A cerca de um ano de António Guterres abandonar o cargo de secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o organismo internacional abriu formalmente o processo para escolher o sucessor do português. Numa carta conjunta enviada pelos presidentes da Assembleia Geral e do Conselho de Segurança da organização internacional aos 193 Estados-membros, no fim do mês passado, a ONU apelou à apresentação de candidatos que possuam os “mais altos padrões de eficiência, competência e integridade”, sublinhando a importância da representatividade geográfica dos candidatos e da “igualdade de oportunidades para candidaturas de mulheres e homens”. A carta – que marca o início da corrida à sucessão de Guterres – abriu caminho a uma disputa que já conta com uma forte concentração de candidatos da América Latina.

O atual líder da ONU, que nunca teve uma mulher à cabeça, deixa o cargo no final de 2026. Segundo as recomendações para o processo de eleição, o Conselho de Segurança escolhe um nome em julho, devendo o eleito assumir o posto no primeiro dia de 2027. Depois de os Governos apresentarem as candidaturas, seguir-se-á uma fase de audições públicas na Assembleia Geral da ONU, que só pode eleger o novo secretário-geral (para um mandato de cinco anos, renovável por mais um) após recomendação formal dos 15 Estados-membros do Conselho de Segurança, com destaque para os cinco membros permanentes (EUA, China, Rússia, Reino Unido e França), que têm poder de veto. Embora faltem vários meses para que haja fumo branco em Nova Iorque, três nomes já declararam a pré-candidatura.

Rafael Grossi: diplomata experiente em mediar conflitos

Diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica, com 40 anos de experiência em assuntos nucleares, o argentino Rafael Grossi tem mediado crises (como em Zaporíjia), supervisionado programas (como no Irão) e promovido a não-proliferação e o uso pacífico da energia nuclear, defendendo o desarmamento através de acordos. Formado em Ciências Políticas e Relações Internacionais, Grossi tem manifestado disponibilidade para liderar a ONU e centrar o mandato na paz, na segurança e no multilateralismo.


Foto: Lex Halada/EPA

Michelle Bachelet: a médica que venceu a presidência do Chile

Pediatra de formação, socialista por convicção. Filha de um militar morto pela ditadura de Pinochet, Michelle Bachelet – presa, torturada e exilada -tornou-se na primeira mulher a ocupar a presidência chilena, em 2006. Também ex-Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, soma trabalho na área humanitária e um currículo político que pode levar a que, pela primeira vez na História, seja uma mulher a liderar a organização internacional. Bachelet foi também a primeira diretora da ONU Mulheres, a agência das Nações Unidas que promove igualdade de género e os direitos das mulheres.


Foto: Ludovic Marin / AFP

Rebeca Grynspan: economista dentro das Nações Unidas

Antiga vice-presidente da Costa Rica e atual secretária-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento, Rebeca Grynspan soma experiência nas áreas de desenvolvimento, comércio e cooperação internacional. Formada em Economia, ocupou vários altos cargos no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e foi nomeada subsecretária-geral da ONU em 2010.


Foto: Fabrice Coffrini / AFP

Pormenores

António Guterres
No cargo desde 2017, prepara-se para concluir o segundo mandato no fim de 2026, deixando como legado a defesa da paz, da dignidade humana e do reforço da cooperação internacional.

Nacionalidades
Dos nove secretários-gerais da história da ONU, quatro vieram da Europa, dois da Ásia, dois de África e um da América Latina.

ONU nunca teve uma mulher na liderança
A organização encorajou os Estados-membros “a considerarem seriamente a indicação de mulheres como candidatas”, lembrando “com pesar” que a organização nunca teve presidência feminina.