O Instituto de Conservação de Natureza e Florestas (ICNF) esclareceu esta segunda-feira que “nunca foi proibido o abate de javalis, tendo sido sempre possível efetuar ações de correção de densidade destas populações”. É a resposta à Associativa de Caça de Soutelo da Gamoeda, em Bragança, que na última semana disse esperar há dois anos pela autorização do ICNF para reabrir, “o que dificulta o controlo de javalis que causam prejuízos agrícolas”.

O presidente da associativa, Valdemar Rodrigues, queixou-se à Lusa que há dois anos o ICNF pediu a atualização de documentação, como diz ser habitual, e que até agora o processo continua por concluir.

O ICNF esclarece que “estas ações devem ser requeridas pelos respetivos titulares de direitos dos terrenos afetados” e acrescenta que, “desde setembro de 2024 até ao momento, todos os pedidos de correção de densidade de javalis solicitados na área da Zona de Caça Associativa da Gamoeda foram autorizados por este Instituto, pelo que dizer que não existiu a possibilidade de controlar a densidade da população de javalis não corresponde à verdade”.

Adicionalmente, refere o Instituto de Conservação de Natureza e Florestas, “a Associação Sócio-Cultural, Recreativa e Ambientalista de Soutelo da Gamoeda não cumpriu o prazo para pedir previamente a renovação da concessão da Zona de Caça, o que deveria ter ocorrido antes do seu termo, tendo esta caducado em 29/09/2024. O pedido de renovação apenas deu entrada no ICNF em fevereiro de 2025”.

De acordo com Valdemar Rodrigues, “há várias associativas à espera, até há mais de dois anos, e Soeira [também no concelho de Bragança] é um dos casos”, o que contribuiu para “um furtivismo exagerado”, porque “não há fiscalização”, e também para um custo acrescido para os caçadores.

Valdemar Rodrigues explicou que, devido à associativa estar fechada, os caçadores que dela fazem parte têm de caçar em zonas municipais, “quando há vaga”, e “pagar uma taxa elevada”, que pode ir dos 15 aos 30 euros por dia. Se a associativa estivesse aberta, pagariam apenas uma taxa anual para caçar.

Esta situação, diz o caçador, está também a trazer prejuízos aos agricultores de Soutelo e das aldeias vizinhas, em pleno Parque Natural de Montesinho, devido à falta de controlo do javali.

Um dos agricultores lesados é José Carlos Rodrigues, um dos maiores produtores de castanha do concelho de Bragança, que colhe 30 mil toneladas por ano, e nesta campanha não conseguiu escapar aos estragos causados pelos javalis.

As condições meteorológicas provocaram uma quebra na produção do fruto, mas o agricultor queixa-se também dos milhares de quilos de castanhas comidas pelo javali. “Entre Rabal e Soutelo é uma vergonha. Foi lá que fizeram a criação, aparecem aos 20 e aos 30 javalis nos soutos. Comeram muita castanha”, contou à Lusa, acrescentando que alguns soutos estavam vedados e os animais passaram por baixo da rede.

Vários hectares de castanheiros ficaram lavrados pelos javalis, com a terra toda revirada. A castanha que deixaram já não pode ser apanhada com a máquina, aumentando o prejuízo ao empresário, que teve de pagar a pessoas para lha apanharem.