O verdadeiro espírito natalício é capaz de estar garantido no Flor de Café, em Meixomil, Paços de Ferreira. Inês Neto, a proprietária, decidiu organizar uma ceia de Natal solidária “para que ninguém passe a consoada sozinho ou sem uma refeição quente”. A ideia para a iniciativa, conta à Fugas, é impulsionada pela sua própria história de vida e pela empatia.

Embora nunca tenha passado o Natal sozinha, vicissitudes da vida fizeram com que Inês Neto, 32 anos, se visse sem família, o que a faz compreender “a dor da solidão”.

“A minha é uma história complicada, mas sempre tive amigos que me convidaram para passar o Natal em casa deles, mas a solidão é a pior coisa que existe na vida”, diz à Fugas em conversa telefónica.

A ideia inicial, que já a acompanha há alguns anos, era ir para o Porto para ajudar “quem está só”, mas após conversar com o padre da sua freguesia, resolveu fazer a consoada no seu café. “Também aqui há quem precise de ajuda”, observa.


A ceia no Flor de Café é totalmente gratuita e a inscrição deve ser feita até 22 de Dezembro, para que Inês Neto consiga ter uma estimativa do número de pessoas e organizar os presentes para as crianças — “já estão quatro inscritas e têm de ter um miminho”. “É óbvio que quem aparecer na noite de Natal será acolhido. Vou fazer comida para 20 pessoas a mais”, garante.

Com a notícia a correr, até esta terça-feira, “estão inscritas 36 pessoas”, refere, destacando que nem todas são do concelho de Paços de Ferreira. “Já há pessoas de Guimarães, Maia e Penafiel inscritas”, refere. A capacidade do café é para 70 pessoas, mas, caso se inscrevessem mais, Inês Neto estaria preparada para mudar o local da festa e ir, por exemplo, para um refeitório escolar.




Inês Neto: “Aqui não há vergonha, nem diferenças — somos todos iguais”, escreve no convite de natal
dr

A vergonha de pedir ajuda

A proprietária do Flor de Café acredita que a adesão aumentará nos próximos anos à medida que as pessoas se familiarizem e confiem na iniciativa. “Não acredito que iremos passar o limite neste primeiro ano, porque há muita vergonha, tenho sentido isso ao conversar com várias pessoas. Uma das minhas preocupações é demonstrar que esta é uma iniciativa para todos, sem discriminação racial ou social”, sublinha. “O que eu quero é que tragam um sorriso nos lábios. Vamos ter uma noite linda”, assegura.

Da ementa faz parte, como não poderia deixar de ser, o bacalhau com batata cozida, ovo e hortaliça e, para quem não gosta, haverá leitão, oferecido por um dos fornecedores do Flor de Café. “Comecei por ser só eu, mas recebi apoio — desde alimentos, gás até café — de vários fornecedores e clientes. Graças a Deus, ainda há gente muito boa”, sublinha.




No Flor de Café não vai faltar o espírito natalício, garante-se
dr

Na noite de Natal, Inês Neto também não estará sozinha. Com ela, estarão uma funcionária do Flor de Café e uma cozinheira, que também estariam sós no Natal, e um casal da Maia que se ofereceu para ajudar.

Inês Neto não tem dúvidas: “Estou a ajudar estas pessoas, mas elas farão muito mais por mim.” Espera ainda que a iniciativa sirva de inspiração para outras freguesias e que o “fazer o bem” se multiplique, afinal, “vamos morrer todos da mesma maneira”, lembra.

Quanto à sua ceia, garante, “vai repetir-se nos próximos anos. Quando se trabalha com amor, consegue-se tudo”.