O telemóvel tornou-se quase uma extensão do corpo humano. No entanto, a atenção dedicada à higiene pessoal contrasta frequentemente com a negligência dada ao aparelho que manipulamos centenas de vezes por dia. Por inerência do uso constante, o smartphone é um ponto de concentração de sujidade, que pode danificar o aparelho, e microrganismos, que podem fazer mal ao utilizador.
É fundamental sublinhar que uma limpeza descuidada, com recurso a químicos agressivos ou métodos abrasivos, é o caminho mais rápido para destruir o revestimento oleofóbico do ecrã (que repele a gordura dos dedos) e comprometer a estanquidade do chassis. Um erro muito comum, já que há uma tendência para se recorrer a produtos de limpeza “que temos mais à mão”. Para garantir a higiene e a longevidade do equipamento, recomenda-se adoptar um protocolo metódico, aqui estruturado em cinco passos.
Desligar e “despir” o equipamento
Antes de iniciar qualquer acção de limpeza, é imperativo desligar o telemóvel. O contacto de líquidos, ainda que mínimo, com circuitos eléctricos activos pode conduzir a danos irreversíveis.
De seguida, deve remover-se, se existir, a capa protectora. Este acessório exige uma limpeza autónoma: se for de silicone ou plástico rígido, a lavagem com água fria ou tépida e sabão neutro é eficaz, desde que a secagem seja total antes da recolocação.
A escolha dos materiais de limpeza
A limpeza do ecrã e do chassis exige delicadeza. O erro mais comum reside no recurso a soluções domésticas demasiado corrosivas.
O que usar:
- Pano de microfibra: a ferramenta essencial. Deve ser macio e não-abrasivo (idêntico aos usados nas lentes de óculos) para remover dedadas sem riscar o vidro.
- Líquido de limpeza: a maioria dos fabricantes recomenda apenas água (preferencialmente destilada) ou uma solução com álcool isopropílico a 70%. O líquido nunca deve ser aplicado directamente no telemóvel, mas sim pulverizado no pano até este ficar ligeiramente húmido.
O que evitar a todo o custo:
- Químicos agressivos: lixívia, água oxigenada, vinagre puro ou acetona. Estes produtos degradam o revestimento do ecrã e corroem as borrachas de vedação.
- Materiais ásperos: papel de cozinha, toalhas ou roupa. As fibras destes materiais podem causar microrriscos no vidro.
Atenção às portas e grelhas
As portas de carregamento (USB ou Lightning) e as grelhas dos altifalantes são refúgios para o cotão e poeiras, causando frequentemente problemas de carregamento ou som abafado.
A iFixit vende um kit de limpeza de precisão por cerca de 15 euros
DR
Ao contrário do que se pensa, não se deve usar ar comprimido, pois a pressão excessiva pode danificar componentes internos sensíveis, como microfones.
Como fazer
- Para a porta de carregamento: se houver cotão compactado, a utilização de um palito de madeira (nunca de metal) ou plástico, manuseado com extrema cautela, ajuda a soltar os detritos. A alternativa pode ser um soprador de ar (bombas de borracha, habitualmente disponíveis em lojas de câmaras fotográficas, já que são muito usadas para limpar lentes e sensores das câmaras). Mas atenção: um soprador, não ar comprimido de alta pressão.
- Para altifalantes e microfones: uma escova de dentes de cerdas muito macias, limpa e seca, é a ferramenta ideal. Escovar delicadamente as grelhas ajuda a desalojar a sujidade sem introduzir líquidos ou pressão perigosa.
A higienização profunda
Após a remoção física da sujidade, a desinfecção é o passo que garante a segurança sanitária.
A Apple, a Samsung e a Google actualizaram as directrizes nos últimos anos e validam agora o uso de toalhetes com álcool isopropílico a 70% (ou cloreto de etilo) — os sprays ou toalhetes para limpar as lentes dos óculos são um ponto de referência. Deve passar-se o toalhete suavemente pelas superfícies exteriores, evitando a entrada de humidade nas aberturas. A acção deve ser rápida e a secagem imediata com o pano de microfibra, garantindo que não restam vestígios de líquido. Estes toalhetes são fáceis de encontrar em ópticas, mas já que são muito usados para higienizar óculos.
Manutenção como hábito
A limpeza não deverá ser um evento anual, mas um hábito regular.
- Frequência: uma limpeza superficial do ecrã com microfibra deve ser diária. A desinfecção com álcool isopropílico pode ser feita semanalmente.
- Prevenção: a principal fonte de contaminação são as mãos. Lavar as mãos com frequência e evitar o uso do telemóvel em locais de maior risco de contaminação, como casas de banho, reduz drasticamente a carga bacteriana no dispositivo.