“Grunhidos”, “insultos racistas”, “provocações” e “comportamentos intimidatórios”. O episódio – que envolveu uma comitiva do Chega – aconteceu na terça-feira durante um voo de Lisboa para Bruxelas e foi denunciado pelo diretor executivo da Black Europeans, Miguel Cardoso, nas redes sociais.

O ativista, diretor executivo e coordenador nacional desta organização de combate ao racismo diz ter sido alvo de insultos racistas e ameaças por parte de uma comitiva do Chega, que incluía deputados e assessores – o que já motivou uma queixa contra o líder parlamentar do partido, Pedro Pinto, em Bruxelas. Miguel Cardoso garante que irá avançar com uma nova queixa às autoridades portuguesas contra o Chega por difamação e ameaças.

Durante duas horas e meia, um grupo de deputados e assessores do Chega protagonizou de forma sistemática insultos racistas, grunhidos, provocações constantes, palavras de baixo nível e um comportamento intimidatório de matilha, conta o ativista nas redes sociais.

Segundo o relato, quando o avião aterrou na capital belga, a jornalista Paula Cardoso proclamou: “Racismo nunca mais, 25 de Abril sempre!” numa reação à situação. Em resposta, o líder da bancada do Chega dirigiu-se ao ativista e fez-lhe ameaças diretas. O conflito levou o comandante do voo a fazer uma advertência aos envolvidos e anunciar que tinha chamado a polícia belga.

O Chega divulgou um excerto do episódio que só mostra a resposta de Miguel Cardoso à comitiva do partido: “Vocês não respeitam nada. Eu gosto da democracia, vocês não gostam da democracia. Podes mandar parar o teu exército de racistas que eu não tenho medo.” Na “Folha Nacional”, publicação do Chega, e nas redes sociais, o partido conta o seu lado da história com o título: “Diretor da Black Europeans insulta deputados do Chega em voo para Bruxelas”. Tal leva o ativista a prometer uma queixa contra o partido juntos das autoridades portuguesas por difamação e ameaças nas redes sociais.

“Como tantas vezes acontece, filmaram apenas o que lhes convinha, apenas a parte que favorece a narrativa que querem construir”, queixa-se Miguel Cardoso.

Por fim, o ativista questiona até quando serão permitidos comportamentos inadequados por parte de deputados dentro e fora do Parlamento: Até quando vamos fingir que este tipo de comportamento intimidatório é normal? Estamos a falar de representantes da República que, ano após ano, têm estado envolvidos em controvérsias públicas, queixas, denúncias e episódios amplamente noticiados. Quem lhes permite transformar o Parlamento – e agora até um avião – num palco intimidatório?, indaga, classificando a atuação dos membros do Chega como própria de um “gangue”.

No Parlamento, os vários episódios que envolvem deputados do Chega levam os partidos a ponderar a revisão do Código de Conduta, ainda que estejam divididos quanto à eficácia de sanções, como noticiou o Expresso. Com vários casos na Comissão de Transparência e Estatuto dos Deputados, o tema deverá voltar a ser discutido em breve na Assembleia da República.