As Forças Armadas de Israel (IDF, na sigla em inglês) colaboram activamente — e desde a fase de planeamento — com o estabelecimento de nova presença de colonos na Cisjordânia ocupada, disse um responsável militar num programa no canal 11, a estação pública de televisão de Israel, falando dos chamados outposts (destacamentos) para colonatos “selvagens”, que são estabelecidos sem autorização formal do Estado, normalmente com um conjunto de caravanas.

A admissão marca uma mudança assumida na política militar israelita, nota o diário liberal Haaretz. Isto acontece quando há vários colonos no Governo e uma intenção repetida de anexar a Cisjordânia, mesmo com um coro de vozes internacionais (incluindo de aliados como os EUA ou a Alemanha) a dizer que esse plano não pode avançar.

Segundo o responsável militar que falou com o canal 11, desde Julho de 2024, quando foi nomeado um novo general para o comando central das Forças Armadas de Israel “começou a tomar forma um mecanismo formal para se estabelecerem novas explorações agrícolas na Cisjordânia com toda a cooperação do comando” militar com os colonos.

Não há apenas um conhecimento por parte dos militares da intenção de estabelecimento de um novo destacamento, mas sim o que o militar descreveu como “uma parceria” no “processo preliminar de consulta”.

A diferença é grande: anteriormente, este tipo de destacamentos surgiam “sem o conhecimento ou coordenação do Exército”, disse o militar, “ou seja, apareciam nas sombras” e os militares eram “forçados a aceitar um facto consumado”.

Há anos que organizações que monitorizam colonatos israelitas no território ocupado, como a B’Tselem ou a Peace Now, se queixam de que o Exército age em conjunto com os colonos, por exemplo quando estes atacam localidades ou explorações palestinianas.

Mas agora “não se trata de coordenação tácita”, sublinhou o militar ouvido pelo canal 11. Há mesmo um responsável, dentro do comando, por esta questão, que faz uma visita ao local escolhido, envolve o comandante da brigada local, envia mapas, e leva toda a informação ao chefe do comando para aprovação, descreveu. “Há uma ordem”, explicou. “Detalha as forças alocadas à segurança do local, como estão deslocadas e quantas caravanas há na quinta. É um processo totalmente organizado”, diz.

A violência contra palestinianos na Cisjordânia ocupada (a ocupação por Israel dos territórios palestinianos foi, no ano passado, considerada ilegal pelo Tribunal Internacional de Justiça) aumentou desde o ataque do Hamas de 7 de Outubro de 2023. A ONU diz que 2025 foi o ano com maior número de ataques de colonos no território desde que começou a documentá-los, em 2006: cerca de 77 localidades foram atingidas por grupos de colonos que queimaram carros, pilharam equipamentos, e vandalizaram mais de 4000 árvores.

A apanha da azeitona foi um dos palcos dos ataques, com uma agressão, filmada, contra uma mulher palestiniana idosa, a provocar especial condenação.

A acompanhar o aumento da violência, há um número de voluntários de Israel e de outros países a acompanhar os palestinianos — no pastoreio, ajudando agricultores a aceder às suas terras (por vezes colonos ou militares impedem-no), ou estando simplesmente presentes para aumentar o número de pessoas no grupo dos palestinianos, tornando menos prováveis ataques de colonos.