Narrativas de amadurecimento ganharam destaque este ano, explorando o momento caótico do nascimento de um novo mundo. Outros jogos utilizam a poderosa ferramenta da nostalgia para proporcionar um breve alívio. E os jogos de mistério ressurgiram com força, com diversas histórias de detetive em que os protagonistas reconstroem narrativas opacas e incompreensíveis de uma forma coerente. Não é de se admirar que tais jogos sejam atraentes neste momento.

Cena do jogo 'Artis impact' — Foto: Divulgação Cena do jogo ‘Artis impact’ — Foto: Divulgação

O mundo em pixel art, belissimamente renderizado, foi criado, assim como todas as outras partes deste RPG, por um único desenvolvedor malaio. A história acompanha a jornada de uma heroína mágica e seu sarcástico parceiro robô. Eles cruzam uma paisagem distópica devastada por uma guerra entre humanos e IAs bestiais que rugem em estática distorcida antes de ser abatida por golpes de espada.

Uma abordagem ousada, usando células de quadrinhos e animação ágil para os momentos com mais diálogos, permite que Artis Impact seja audacioso em sua narrativa. O jogo consegue evocar grandes ideias como alienação e desespero em relação ao futuro, e no instante seguinte disparar diálogos repletos de piadas que zombam de si mesmo e dos gêneros de RPG dos quais faz referência. (PC)

Cena do jogo 'Baby Steps' — Foto: Divulgação Cena do jogo ‘Baby Steps’ — Foto: Divulgação

Este é um videogame sobre o absurdo dos videogames. A maioria deles faz parecer fácil controlar um pequeno personagem num mundo tridimensional. “Baby Steps” força os jogadores a parar e questionar essa premissa básica. Cada passo que você dá é doloroso e deliberado, já que você controla cada perna separadamente e precisa manobrá-las de forma que seu personagem não tropece ou caia.

Não importa o quão cuidadosamente você jogue, seu avatar cairá inúmeras vezes, de maneiras comicamente dolorosas. E os outros personagens que você encontra pelo caminho pintam um mundo de masculinidade distorcida e cruel que zomba da clássica fantasia de poder dos videogames. (PC, PlayStation 5)

Cena do jogo 'Consume me' — Foto: Divulgação Cena do jogo ‘Consume me’ — Foto: Divulgação

Embora aparentemente seja um jogo sobre dietas, “Consume Me” rapidamente se revela uma comovente exploração autobiográfica das ansiedades da adolescência feminina. Utilizando uma gama criativa de interações, como Tetris na hora das refeições, dobrar roupa e esticar uma figura desengonçada em várias posições como “exercício”, o jogo mostra a personagem progredindo pelos últimos anos do ensino médio e entrando na faculdade, lutando o tempo todo para equilibrar as pressões exercidas pelos pais, pela escola, por paixões e, principalmente, por si mesma.

“Consume Me” conta uma história envolvente sobre sistemas de crenças, sobre encontrar, perder e reencontrar um recipiente para todos aqueles sentimentos confusos que borbulham de dentro. (PC)

Cena do jogo 'Despelote' — Foto: Divulgação Cena do jogo ‘Despelote’ — Foto: Divulgação

Outra história autobiográfica, “Despelote” se concentra nos anos que antecederam a improvável entrada do Equador na Copa do Mundo de 2002. O jogo é apresentado na perspectiva em primeira pessoa de um jovem obcecado, como todos em sua cidade, por futebol. Seu estilo artístico com efeito de meio-tom cria uma atmosfera onírica, que se encaixa perfeitamente na narrativa do jogo: um sonho não tão bem lembrado de uma infância que pode ou não ter acontecido.

Dentro desse sonho, o personagem briga com a irmã por causa do tempo de TV, joga futebol na rua com os amigos e leva bronca da mãe ressentida. É uma bela reflexão sobre como tendemos a nos lembrar da infância e dos prazeres dessa fase, sempre ameaçados pelos valores e pressões do mundo adulto. (PC, PS4, PS5, Switch, Xbox One, Xbox Series X|S)

Cena do jogo 'Hades II' — Foto: Divulgação Cena do jogo ‘Hades II’ — Foto: Divulgação

“Hades II” mantém a ação de alta qualidade estabelecida por seu antecessor. É tão frenético, empolgante e envolvente jogar com a jovem Melinoë quanto era controlar Zagreus.

A sequência aprofunda os sistemas do primeiro jogo, já que o estilo de Melinoë exige um pouco mais de estratégia. Afinal, ela é uma bruxa e usa magia, principalmente, para derrotar inimigos, aprisionando-os em seus encantamentos e lançando raios de energia deslumbrantes. Essa mudança na jogabilidade se alinha com uma maior empatia por uma personagem que, ao contrário do rebelde Zagreus, precisa encontrar seu caminho de volta ao submundo, para uma família que perdeu antes mesmo de realmente conhecer. (PC, Switch, Switch 2)

Cena de 'Keep Driving' — Foto: Divulgação Cena de ‘Keep Driving’ — Foto: Divulgação

Este é um simulador de viagens nostálgicas, de contemplação das nuvens e de devorar a última mordida de pizza, tudo ao mesmo tempo. O charme de “Keep Driving” está na sua sistematização de atmosferas. Os power-ups vêm na forma de CDs reciclados, aromatizadores de ar e adesivos para carros.

Em vez de inimigos, você enfrenta buracos na estrada e sonolência. Ambientado em uma fantasia millennial incrivelmente vibrante, “Keep Driving” não é apenas uma carta de amor ao carro como meio de transporte, mas à liberdade jovem e irrestrita que ele representa. (PC)

‘Kingdom Come: Deliverance II’

Cena de 'Kingdom Come: Deliverance II' — Foto: Divulgação Cena de ‘Kingdom Come: Deliverance II’ — Foto: Divulgação

Uma sequência surpreendente após um primeiro jogo problemático e politicamente conturbado, “Kingdom Come: Deliverance II” se destaca da grande maioria dos jogos de mundo aberto pela profundidade de seus sistemas em um cenário histórico na Boêmia.

Recuse-se a tomar banho e os moradores da cidade o evitarão. Deixe sua espada perder o fio e ela se quebrará na ombreira do próximo bandido. Coma ou beba demais e você ficará incapacitado. Essas simulações complexas se encaixam perfeitamente em um mundo intrigante e repleto de atividades aparentemente infinitas. Você irá desde defender um gueto judeu a marchar em uma coluna de batalha condenada, até passar um dia aprendendo sobre vinhos raros em um vinhedo. (PC, PS5, Xbox Series X|S)

Cena de 'Mafia: The Old Country' — Foto: Divulgação Cena de ‘Mafia: The Old Country’ — Foto: Divulgação

Enquanto “Kingdom Come: Deliverance II” oferece escala, “Mafia: The Old Country” mostra como contar uma história envolvente focando em uma narrativa concisa e eficiente. Seu cenário aberto serve principalmente como um pano de fundo deslumbrante para um drama policial intimista que acompanha a ascensão de um órfão ambicioso nas fileiras de uma família mafiosa siciliana do início do século XX.

A especificidade de tempo e lugar proporciona retratos ricos de um país em convulsão, com minas de enxofre, trabalhadores em greve e fábricas invadindo vinhedos e campos de lavanda. Também confere profundidade à história mais pessoal, um conto romântico sobre ir além das próprias possibilidades. (PC, PS5, Xbox Series X|S)

Cena de 'The Roottrees Are Dead' — Foto: Divulgação Cena de ‘The Roottrees Are Dead’ — Foto: Divulgação

O sucesso de “The Roottrees Are Dead” reside no prazer inerente de desvendar um caso e finalmente compreender o quem, o o quê e o porquê de tudo.

No início, o jogador se depara com um grande quadro de interrogações, uma misteriosa árvore genealógica que precisa ser explorada para resolver uma disputa de herança. Para isso, é necessário vasculhar recortes de jornais e sites antigos. A sensação de sucesso ao descobrir uma nova série de identidades, vendo seus retratos e biografias se completarem, é ainda mais prazerosa pelo fato de você não ter apenas assistido passivamente a tudo acontecer. (PC)

‘The Séance of Blake Manor’

Cena de 'The Séance of Blake Manor' — Foto: Divulgação Cena de ‘The Séance of Blake Manor’ — Foto: Divulgação

Alguns mistérios são maiores do que nós e têm raízes profundas no passado. Essa ideia está sempre presente em “The Séance of Blake Manor”, desde o cenário, uma propriedade na Irlanda subjugada pela Grã-Bretanha, até os sonhos e visões que assombram seu investigador, encarregado de encontrar uma mulher desaparecida em meio a uma suspeita multidão de místicos.

Cada pergunta e observação rotineira consome minutos do relógio e o aproxima de um possível fracasso. Como resultado, você deve navegar cuidadosamente pela teia de mentiras que se estende à sua frente, evitando armadilhas e obstáculos. A arte 2D limpa, que lembra um livro de histórias encontrado no sótão de um avô ou avó, esconde profundezas ricas de mistério e interações intrigantes. (PC)

Menções Honrosas: Absolum, The Alters, Blue Prince, Promise Mascot Agency, Silent Hill