Quanto a questões internacionais, Carlos Daniel pede a Catarina Martins para explicar o seu voto no Parlamento Europeu a favor de ajuda militar à Ucrânia, realçando que esse é um tema que a separa de António Filipe. “Faço parte de uma tradição da esquerda que acredita na autodeterminação dos povos, em todos os cenários, e que acredita que os povos têm direito à resistência armada”, diz a eurodeputada bloquista, para quem “é normal que se apoie a Ucrânia perante a invasão da Rússia”.
Apesar disso, Catarina Martins garante estar empenhada num acordo de paz “que os ucranianos queiram”, dizendo-se “chocada” com a proposta do presidente norte-americano Donald Trump, que “vai de encontro a todas as pretensões de Putin”. E diz que há uma diferença entre apoiar a defesa da Ucrânia e promover “uma escalada militar”, voltando a ser instada pelo moderador a clarificar até onde deverá ir essa ajuda.
“Já devíamos estar há muito tempo numa negociação de paz em que a União Europeia se fizesse ouvir, em vez de ser subalternizada em relação aos interesses de Trump, que também são os de Putin”, diz a candidata presidencial, para quem a melhor solução seria a neutralidade ucraniana garantindo a integridade do seu território. E critica a União Europeia por “não ter investido na diplomacia da paz” em 2022, quando Zelensky estaria mais disposto a negociar.
“Continuar a deixar os ucranianos morrerem como estão a morrer, e a sua economia a ser destruída, porque a União Europeia continua a ser um capacho dos Estados Unidos, que neste momento estão aliados com a Rússia, é um erro brutal e uma irresponsabilidade”, remata.
António Filipe volta a defender, como em todos os debates, que “é completamente errado defender que se chega à paz com o envio de armas”. E prefere dirigir-se à interlocutora, dizendo que “ambos somos solidários com o povo da Palestina, mas não nos passa pela cabeça que a paz no Médio Oriente passa por enviar armas para os palestinianos”. Quanto à Ucrânia, enumera as “oportunidades para chegar à paz” que considera desperdiçadas pela União Europeia. “O caminho é apostar tudo na diplomacia”, insiste o comunista, para quem “quanto mais tarde chegar a paz, pior será para a Ucrânia”, voltando a defender que “entre Putin e Zelensky venha o diabo e escolha”.
Quando Carlos Daniel faz notar que na Palestina o candidato presidencial apoiado pelo PCP “consegue identificar facilmente o agressor e o agredido”, perguntando-lhe porque tem dificuldades em fazê-lo na Ucrânia, António Filipe aponta os “dois pesos e duas medidas” que considera existirem na União Europeia entre a Palestina e a Ucrânia, tendo em conta a “recusa da existência de um genocídio”.
Catarina Martins concorda que há dois pesos e duas medidas, mas critica António Filipe. “O facto de um governo não ser um bom governo não se resolve com uma invasão. Portugal teve uma ditadura durante 48 anos, tinha uma guerra colonial, e certamente que ninguém de esquerda pediu para ser invadido”, diz a bloquista, recordando que esteve em Kiev com opositores a Zelensky, mas testemunhou que “todos querem combater a invasão da Rússia”.
“Também condenei a invasão”, reage António Filipe, para quem a solução militar do conflito “passará necessariamente pela capitulação da Ucrânia”. “Eu não quero isso”, garante.