Uma pesquisa recente indica que o material vulcânico acumulado no fundo do oceano possui a capacidade de armazenar quantidades significativas de dióxido de carbono, funcionando como uma espécie de “esponja” gigante. Este estudo, publicado no dia 24 de novembro na revista Nature Geoscience, analisa núcleos coletados na região sul do Oceano Atlântico e revela que essa rocha vulcânica armazena entre duas a 40 vezes mais dióxido de carbono em comparação com a crosta superior do fundo marinho.

O ciclo do carbono no planeta ocorre ao longo de milhões de anos, envolvendo tanto a atmosfera quanto a crosta terrestre. A atividade vulcânica em dorsais meso-oceânicas, que são cadeias montanhosas subaquáticas formadas pelo afastamento das placas tectônicas, libera dióxido de carbono para os oceanos e para a atmosfera, além de criar rochas vulcânicas no fundo do mar. No entanto, os oceanos também atuam como um reservatório para esse gás.

Rosalind Coggon, coautora do estudo e pesquisadora da crosta oceânica na Universidade de Southampton, no Reino Unido, enfatiza que “as bacias oceânicas não são apenas um recipiente para a água do mar”. Segundo Coggon, a água do mar penetra nas fendas das lavas resfriadas por milhões de anos, reagindo com as rochas e transferindo elementos entre o oceano e a crosta terrestre. Esse processo resulta na remoção do CO2 da água e seu armazenamento em minerais como o carbonato de cálcio contidos nas rochas.

O material vulcânico rico em minerais, denominado brecha, pode oferecer informações sobre como processos submarinos influenciaram as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono ao longo das eras e suas implicações sobre o clima global.

Para o estudo, Coggon e sua equipe realizaram perfurações profundas na crosta terrestre no fundo do Oceano Atlântico Sul a fim de coletar amostras para análise adicional. “Nossos esforços de perfuração recuperaram os primeiros núcleos desse material depois que ele passou dezenas de milhões de anos sendo transportado pelo fundo do mar enquanto as placas tectônicas da Terra se afastavam”, destacou Coggon, de acordo com o portal Live Science.

Os pesquisadores coletaram núcleos de uma crosta com 61 milhões de anos que incluía sedimentos e brechas. Essas amostras apresentavam características porosas e fragmentadas, com crescimento de carbonato de cálcio nos espaços abertos e entre os fragmentos dos núcleos.

A análise revelou que o dióxido de carbono convertido em minerais carbonatados representava em média 7,5% do peso dos núcleos analisados. Este valor é consideravelmente superior ao encontrado em amostras previamente coletadas da crosta superior do oceano. Os pesquisadores estimaram que as brechas poderiam armazenar até 20% do dióxido de carbono liberado durante a formação da crosta subjacente.

Segundo Coggon, “as brechas funcionam como como uma esponja para o carbono no ciclo do carbono a longo prazo”. A capacidade das brechas para armazenar dióxido de carbono depende da quantidade desse gás presente nos oceanos, da espessura das brechas no fundo do mar e da velocidade com que as placas tectônicas se afastam nas dorsais meso-oceânicas. Alterações passadas nesses fatores poderiam ter influenciado o papel das brechas no ciclo do carbono e no clima da Terra.

Os pesquisadores ressaltam que a quantidade adicional de carbono armazenada nos materiais vulcânicos ainda não havia sido contabilizada anteriormente. As novas descobertas têm potencial para aprimorar a compreensão dos mecanismos que controlaram o clima terrestre ao longo da história geológica.


Giovanna Gomes

Giovanna Gomes é jornalista e estudante de História pela USP. Gosta de escrever sobre arte, arqueologia e tudo que diz repeito à cultura e à história do ser humano.