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Nos últimos quatro anos, médicos e cientistas do mundo todo têm tentado decifrar por que milhões de pessoas continuam a apresentar sintomas por muito tempo após a infecção pelo Sars-CoV-2. Fadiga extrema, dificuldade de concentração, falta de ar, perda de memória e dores inexplicáveis passaram a compor a rotina de pacientes que, mesmo após meses ou anos do fim da fase aguda da doença, continuam presos a uma condição debilitante e misteriosa conhecida como “Covid longa”.

Agora, uma nova linha de investigação científica sugere uma hipótese para a persistência dos sintomas. Em vez de apontar apenas o coronavírus como o responsável, pesquisadores sugerem que o quadro pode ser alimentado por outras infecções que permanecem silenciosas no organismo – e são reativadas quando o sistema imunológico é abalado.

A hipótese foi apresentada em um artigo escrito por 17 de especialistas em microbiologia e doenças infecciosas, que analisaram evidências acumuladas desde o início da pandemia e divulgaram a proposta no periódio eLife. O argumento central é que vírus e bactérias que já estavam presentes no corpo – muitas vezes de forma latente (adormecidos) – podem ganhar força após a Covid-19 e prolongar ou intensificar os sintomas por longos períodos.

Um dos principais suspeitos é o vírus Epstein-Barr, conhecido por causar a mononucleose. A maioria dos adultos carrega esse vírus de forma inativa. Estudos recentes indicam que, em muitos pacientes com Covid longa, ele volta a se tornar ativo, coincidindo com quadros de exaustão persistente e déficits de memória e atenção.

Outro possível agravante é a tuberculose latente, que permanece adormecida em uma parcela significativa da população mundial. Pesquisas sugerem que a infecção pelo coronavírus pode enfraquecer as defesas responsáveis por manter essa bactéria sob controle, criando condições para seu ressurgimento – muitas vezes sem sinais clássicos da doença.

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Os cientistas também destacam que o momento em que essas infecções ocorrem pode ser decisivo. Uma infecção anterior pode deixar o sistema imune vulnerável; uma infecção simultânea pode ampliar o dano aos tecidos; e uma infecção posterior pode se aproveitar de um organismo que ainda não se recuperou plenamente do impacto da Covid-19.

Dados globais reforçam essa preocupação. Desde o início da pandemia, dezenas de países relataram aumentos expressivos em diversas doenças infecciosas. Uma das explicações levantadas é que a própria infecção pelo coronavírus pode deixar um “rastro” de enfraquecimento imunológico, tornando o corpo mais suscetível a outros patógenos.

Se essa hipótese se confirmar, o impacto pode ser imediato na prática clínica. Medicamentos já existentes, hoje usados contra vírus e bactérias específicas, poderiam ser testados de forma direcionada para tratar pacientes com Covid longa, abrindo caminho para terapias mais eficazes do que as abordagens atuais, que se limitam a aliviar sintomas.

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Apesar do entusiasmo, a comunidade científica mantém a cautela. Até o momento, não há provas definitivas de que essas coinfecções causem a Covid longa. O que existe são associações consistentes e um conjunto de mecanismos biológicos considerados plausíveis.

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“Todos já ouviram isso inúmeras vezes, mas é preciso repetir: correlação não é causalidade”, alertou Maria Laura Gennaro, microbiologista da Universidade Estadual de Nova Jersey (Rutgers) e uma das autoras do artigo, em comunicado.

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Demonstrar causa e efeito exigirá grandes estudos populacionais e modelos experimentais mais sofisticados, algo que ainda representa um desafio.

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