Craig Williams/The Trustees of the British Museum

Ilustração artística de faíscas de sílex e pirite.

É a mais antiga prova de uso de ferramentas para acender fogo de forma deliberada. Importante descoberta coloca humanos a fazer fogo 350 mil anos do que se pensava.

Um conjunto de vestígios descobertos numa pedreira de argila em Barnham, no Reino Unido, pode recuar em centenas de milhar de anos o momento em que os humanos passaram a ser capazes de acender fogo de forma deliberada, um passo considerado altamente fundamental na evolução da nossa espécie.

A equipa, liderada pelo arqueólogo Rob Davis, do British Museum, identificou sedimentos cozidos, artefactos aquecidos e fragmentos de pirite usados como potencial isqueiro pré-histórico. As análises sugerem que estes materiais terão sido manipulados há mais de 400 mil anos, muito antes das provas mais antigas até agora conhecidas de fogo produzido intencionalmente, que remontavam apenas a cerca de 50 mil anos.

Entre os achados contam-se dois pequenos fragmentos de pirite oxidada, um deles junto a quatro machados de mão de sílex com fraturas típicas de exposição a altas temperaturas, bem como uma “lareira” de sedimentos avermelhados, adianta o Science Alert. Estudos geológicos mostram que a pirite é rara naquela zona, o que aponta para o transporte deliberado para o local com o objetivo de produzir faíscas.

As propriedades dos sedimentos cozidos indicam episódios de aquecimento repetido, compatíveis com fogueiras de acampamento usadas ao longo do tempo, e não com um incêndio pontual de origem natural. Segundo os investigadores, esta combinação de provas reforça a hipótese de que grupos humanos já dominariam técnicas de produção de fogo, possivelmente ao percutir machados de pedra contra pirite.

Os autores do estudo publicado na Nature esta quarta-feira atribuem estes vestígios a neandertais que habitavam a Inglaterra paleolítica. O domínio do fogo permitir-lhes-ia cozinhar de forma regular, conservar carne e explorar melhor raízes e tubérculos, reduzindo o esforço de digestão e aumentando a ingestão de proteínas.

Além do impacto imediato na dieta, os investigadores sugerem que o acesso estável ao fogo terá funcionado como foco de sociabilidade, favorecendo a convivência em grupos maiores, o fortalecimento de laços sociais e, a longo prazo, o desenvolvimento de cérebros maiores e de relações sociais mais complexas.

Craig Williams/The Trustees of the British Museum

Ilustração artística de um incêndio em Barnham há cerca de 400 mil anos.

A mesma conclusão já tinha sido alcançada por outros estudos, como um publicado na Scientific Reports em 2019 que encontrou na Arménia sedimentos que  sugerem que os neandertais não só controlavam o fogo, como também dominavam a capacidade de o produzir.


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