A Prémio Nobel Paz e dirigente da oposição venezuelana Maria Corina Machado elogiou nesta quinta-feira “as acções do Presidente Trump” e considerou a apreensão pelos Estados Unidos de um petroleiro venezuelano como “um passo necessário” para enfraquecer o regime “criminoso” de Nicolás Maduro. Em conferência de imprensa em Oslo, na presença do presidente do Comité Norueguês, Jorgen Watne Frydnes, Machado considerou que a pressão exercida ao longo dos últimos meses por Washington tem sido “decisiva para chegar ao ponto em que estamos agora”, apontando um momento de crescente fraqueza do regime de Caracas e declarando que “quem declarou guerra aos venezuelanos foi o regime de Maduro”.
As palavras da laureada foram proferidas depois de um navio petroleiro venezuelano ter sido apreendido, na véspera, numa operação da Guarda Costeira norte-americana e do FBI, com o auxílio do Departamento de Defesa. “Acabámos de apreender um petroleiro na costa da Venezuela — um navio muito grande, o maior alguma vez interceptado, na verdade. Outras coisas também estão a acontecer, verão mais tarde”, afirmou o Presidente norte-americano, que disse na quarta-feira aos jornalistas estar em causa “uma excelente razão”, sem a detalhar. Mais tarde, a procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi justificou que o petroleiro era objecto de sanções há “vários anos” devido ao seu “envolvimento numa rede ilícita de transporte de petróleo que apoiava organizações terroristas estrangeiras (…) que transportava petróleo sancionado da Venezuela para o Irão”.
Today, the Federal Bureau of Investigation, Homeland Security Investigations, and the United States Coast Guard, with support from the Department of War, executed a seizure warrant for a crude oil tanker used to transport sanctioned oil from Venezuela and Iran. For multiple… pic.twitter.com/dNr0oAGl5x
— Attorney General Pamela Bondi (@AGPamBondi) December 10, 2025
Em Oslo, Machado acusou precisamente o regime de Maduro de ser cúmplice da presença e acção na Venezuela de agentes russos e iranianos, bem como de elementos do grupo xiita libanês Hezbollah, aliado de Teerão. A opositora de Maduro apelou ainda às “democracias do mundo” para cortar os canais de financiamento do regime. Machado acusou o governo de usar a riqueza energética do país com as maiores reservas mundiais de petróleo “para reprimir o povo venezuelano”, em vez de usá-la para investir na saúde ou na segurança.
Sobre um eventual regresso de Machado a Caracas, este está agora em dúvida no curto prazo. “O meu regresso à Venezuela acontecerá quando se derem as condições propícias à minha segurança e não depende da continuidade do regime”, declarou na Noruega, onde falhou na quarta-feira, por escassas horas, a cerimónia de entrega do Prémio Nobel de 2025, recebido pela filha em sua representação. “O que há que continuar a fazer é trabalhar pela transição e prosseguir com a pressão externa”, acrescentou.
O Governo de Maduro, por seu turno, qualificou entretanto a apreensão do petroleiro venezuelano como um “acto de pirataria internacional” e um “roubo descarado” por parte dos EUA. “Ficaram finalmente à vista as verdadeiras razões da agressão prolongada contra a Venezuela. Não é a imigração. Não é o narcotráfico. Não é a democracia. Não são os direitos humanos. Sempre se tratou das nossas riquezas que pertencem exclusivamente ao povo venezuelano”, declarou o executivo de Caracas em comunicado.
A nova acção norte-americana nas Caraíbas insere-se num reforço da presença militar de Washington na região, onde está neste momento colocada 20% da sua capacidade ofensiva, como indica o El País, e segue-se ao bombardeamento de mais de 20 embarcações na zona. Mais de 80 pessoas morreram na ofensiva, que a Administração Trump justifica com a necessidade de combate ao narcotráfico, mas que decorre quem o necessário aval legal do Congresso.
Em Washington, de resto, diversos membros do Senado norte-americano interpretam a apreensão do petroleiro venezuelano como mais um sinal da iminência de um conflito em larga escala. O republicano Rand Paul, frequentemente crítico da Administração Trump, considerou que a acção “parece-se muito com o início de uma guerra” e sublinhou não ser “função do Governo americano sair à procura de monstros pelo mundo, procurar adversários e iniciar guerras”.
No campo democrata, Jeff Merkley, senador do Oregon, tentou ainda na quarta-feira fazer aprovar uma resolução para travar qualquer acção militar decretada por Trump sem a devida autorização do Congresso. “Enquanto estamos aqui neste plenário, o Presidente Trump prepara-se para lançar uma guerra — uma guerra contra a Venezuela — sem uma declaração formal de guerra, sem autorização do Congresso, sem qualquer dotação orçamental aprovada pelo Congresso”, afirmou Merkley. “Por isso vim ao plenário para reafirmar o papel constitucional do Congresso na decisão de entrar em guerra.” A iniciativa, contudo, não colheu o necessário apoio dos republicanos no Senado.