Allan Ahlberg, um introvertido que se tornou um autor querido de livros infantis alegres e campeões de vendas por meio de colaborações com sua esposa, Janet Ahlberg, e outros ilustradores, morreu no dia 29 de julho, na Inglaterra. Ele tinha 87 anos. Sua morte foi anunciada pela editora Penguin Random House, que não informou o local exato nem a causa.

Quando jovem, Ahlberg teve uma série de empregos solitários, incluindo o de coveiro. “Eu estava procurando um trabalho ao ar livre onde me deixassem em paz”, disse ao jornal britânico The Independent, em 2008.

“Me tornei coveiro por um processo de eliminação”, contou. “Já tinha sido ajudante de encanador, soldado e carteiro.”

Mas ele sonhava em ser escritor.

“Eu tinha todas aquelas noções românticas do terno branco e do chapéu panamá”, disse em uma entrevista ao The Guardian, em 2006. “Todas aquelas imagens à la Somerset Maugham, mas sem nenhuma palavra para sustentá-las.”

Foi apenas aos 22 anos, enquanto estudava no Sunderland Teacher Training College (hoje parte da Universidade de Sunderland), que conheceu Janet Hall, sua futura esposa, e se sentiu inspirado a realizar seu sonho.

O casal se casou em 1969, e Janet Ahlberg, uma artista cansada de ilustrar livros de artesanato “faça você mesmo”, o incentivou a escrever uma história que ela pudesse ilustrar. Assim começou uma carreira de cinco décadas que resultou em cerca de 150 livros. Antes de Janet morrer de câncer de mama, aos 50 anos, em 1994, eles colaboraram em 37 desses livros, incluindo “Pêssego, pera, ameixa no pomar”, “O carteiro chegou”, “A grande caixa de livrinhos do bebê” e “O carteiro encolheu”. O primeiro foi lançado no Brasil pela Moderna, e os três últimos pela Companhia das Letrinhas.

'O carteiro chegou', livro de Allan Ahlberg com ilustrações de Janet Ahlberg — Foto: Divulgação/Cia das Letras ‘O carteiro chegou’, livro de Allan Ahlberg com ilustrações de Janet Ahlberg — Foto: Divulgação/Cia das Letras

A colaboração deles foi “uma das parcerias conjugais mais importantes e duradouras da literatura infantil britânica moderna”, escreveu o Sydney Morning Herald em 2011.

Ainda assim, o casal recebeu sua cota de cartas de rejeição — por 18 meses seguidos.

Então, em uma única semana, três manuscritos foram aceitos por diferentes editoras: The Old Joke Book (1976), The Vanishment of Thomas Tull (1977) e Burglar Bill (1977).

O livro “O carteiro chegou” foi inspirado pela filha pequena do casal, Jessica, que se divertia brincando com a correspondência enquanto sentada na cadeirinha de bebê. O livro incluía envelopes em miniatura contendo cartas para o Lobo Mau e outros personagens de contos de fadas, incluindo uma de Cachinhos Dourados pedindo desculpas aos Três Ursos pela invasão.

“Pêssego, pera, ameixa no pomar” e “O Natal do carteiro” receberam a medalha Kate Greenaway, concedida pela British Library Association, que reconhece livros infantis ilustrados de destaque. Em 2007, “Pêssego, pera, ameixa no pomar” foi eleito uma das dez melhores obras publicadas nos 50 primeiros anos da medalha.

Dois dos livros de Ahlberg — Funnybones (1980), em colaboração com sua esposa sobre uma família de esqueletos, e Woof! (1986), sobre um menino que se transforma em cachorro, ilustrado por Fritz Wegner — foram adaptados para a televisão na Inglaterra.

Em um artigo de 1991 no The New York Times Book Review, Daniel Menaker escreveu que em “O Natal do carteiro”, uma continuação que entrou na lista de mais vendidos do Times, “os autores ampliaram os segredos do sucesso do primeiro livro — inteligência, detalhes, surpresas e humor”.

Após a morte de Janet, que encerrou uma colaboração de 20 anos, Allan Ahlberg trabalhou com outros ilustradores, como Raymond Briggs, Bruce Ingman e sua filha, Jessica Ahlberg, que fez as ilustrações de “Half a Pig” e “The Goldilocks Variations”.

Em uma homenagem recente na rede social X, Michael Rosen, autor e professor de literatura infantil na Goldsmiths, Universidade de Londres, escreveu: “Você foi um pioneiro da grande literatura infantil, tanto em livros ilustrados quanto em poesia”, acrescentando: “Meus filhos amaram seus livros. E eu também amava — e ainda amo.”

George Allan Ahlberg nasceu em 5 de junho de 1938, filho de mãe solteira, em Croydon, no sul de Londres. Cresceu em West Midlands com pais adotivos que o encontraram em um orfanato. Seu pai era operário; sua mãe, faxineira de escritórios e casas.

'A grande caixa de livrinhos do bebê', de Allan Ahlberg, com ilustrações de Janet Ahlberg — Foto: Divulgação/Companhia das Letrinhas ‘A grande caixa de livrinhos do bebê’, de Allan Ahlberg, com ilustrações de Janet Ahlberg — Foto: Divulgação/Companhia das Letrinhas

“Meus pais me amavam e fizeram um grande favor ao me tirar de um orfanato”, lembrou Ahlberg ao The Guardian. “Mas levei muitos tapas, não tinha livros e quase nenhuma conversa.”

Ele disse que “Peepo!”, um livro ilustrado sobre um bebê descobrindo o mundo, e “The Boyhood of Burglar Bill”, um livro de 2006 para crianças mais velhas ambientado nos anos 1950 em West Midlands, eram autobiográficos.

No ensino médio, contou ao The Independent em 2006, “A nota mais alta que recebi da professora de inglês, Srta. Scriven, foi sete de vinte. Isso porque ela dava pontos por caligrafia, ortografia e pontuação, mas eu escrevia com tanta empolgação que ela se deparava com uma bagunça cheia de tinta.”

Após se formar aos 17 anos e cumprir três anos de serviço militar obrigatório, Ahlberg foi convencido por seu chefe no cemitério a superar a timidez e tornar-se professor do ensino fundamental. Para isso, ingressou na faculdade de formação de professores em Sunderland.

Flip 2025: veja imagens da festa literária que toma conta de Paraty Tudo pronto em Paraty para o início da Flip 2025 — Foto: Márcia Foletto Tudo pronto em Paraty para o início da Flip 2025 — Foto: Márcia Foletto

1 de 15
Tudo pronto em Paraty para o início da Flip 2025 — Foto: Márcia Foletto

Arnaldo Antunes faz a abertura da Flip 2025 em fala sobre Leminski, autor homenageado da edição — Foto: Alexandre Cassiano Arnaldo Antunes faz a abertura da Flip 2025 em fala sobre Leminski, autor homenageado da edição — Foto: Alexandre Cassiano

2 de 15
Arnaldo Antunes faz a abertura da Flip 2025 em fala sobre Leminski, autor homenageado da edição — Foto: Alexandre Cassiano

Pular

X de 15
Publicidade

Paraty lotada na primeira noite da Flip 2025 — Foto: Alexandre Cassiano Paraty lotada na primeira noite da Flip 2025 — Foto: Alexandre Cassiano

3 de 15
Paraty lotada na primeira noite da Flip 2025 — Foto: Alexandre Cassiano

Flip 2025: os poetas Fabrício Corsaletti e Lilian Sais na Mesa 2, "Caprichos e relaxos" — Foto: Alexandre Cassiano

4 de 15
Flip 2025: os poetas Fabrício Corsaletti e Lilian Sais na Mesa 2, “Caprichos e relaxos” — Foto: Alexandre Cassiano

Pular

X de 15
Publicidade

Flip 2025: Anabela Mota Ribeiro (esq.) e Neige Sinno na Mesa 3, "Tristes Tramas" — Foto: Alexandre Cassiano

5 de 15
Flip 2025: Anabela Mota Ribeiro (esq.) e Neige Sinno na Mesa 3, “Tristes Tramas” — Foto: Alexandre Cassiano

Vista aérea do centro histórico de Paraty, no segundo dia da Flip 2025 — Foto: Márcia Foletto

6 de 15
Vista aérea do centro histórico de Paraty, no segundo dia da Flip 2025 — Foto: Márcia Foletto

Pular

X de 15
Publicidade

O marfinense Gauz, atração da Flip 2025 — Foto: Alexandre Cassiano

7 de 15
O marfinense Gauz, atração da Flip 2025 — Foto: Alexandre Cassiano

Caetano Galindo na Flip 2025 — Foto: Márcia Foletto

8 de 15
Caetano Galindo na Flip 2025 — Foto: Márcia Foletto

Pular

X de 15
Publicidade

O GLOBO publica em Paraty um jornal especialmente para a Flip — Foto: Márcia Foletto

9 de 15
O GLOBO publica em Paraty um jornal especialmente para a Flip — Foto: Márcia Foletto

Flip 2025: Pé de livro, uma homenagem a Ziraldo na Flipinha — Foto: Márcia Foletto

10 de 15
Flip 2025: Pé de livro, uma homenagem a Ziraldo na Flipinha — Foto: Márcia Foletto

Pular

X de 15
Publicidade

A escritora mexicana Cristina Rivera Garza, atração da Flip 2025 — Foto: Márcia Foletto

11 de 15
A escritora mexicana Cristina Rivera Garza, atração da Flip 2025 — Foto: Márcia Foletto

Centro Histórico de Paraty no segundo dia da Flip 2025 — Foto: Márcia Foletto

12 de 15
Centro Histórico de Paraty no segundo dia da Flip 2025 — Foto: Márcia Foletto

Pular

X de 15
Publicidade

O escritor português Valter Hugo Mãe, atração da Flip 2025 — Foto: Alexandre Cassiano

13 de 15
O escritor português Valter Hugo Mãe, atração da Flip 2025 — Foto: Alexandre Cassiano

Flip 2025: as escritoras Alia Trabucco Zerán (no meio) e Lilia Guerra (esq.) na mesa 4, “A casa, o mundo” — Foto: Alexandre Cassiano

14 de 15
Flip 2025: as escritoras Alia Trabucco Zerán (no meio) e Lilia Guerra (esq.) na mesa 4, “A casa, o mundo” — Foto: Alexandre Cassiano

Pular

X de 15
Publicidade

Flip 2025: as autoras Mar Becker e Monique Malcher (direita) na mesa 5, 'Todas as formas' — Foto: Márcia Foletto

15 de 15
Flip 2025: as autoras Mar Becker e Monique Malcher (direita) na mesa 5, ‘Todas as formas’ — Foto: Márcia Foletto

Evento é realizado na cidade de 30 de julho a 3 de agosto

Em 1997, Ahlberg reuniu as obras da esposa em “Janet’s Last Book”. Escolheu uma nova editora, a Walker Books, e mais tarde se casou com sua editora lá, Vanessa Clarke.

Ela sobrevive a ele, junto com sua filha, Jessica, e duas enteadas, Saskia e Johanna.

Recusa de prêmio patrocinado pela Amazon

Ahlberg, que escrevia à mão em um galpão no jardim de sua casa em Leicester, no Reino Unido, resumiu seu estilo para o jornal britânico The Guardian em 2006: “Gosto da palavra ‘estupefato’ (flabbergasted, em inglês), gosto do nome Horace, e pareço escrever bastante sobre salsichas.” (Salsichas tiveram papel de destaque em “The Runaway Dinner”, livro publicado naquele ano e ilustrado por Ingman.)

Em 2014, Ahlberg recusou um prêmio de reconhecimento vitalício da Book Trust, uma instituição beneficente de incentivo à leitura infantil, por ser patrocinado pela Amazon, que ele acreditava não pagar sua justa parte de impostos. Seu último livro ilustrado, “Under the Table”, foi publicado em 2023.

“Só porque um livro é pequeno e seus leitores são pequenos não significa que ele não possa ser perfeito”, disse Ahlberg ao The Guardian em 2006. “Na sua própria escala, ele pode ser tão bom quanto Tolstói ou Jane Austen.”