Um vídeo divulgado na quinta-feira pela agência australiana de segurança dos transportes mostra o momento angustiante em que o paraquedas ficou preso na cauda de um avião, antes de um salto realizado em setembro.
De acordo com o relatório do Australian Transport Safety Bureau (ATSB), divulgado em simultâneo com o vídeo, o paraquedista – identificado no relatório como “P1” – conseguiu libertar-se com a ajuda de uma ferramenta especializada chamada hook knife (faca de gancho), antes de aterrar com ferimentos ligeiros.
“Transportar uma faca de gancho – embora não seja um requisito regulamentar – pode salvar vidas em caso de abertura prematura do paraquedas de reserva”, afirmou o comissário-chefe do ATSB, Angus Mitchell, num comunicado da agência.
— ATSB (@atsbgovau) December 10, 2025
O relatório do ATSB indica que o paraquedista se encontrava a cerca de 4.600 metros de altitude, sobre Queensland, juntamente com outros 16 paraquedistas, quando o acidente ocorreu. O paraquedista preparava-se para saltar do avião quando a pega do paraquedas de reserva “ficou presa na cauda e rodou”.
O paraquedas inflou de imediato, segundo o relatório, arrastando o paraquedista para trás e projetando um colega que se encontrava ao seu lado “em queda livre”.
O paraquedas laranja ficou então enredado em torno da cauda do avião e, prossegue o relatório, “P1 ficou suspenso por baixo do estabilizador de cauda”.
“O piloto recordou ter sentido o avião subir subitamente de nariz e ter observado uma rápida diminuição da velocidade”, afirmou Mitchell no comunicado do ATSB.
Inicialmente, o piloto pensou que a aeronave tivesse entrado em perda, continuou Mitchell, “mas, ao ser informado de que havia um paraquedista preso no estabilizador de cauda, reduziu novamente a potência”.
Temendo que o avião estivesse prestes a despenhar-se, o piloto esforçou-se por recuperar o controlo total da aeronave. Um dos membros da tripulação a bordo ordenou aos restantes paraquedistas que saltassem por razões de segurança, e 13 abandonaram o avião, ficando dois a bordo para acompanhar a situação do paraquedista preso.
Entretanto, o paraquedista preso começou a cortar as linhas do paraquedas de reserva com a faca de gancho. O relatório refere que demorou pouco menos de um minuto a cortar 11 linhas, tendo o paraquedista dito mais tarde aos investigadores do ATSB que o processo foi “mais difícil” do que esperava.
Depois de os restantes paraquedistas ainda a bordo terem saltado por razões de segurança, o relatório indica que o piloto “olhou por cima do ombro e viu os restos do paraquedas enrolados na cauda, bem como os danos na borda de ataque do estabilizador horizontal”.
Ao pedir assistência por rádio, o relatório refere que o piloto — que também transportava um paraquedas — informou o controlo de tráfego aéreo de que estava preparado para “abandonar a aeronave” caso “a cauda se soltasse”.
Tal não foi necessário. O relatório indica que o piloto conseguiu aterrar em segurança no aeroporto de Tully, em Queensland, embora o impacto das pernas do paraquedista contra a cauda tenha causado “danos substanciais” no estabilizador.
O Far North Freefall Club, que organizou a expedição de paraquedismo, encaminhou as perguntas da CNN para o diretor executivo da Australian Parachute Federation, Stephen Porter. A CNN tentou contactar Porter para obter comentários.
Dan Brodsky-Chenfeld, campeão mundial de paraquedismo, disse à CNN, na quinta-feira, que já tinha ouvido falar de incidentes semelhantes no passado, mas que nunca tinha visto pessoalmente um paraquedas ficar preso a um avião antes de um salto.
O que torna este caso único, explicou Brodsky-Chenfeld, é o facto de ter sido o paraquedas de reserva a abrir, e não o principal. Normalmente, o paraquedas pode ser libertado através de um sistema de corte específico, mas isso não é possível no caso do paraquedas de reserva.
“Foi um pouco mais complicado”, explicou. “Não é possível libertar um paraquedas de reserva. O paraquedas de reserva está lá para ficar. A única opção nesse momento é usar a faca de gancho e cortar as linhas até se conseguir libertar”
Sarah Fien, investigadora responsável pelo caso, reiterou num vídeo publicado pelo ATSB no YouTube que as facas de gancho podem ser dispositivos “salva-vidas” em incidentes deste tipo.
O relatório refere ainda que o Far North Freefall Club passou a exigir que os paraquedistas transportem facas de gancho e que irá incluir imagens do acidente em seminários de formação.