A chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, defendeu hoje o uso dos ativos russos congelados para financiar a Ucrânia como “ponto de viragem” e haver “falta de pressão” sobre Moscovo nas negociações de paz lideradas por Washington.
A Comissão Europeia propôs um empréstimo utilizando o dinheiro associado aos bens russos congelados por sanções como uma das formas de financiar a Ucrânia nos próximos anos, mas a Bélgica, país onde se encontra a maior parte destes ativos na Europa, opõe-se à iniciativa.
Numa comparência na comissão de Negócios Estrangeiros do Parlamento Europeu, Kallas sublinhou que o trabalho sobre esta proposta está em curso e manifestou confiança de que os líderes dos 27 Estados-membros da União Europeia (UE) chegarão a acordo sobre o assunto na cimeira europeia que se realizará na próxima semana em Bruxelas.
“Ainda não chegámos a acordo, mas o trabalho está em marcha, e isso é importante porque pode ser um ponto de viragem em muitos aspetos”, comentou.
Na sua opinião, tal enviaria à Rússia sinal de que não “aguenta mais” que a UE e à Ucrânia, de que o clube comunitário “está a ajudá-la”.
“É também um sinal [à Rússia] de que não se pode safar impunemente dos danos que está a causar”, acrescentou.
Segundo a Alta Representante da UE para a Política Externa, se todos os Estados-membros tivessem dado o apoio militar que agora estão a fornecer à Ucrânia nos primeiros meses da invasão russa em grande escala do país, iniciada em fevereiro de 2022, “o resultado teria sido diferente”.
Sobre as conversações de paz lideradas pelos Estados Unidos com a Rússia e a Ucrânia, Kallas observou que “é evidente que não há muita pressão sobre a Rússia”.
“Não podemos chegar a uma situação em que haja um acordo de paz que recompense a agressão, porque aí vamos ver mais agressão”, sustentou.
A este propósito, acrescentou que a guerra na Ucrânia se prolonga porque a Rússia “se recusa a parar” e que o Presidente russo, Vladimir Putin, “finge que a Europa é o obstáculo à paz, quando nada poderia estar mais longe da verdade”.
“Esta guerra está a acontecer em solo europeu, portanto, a forma como a guerra termina importa aos europeus. Não é do nosso interesse que a Rússia volte a atacar. O custo de apoiar a Ucrânia hoje é insignificante em comparação com o que teríamos de gastar numa guerra em larga escala na União Europeia”, alertou.
Kaja Kallas sublinhou ainda que a Europa tem “a influência económica para impor um fim justo a esta guerra”, mas que essa influência “só funciona quando é utilizada”, argumentando que, por essa razão, deveriam ser feitos esforços para fornecer à Ucrânia empréstimos a partir dos bens russos congelados e para aprovar a imposição de novas sanções ao Kremlin.
“Dar à Ucrânia os recursos de que necessita para se defender não prolonga a guerra; pode ajudar a pôr-lhe fim”, vincou.