melhor guarda-redes da competição e terminando a votação da Bola de Ouro desse ano em 12.º. Somou 108 jogos pela Seleção, fazendo o último jogo em 2024.